A pesquisa
Datafolha, que aponta a reprovação recorde de Dilma (62%), é a maior prova de
que a manifestação de domingo foi um fiasco. Houvesse de fato tanta fúria entre
os descontentes com a atuação do governo, a quantidade de pessoas nas ruas
deveria ser muito maior, inclusive com a participação de muitos eleitores da
petista.
E, com
certeza, não foi o que aconteceu. Segundo dados mais realistas, cerca de 800
mil pessoas compareceram às manifestações em todo o Brasil. Apenas na cidade de
SP, 210 mil. Mas, quem eram essas pessoas?
Pesquisas
do Datafolha e do jornal Zero Hora apontaram que a maioria esmagadora dos
manifestantes em SP e Porto Alegre era formada por eleitores do Aécio. Os
piores. Bem "esmagadora", aliás, no sentido mais literal da palavra,
dada a virulência com que protestaram nas ruas.
Algumas
fotos e vídeos me fizeram lembrar de um episódio da série Perdidos no Espaço,
em que Idak, um androide alienígena, fora programado para esmagar, matar e
destruir adversários, não necessariamente nesta ordem. Ele não dialogava.
Apenas repetia o seu bordão: esmagar...matar...destruir!
No quesito
"poder aquisitivo", houve também uma constatação óbvia: 41% dos
participantes tinham renda superior a 10 salários mínimos. O mesmo resultado
foi obtido em Porto Alegre.
Não havia
nas ruas, portanto, cidadãos que tenham sentido os efeitos das mudanças na
concessão de benefícios, como pensão por morte, auxílio doença, restrições ao
seguro-desemprego etc, com reflexos negativos nos índices de aprovação do
governo, em conjunto com os reajustes nas tarifas e nos preços de alguns
produtos.
Poderiam,
por exemplo, reclamar das contas de energia elétrica ou do preço dos
combustíveis, que mexem com os valores típicos de um cidadão "classe
média". Ou com a falta de água, no caso paulistano. No entanto, não havia
um só cartaz alusivo ao tarifaço ou ao racionamento. O mote era a corrupção,
apenas e tão somente do governo federal.
As outras
"corrupções" (trensalão, lista de Furnas, privataria tucana) foram
poupadas, assim como outras instâncias de poder: legislativo, prefeituras e
governos estaduais. Uma atitude grave, que pode ser entendida como um ato em
favor da impunidade dos seus ídolos na política brasileira.
Tão grave
quanto as soluções apontadas para resolver o problema: impeachment, golpe
militar e até a eliminação física dos adversários políticos, que resultaram num
festival de cenas aterrorizantes, de fazer corar Zé do Caixão, Bella Lugosi e
Vincent Price.
A imagem
do enforcamento de dois bonecos, pendurados num viaduto em Jundiaí,
representando Lula e Dilma, caracteriza muito bem o ódio que circulou pelas
ruas do Brasil (esmagar, matar, destruir...). O apelo à intervenção militar se
fez presente em vários centros, trazendo à luz os subterrâneos da parcela
intolerante da nossa sociedade.
E que
parcela! Em Curitiba, por exemplo, pesquisa publicada pelo jornal Gazeta do
Povo mostra que 46% dos participantes da manifestação de domingo defenderiam
uma “intervenção militar provisória” no país. 15% defenderiam a volta da ditadura
militar. Esses dados rompem com a ideia de que uma pequena minoria é favorável
a um golpe armado no Brasil.
Entretanto,
mesmo com todo o incentivo da velha mídia, com todos os recursos financeiros
despejados por entes obscuros, com o apoio decisivo de federações que adiam
partidas de futebol, de governadores que liberam catracas e de polícias
militares que exageram nos números, podemos considerar que a manifestação
fracassou em todos os seus aspectos, apesar dos confetes e serpentinas lançados
pelos telejornais e impressos.
A imensa
maioria dos descontentes, com muitos eleitores de Dilma no meio, ficou em casa.
Esse é o dado mais significativo dos números apresentados até aqui. Apontam que
o descontentamento será passageiro se o desempenho do governo melhorar.
Eu mesmo
não aprovarei Dilma com louvor enquanto não tocar em questões como a regulação
econômica da mídia e a forma como se comunica com a sociedade. Projetos de lei
de combate à corrupção são importantes, mas creio que seria o momento de trabalhar
também pela aprovação de projetos de interesse dos trabalhadores.
O fim do
fator previdenciário é um bom tema para levar adiante. Há outro, bem polêmico,
que cairia como uma bomba nas hostes golpistas deste Brasil varonil e como uma
bênção na classe trabalhadora, nos sindicatos e nas centrais: a redução da
jornada de trabalho. A PEC 231/95 está há 20 anos na fila para ser votada.
Talvez seja a hora de botar pilha nos aliados neste legislativo lento, gradual,
inseguro e também achacador, segundo o ex-ministro Cid Gomes.
Lembro que
outra manifestação da direita brasileira está agendada para o dia 12 de abril.
Pode ser outro fracasso retumbante, mesmo revestido de "sucesso" pela
mídia. Mas pode, sim, angariar mais apoio entre os descontentes, num processo
de crescimento que afetaria a governabilidade irremediavelmente.
Fosse eu a
ocupar o posto de conselheiro da presidenta, daria muita importância ao mais
famoso bordão do nosso querido robô de Perdidos no Espaço: Perigo! Perigo! Para
o governo não ficar, até o fim do mandato, perdido no espaço.
Em tempo:
nossos heróis da nave Júpiter e conseguiram desprogramar Idak, que virou um
cara do bem. Do tipo: plantar, colher, dividir e consumir. Funcionou com androides. Mas, com alguns humanos, a tarefa é bem mais difícil!
Idak, programado para esmagar, matar, destruir! Que medo! |