segunda-feira, 23 de março de 2015

Esmagar...matar...destruir...


A pesquisa Datafolha, que aponta a reprovação recorde de Dilma (62%), é a maior prova de que a manifestação de domingo foi um fiasco. Houvesse de fato tanta fúria entre os descontentes com a atuação do governo, a quantidade de pessoas nas ruas deveria ser muito maior, inclusive com a participação de muitos eleitores da petista.

E, com certeza, não foi o que aconteceu. Segundo dados mais realistas, cerca de 800 mil pessoas compareceram às manifestações em todo o Brasil. Apenas na cidade de SP, 210 mil. Mas, quem eram essas pessoas?

Pesquisas do Datafolha e do jornal Zero Hora apontaram que a maioria esmagadora dos manifestantes em SP e Porto Alegre era formada por eleitores do Aécio. Os piores. Bem "esmagadora", aliás, no sentido mais literal da palavra, dada a virulência com que protestaram nas ruas.

Algumas fotos e vídeos me fizeram lembrar de um episódio da série Perdidos no Espaço, em que Idak, um androide alienígena, fora programado para esmagar, matar e destruir adversários, não necessariamente nesta ordem. Ele não dialogava. Apenas repetia o seu bordão: esmagar...matar...destruir!

No quesito "poder aquisitivo", houve também uma constatação óbvia: 41% dos participantes tinham renda superior a 10 salários mínimos. O mesmo resultado foi obtido em Porto Alegre.

Não havia nas ruas, portanto, cidadãos que tenham sentido os efeitos das mudanças na concessão de benefícios, como pensão por morte, auxílio doença, restrições ao seguro-desemprego etc, com reflexos negativos nos índices de aprovação do governo, em conjunto com os reajustes nas tarifas e nos preços de alguns produtos.

Poderiam, por exemplo, reclamar das contas de energia elétrica ou do preço dos combustíveis, que mexem com os valores típicos de um cidadão "classe média". Ou com a falta de água, no caso paulistano. No entanto, não havia um só cartaz alusivo ao tarifaço ou ao racionamento. O mote era a corrupção, apenas e tão somente do governo federal.

As outras "corrupções" (trensalão, lista de Furnas, privataria tucana) foram poupadas, assim como outras instâncias de poder: legislativo, prefeituras e governos estaduais. Uma atitude grave, que pode ser entendida como um ato em favor da impunidade dos seus ídolos na política brasileira.

Tão grave quanto as soluções apontadas para resolver o problema: impeachment, golpe militar e até a eliminação física dos adversários políticos, que resultaram num festival de cenas aterrorizantes, de fazer corar Zé do Caixão, Bella Lugosi e Vincent Price.

A imagem do enforcamento de dois bonecos, pendurados num viaduto em Jundiaí, representando Lula e Dilma, caracteriza muito bem o ódio que circulou pelas ruas do Brasil (esmagar, matar, destruir...). O apelo à intervenção militar se fez presente em vários centros, trazendo à luz os subterrâneos da parcela intolerante da nossa sociedade.

E que parcela! Em Curitiba, por exemplo, pesquisa publicada pelo jornal Gazeta do Povo mostra que 46% dos participantes da manifestação de domingo defenderiam uma “intervenção militar provisória” no país. 15% defenderiam a volta da ditadura militar. Esses dados rompem com a ideia de que uma pequena minoria é favorável a um golpe armado no Brasil.

Entretanto, mesmo com todo o incentivo da velha mídia, com todos os recursos financeiros despejados por entes obscuros, com o apoio decisivo de federações que adiam partidas de futebol, de governadores que liberam catracas e de polícias militares que exageram nos números, podemos considerar que a manifestação fracassou em todos os seus aspectos, apesar dos confetes e serpentinas lançados pelos telejornais e impressos.

A imensa maioria dos descontentes, com muitos eleitores de Dilma no meio, ficou em casa. Esse é o dado mais significativo dos números apresentados até aqui. Apontam que o descontentamento será passageiro se o desempenho do governo melhorar.

Eu mesmo não aprovarei Dilma com louvor enquanto não tocar em questões como a regulação econômica da mídia e a forma como se comunica com a sociedade. Projetos de lei de combate à corrupção são importantes, mas creio que seria o momento de trabalhar também pela aprovação de projetos de interesse dos trabalhadores.

