terça-feira, 7 de abril de 2015

Podemos blindar, se achar melhor...

  

O dia 23 de março de 2015 entrou para a história do jornalismo brasileiro. Nesta data, a proteção da mídia a determinado líder de um agrupamento político saiu do rol das teorias da conspiração e, graças a uma falha grotesca da Agência Reuters, materializou-se diante dos olhares atônitos dos leitores da própria agência e das empresas que utilizam os seus serviços.
   Apenas uma frase entre parênteses no final de um parágrafo, supostamente um recado do editor ao repórter, foi suficiente para revelar que a mídia brasileira e certas mídias internacionais em língua portuguesa têm lado no espectro ideológico e travam, na surdina, a batalha político-partidária que hoje divide o País, ora carregando nas tintas ao abordar denúncias de corrupção do partido da situação, em generosas suítes, ora dando pequenas notas sobre casos cabeludos da oposição, representada principalmente pelo PSDB. Até fazem denúncias, mas sem explorar os desdobramentos do fato nas edições seguintes.
   No caso da Agência Reuters, o jornalista americano Brian Winter entrevistou o ex-presidente FHC, que imputou a Lula a maior culpa pelos problemas da Petrobras. Entretanto, no sexto parágrafo, o texto aponta que um dos delatores do esquema afirmou que os pagamentos de propinas começaram em 1997, na Era FHC.
   Foi nessa altura do texto que surgiu a frase""podemos tirar, se achar melhor", que atingiu os trend topics do twitter e virou o bordão de muitas postagens no facebook.
   Mas, afinal, para quem foi o recado? Do editor para o repórter ou do repórter para o próprio FHC? Jamais saberemos a verdade. Só que, na rotina do jornalismo, é muito comum o entrevistado pedir para ler a entrevista antes de ser publicada. Também é muito comum o repórter recusar tal pedido, em nome da ética jornalística.
   A possível exceção acontece na comunicação empresarial, na publicação de veículos de uma empresa ou entidade. Será que não é disso que estamos falando, quase um house-organ do PSDB? O jornalista Brian Winter, americano, foi autor, junto com FHC, do livro "O Improvável Presidente do Brasil - Recordações" (The Accidental President of Brazil: A Memoir), que teve prefácio de Bill Clinton. Brian goza, portanto, de certa intimidade com o ex-presidente.
Seria bem "natural" que enviasse o texto a FHC para dar uma última olhada antes de publicar. Como não há provas, é preferível aceitar a versão da própria agência: falha do editor, que não muda em absolutamente nada a comprovação do espírito parcial que impera nas redações do País.


Outra blindagem revelada

   Um mês antes, no auge das denúncias da Petrobras, a diretora da Central Globo de Jornalismo,
Silvia Faria, enviou um e-mail a todos os chefes de núcleo ordenando a blindagem do ex-presidente FHC com relação à corrupção na Petrobras. Mais exatamente, em relação às mesmas declarações do delator, assinaladas no texto de Brian, como publicou o site Pragmatismo Político. Não por acaso, no dia 23 de março, o jornal O Globo reproduziu na íntegra a entrevista de FHC para a Reuters. E, também, reproduziu a gafe, no afã de blindar o tucano graúdo.

"Podemos tirar, se achar melhor..."

"Podemos tuitar, se achar melhor..."

"Podemos esquecer o que escreveu, se achar melhor..."


"Podemos dar ctrl+v, se achar melhor..."





Nenhum comentário:

Postar um comentário