sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Paixões são defenestradas no melhor filme do ano

Amor que salta aos olhos
Janelas da alma, espelhos do mundo. Pelos olhos, entram imagens e saem mensagens.  Expõem sentimentos. Guardam segredos. Trazem emoção.
Perdão, leitor, leitora, não resisti ao preâmbulo poético para falar da sétima arte. Ou oitava - não sei bem em qual classificação o cinema se encontra atualmente, tamanha a ruindade exposta nas telas na presente década.
E quando encontramos uma obra de arte perdida entre tantas produções descartáveis, um Neymar em meio a tantos pernas-de-pau, não se pode deixar de exercer o ofício da crítica cinematográfica. Nem tanto crítica, diante da minha confessada parcialidade em rasgar elogios a uma película que me prendeu na cadeira do início ao fim e que me deixou sem fôlego por alguns instantes. É assim que acontece diante do cinema de qualidade, não é mesmo?
Voltemos aos olhos. Ou melhor, a “O segredo dos seus olhos”, produção hispano-argentina de 2009, vencedora do Oscar de melhor filme estrangeiro. Bem dirigido por Juan José Campanella, com ótimos atores e um enredo de arrasar corações e mentes. Está disponível nas melhores locadoras do ramo e na internet, para quem sabe dominar o P2P.
Pelas janelas da alma dos personagens principais, paixões são defenestradas. Postas para fora. Por essas mesmas janelas da alma, registradas numa foto antiga, um crime é desvendado. E o que temos são almas aflitas que trafegam do passado ao presente, do presente ao passado, pela estrada da memória, em busca do tempo perdido.
Em resumo, a história é a seguinte: Benjamin Esposito (Ricardo Darín), oficial de justiça de um tribunal penal argentino, aposenta-se e se dedica a contar em livro uma história trágica, ocorrida em 1974. Como membro do Departamento de Justiça, participou da investigação do estupro e assassinato de uma bela jovem, casada com Ricardo Morales (Pablo Rago).
Na época, Benjamin prometeu ao marido da vítima ajudar a encontrar o culpado. Ele contou com a ajuda do alcoolista Pablo Sandoval (Guillermo Francella), colega de trabalho, e com Irene Menéndez Hastings (Soledad Villamil), sua chefe imediata, por quem nutre uma paixão secreta.
Mais não conto. Mas destaco o personagem Pablo Sandoval como o coadjuvante perfeito. Cabe a ele fazer o contraponto do humor. Sua intuição, muitas vezes abastecida a álcool, desvenda um dos grandes mistérios do crime. E mostra até onde vai a sua lealdade ao grande amigo.
Relato também as densas trocas de olhares entre Benjamin e Irene, que contam boa parte do filme. A paixão entre eles, ao longo do tempo, transcorre como duas retas paralelas, que por mais próximas, só irão se encontrar no infinito. Irá o casal contrariar os conceitos da Geometria?
Para finalizar, lavro aqui o meu protesto contra o Oscar 2010.  A principal estatueta deveria seguir para a Argentina, não só para fazer justiça ao melhor filme do ano. Mas também como uma forma de fazer a guerra ao terror (aquilo que estão chamando de "cinema" nos últimos anos).

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