O fim do fator previdenciário é um bom tema para levar adiante. Há outro, bem polêmico, que cairia como uma bomba nas hostes golpistas deste Brasil varonil e como uma bênção na classe trabalhadora, nos sindicatos e nas centrais: a redução da jornada de trabalho. A PEC 231/95 está há 20 anos na fila para ser votada. Talvez seja a hora de botar pilha nos aliados neste legislativo lento, gradual, inseguro e também achacador, segundo o ex-ministro Cid Gomes.

Lembro que outra manifestação da direita brasileira está agendada para o dia 12 de abril. Pode ser outro fracasso retumbante, mesmo revestido de "sucesso" pela mídia. Mas pode, sim, angariar mais apoio entre os descontentes, num processo de crescimento que afetaria a governabilidade irremediavelmente.

Fosse eu a ocupar o posto de conselheiro da presidenta, daria muita importância ao mais famoso bordão do nosso querido robô de Perdidos no Espaço: Perigo! Perigo! Para o governo não ficar, até o fim do mandato, perdido no espaço.

Em tempo: nossos heróis da nave Júpiter e conseguiram desprogramar Idak, que virou um cara do bem. Do tipo: plantar, colher, dividir e consumir. Funcionou com androides. Mas, com alguns humanos, a tarefa é bem mais difícil!

Idak, programado para esmagar, matar, destruir! Que medo!

domingo, 22 de março de 2015

Imprensa, eu sei o que você fez nos verões passados


Nada como um dia depois do outro. Ou uma página depois da outra...

Na esteira das denúncias de corrupção no País, os arautos da moralidade, proprietários da nossa imprensa impoluta, transformaram-se em personagens principais de escândalos que envolvem dólares em contas secretas e propinas de empreiteiras.

Justo eles, que passaram anos apontando o dedo acusatório à política em geral e a alguns partidos em particular; que abriram mão da missão de bem informar a sociedade e passaram a se sentir com mais poderes do que a própria República: ora agiam como juízes em casos de corrupção no País (mas não em todos), ora como partido político de oposição, que lhes rendeu a sigla PIG (Partido da Imprensa Golpista).

Aí reside toda a ironia do caso, que mereceria uma manchete estupenda: "PIG mantém contas secretas na Suíça. Dirigentes negam irregularidades". Para este momento, dou um triste "kkkkkk". Divertido, porém trágico. Ruim para eles, é claro, pois a CPI da lista do HSBC quer quebrar o sigilo bancário dos envolvidos. E ruim para nós também, que tantas vezes acreditamos nas boas intenções dessa gente que nada mais fez do que manipular a notícia em favor dos seus.

Para facilitar o entendimento do escândalo, fatiei a informação em dez tópicos.

1) documentos em posse da PF comprovam que Reinaldo Azevedo, da Veja, Folha de SP e Jovem Pan, recebeu R$ 50 mil de propina da Camargo Correa;

2) José Roberto Guzzo, colunista da Veja, aparece na relação de contas secretas do Banco HSBC da Suíça, a famosa lista do HSBC;

3) no total, a lista traz os nomes e os respectivos números de conta de 22 empresários de mídia e 7 jornalistas, por enquanto. Virão mais novidades nos próximos dias;

4) as empresas cujos donos mantêm contas secretas são Folha de São Paulo, Globo, Bandeirantes, Jovem Pan, SBT e mídias de outros Estados;

5) omitir contas bancárias na declaração de Imposto de Renda é crime de sonegação. Ainda mais quando há valores na casa dos milhões. Depositar dinheiro em contas do exterior sem declará-las é evasão fiscal;

6) sim, as contas secretas podem ter servido para receber propinas, lavagem de dinheiro, caixa 2 de campanhas políticas etc

7) Todos os jornalistas e empresários citados sempre tentaram se mostrar à sociedade como os maiores defensores da moralidade, na tentativa de passar a imagem de cidadãos acima de qualquer suspeita;

8) Sim, existe muita corrupção no País em todos os setores da sociedade, inclusive na imprensa, cujos veículos de informação são poderosas armas para destruir reputações de adversários (quando repete o mesmo assunto em várias edições, com destaque) e proteger correligionários (omitindo a informação ou escondendo a notícia em página menos nobres, dando o assunto por encerrado após a publicação);

9) Sim, toda corrupção merece a nossa indignação. Mas a apuração dos crimes deveria ser recebida com muita satisfação, pois, antigamente, era tudo encoberto. Hoje, não (tantas rimas dariam um samba-enredo, rs).

