Há cem anos,
o time dos carroceiros, maloqueiros, operários explorados e gente que se virava
na vida conquistava o seu primeiro título, após a vitória por 4 a 0 diante do time do Campos Elíseos.
Foi uma
campanha gloriosa: dez jogos, dez vitórias. Neco, o primeiro grande ídolo,
aquele que ameaçava bater de cinta em juiz que roubava, tornou-se o artilheiro
da competição, com 12 gols.
Mais que uma
simples taça, foi a consagração do pensamento igualitário de um grupo que,
quatro anos antes, decidira meter o pé-rapado na porta da elite que dominava o
futebol da época, ajudando a popularizar o chamado esporte bretão, dentro e
fora do campo.
"Esse é
o clube do povo e é o povo que fará esse time", disse o presidente do
Corinthians Paulista, Alexandre Magnani, ao repórter do canal ESPN; numa das
partidas, o time entrou em campo com uma inscrição na camiseta anunciando a
"democracia corinthiana"; na jogo final, aconteceu o maior
deslocamento humano em tempo de paz, que invadiu o Rio de Janeiro e lotou o
Maracanã; outra massa humana tomou conta do aeroporto de Cumbica na despedida
do time em viagem para o Japão; um carnaval fora de época tomou as ruas de São
Paulo após 23 anos de jejum; outro carnaval fora de época tomou as ruas de
Tóquio para comemorar o bi mundial; um visionário, em pleno campo da Ponte
Grande, disse para quem quisesse ouvir: ainda teremos mármore em nosso
estádio...
(E, ao fundo,
diante de tantas imagens misturadas, das mais variadas épocas, a torcida
cantava: não para, não para, não para...)