10) Esqueci de dizer: o apresentador Ratinho, do SBT, também está na lista.


Camuflagem


É triste ver pessoas que sentiram na pele o horror de uma ditadura militar e hoje se prestam a dar apoio a golpes de Estado.
É triste ver jornalista das antigas fomentar um atentado à democracia.
É triste tanta gente da minha época não se lembrar da brutal recessão dos anos 70, provocada pela incompetência dos militares (nos finais de semana, os postos de gasolina fechavam...)
Dá tristeza ver que essa gente não mostrou às novas gerações o que significa perder a liberdade ou ser perseguido por manifestar a própria opinião.
Talvez esse comportamento explique porque a ditadura durou tanto tempo no Brasil, com resquícios até hoje. Ao contrário dos que arriscaram a vida para combater o regime, como a moça da foto, esse povo, que sempre se achou meio de esquerda, não se empenhou nesta causa; e alguns o levaram meio assim, na malemolência, na maciota.
Alguns até se auto-exilaram em Paris sem nenhum arranhão, ulalá!
Mas, na transição - lenta, gradual e segura - foram os primeiros a posar para as fotografias.
No fundo, no fundo...não passam hoje de bolsonaros camuflados.


quarta-feira, 4 de março de 2015

SPTV carrega nas tintas...e se dá mal!



O telejornal SPTV, especialmente a 1ª edição, com César Tralli, perdeu completamente sua função primordial de informar o espectador com a qualidade e o aprofundamento que o bom jornalismo exige.

Hoje se limita a deformar opiniões, com três características principais: má vontade permanente com a prefeitura paulistana, falta de rigor quando os problemas acontecem no âmbito do governo do Estado e uma linguagem populista que transforma o âncora em mais um "paladino da justiça", "defensor dos pobres e oprimidos" e "zelador do dinheiro público" no nível dos datenas e sheerazades da vida televisiva. 

Invariavelmente, o alvo é sempre o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.

Um exemplo: Diante da falta de pessoal para realizar podas de árvore, Tralli é capaz de dizer coisas como "porque a prefeitura não usa o dinheiro arrecadado pelos radares da cidade para contratar mais funcionários"?

Obviamente, ele não é o único responsável pela parcialidade do telejornal, pois cumpre ordens que vêm de cima. Mas, pelo jeito, profissional aplicado que é, tenta ir além das ordens que recebe, emitindo comentários rasos, típicos de uma cervejada entre amigos mal informados num boteco qualquer. 

E, como todo botequeiro que se preze, tenta grudar no prefeito a fama de "pintor" por abusar das tintas em ciclovias, passagens de pedestre, muros de arrimo dos arcos do Jânio etc. Evidentemente, há uma tentativa de repetir com Haddad o que foi feito com Marta Suplicy em 2004, cujo apelido - Martaxa - a acompanhou até perder a eleição para Kassab.

Tremenda barriga

Pois foi esta fixação em relacionar o prefeito ao uso exagerado de tintas que levou o SPTV do dia 28 de fevereiro - 2ª edição (excepcionalmente apresentado por Tralli) a cometer uma barriga, jargão jornalístico usado para definir notícia falsa ou errada. A matéria, realizada em frente à construção de uma ciclovia no canteiro central da avenida Paulista, foi toda centrada no desperdício de tinta vermelha que escorreu pela calçada após a chuva.


Para o âncora, a situação era “inacreditável”. E encerrou falando sobre o desperdício de tinta.

Porém, de acordo com o site Vá de Bike, não havia tinta no local. A ciclovia está sendo construída com concreto pigmentado na cor vermelha, já utilizado em outras localidades de São Paulo (não, a cor das ciclovias não é homenagem ao PT. Nem propaganda subliminar como alguns "especialistas" chegaram a afirmar. É padrão nacional. Mas, as colunas do Masp...talvez, rsrs). 

Confira o texto completo sobre a reportagem furada do SPTV neste link: "A tinta da ciclovia da Avenida Paulista escorreu para o asfalto?"

Confundir tinta com concreto pigmentado é coisa do PIG. Foto: Vera Penteado Borges