Imprensar: verbo transitivo direto. Apertar. Dar uma "prensa". Eu imprenso, tu imprensas, ele imprensa.
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
O ministro caridoso
Acho que já passou da hora do ministro Cardozo pegar o caminho da roça. A PF conspira, conspira, e o ministro apenas suspira. Que ela continue investigando, mas um pouco de discrição é sempre bem vinda.
O homem da justiça não sabe como fazer? Aprenda com Alckmin, afinal, ele é o rei do sigilo. Como pode existir uma linha direta entre a PF e a mídia? Como é possível conviver com tantos vazamentos de informações sem que se tome uma atitude punitiva?
Sabemos que a finalidade dos vazamentos é constranger e desconstruir adversários políticos, coincidentemente, do partido do ministro. Mesmo que os investigados pertencessem a partidos de oposição, não é de bom-tom delegados convocarem coletivas para dar pitacos em processos que nem foram concluídos. Ou mesmo depois de concluídos. Não tem que dar pitaco. Pronto!
Centralize a comunicação, ora. Ninguém fala sem prévia autorização do próprio ministro. Quem desobedecer, leva bola preta. Se insistir, vai cuidar dos passarinhos que pousam na janela. Simples assim.
E quem convocar investigado às 23 horas só para zoar com o aniversário do seu pai famoso e popular deveria ser condenado sumariamente a fazer a contagem diária das formigas que frequentam os jardins da instituição.
Como até agora não fez a sua lição de casa e liberou geral para os delegas da PF, chegou a hora do Cardozo perceber que não está agradando e sair de fininho. Ou ser transferido por Dilma para uma área menos traumática do governo. Nem passarinhos ou formigas. Que ele vá tomar conta das tartarugas. Mas só não pode deixá-las fugir...
Ó, ratagões...
Que tipo
de gente apoia esse golpe paraguaio, que, se fosse concretizado, deixaria
notórios bandidos à solta, impunes? Acredito sinceramente que não vai dar
certo. No máximo, vai torrar a nossa paciência por mais alguns meses.
Reconheço
que a trama dos aloprados golpistas tem um grande mérito: revelar a ética de
gelatina de uma parte dos brasileiros. Se for do meu time, roubar pode. Se for
para derrubar quem eu não gosto, tem o meu apoio.
Na
verdade, o buraco é mais embaixo. Muitos dos políticos que estão aí emergiram
de um caldo de cultura que não exige muito rigor na rotina dos seus próprios
negócios, nas suas relações sociais e no respeito à legislação vigente. Daí a
tentar obter vantagens no trato da coisa pública é um pulo. É claro, aqui e
ali, o DNA da nossa esquisita colonização ainda se faz presente. As elites
ainda teimam em continuar dando as cartas, usando as mãos dos que pensam que
foram aceitos por elas.
Um cidadão
atento e rigoroso com os valores éticos percebe facilmente que os marujos que
estão na barca do impeachment são políticos de má índole, com longa experiência
em fugir das punições. Não passam de ratos querendo tomar conta da embarcação
mesmo que estejam com a ratoeira no pescoço. E, de quebra, também pretendem
botar pra caminhar na prancha o candidato mais forte na próxima eleição. Fácil,
não? Como já disse Mané Garrincha, sempre se esquecem de combinar a jogada com
os adversários...
Preciso
dizer quem são os ratagões? Ou a quais partidos pertencem? Acho que não, né?
Assumir
uma postura mais nobre em relação a tudo o que está acontecendo às claras no
golpe paraguaio (sim, é paraguaio...ou prefere hondurenho?) não significa
aderir a Dilma, que está apenas de passagem por um cargo importantíssimo, mas
que ocupará cadeira cativa na História do Brasil.
O
significado maior do gesto cidadão é lutar por um País sério, com instituições
fortes, cujos princípios morais serão os guardiões da nossa democracia,
impedindo ataques dos maus perdedores.
E quando o
resultado das urnas não nos agradar, será legítimo ampliar a participação
política, manifestar-se pacificamente e tentar pressionar governos a mudar os
rumos. Tudo menos golpear, dar apoio a golpes ou aplaudir golpistas. É esta a
necessária herança que devemos deixar para as futuras gerações.
É assim
que deve ser. É assim que vai ser.
domingo, 11 de outubro de 2015
A fala de Dilma e os estoques de vento
A mais
nova gozação em cima da presidenta está relacionada à suposta gafe cometida na
ONU ao comentar a "estocagem de vento" na produção de energia eólica.
Sinto contrariar os humoristas de plantão, mas esta possibilidade é bem real.
Basta interligar as cabeças dos engraçadinhos que vai existir vento de sobra
(hahaha).
Brincadeirinha,
minha gente! Foi só um jeito bem-humorado de rebater a anedota. Mais uma, que
sempre tem como base a deturpação premeditada de um discurso da governante para
tentar ridicularizá-la.
A fala de
Dilma, apesar de ter sido um pouco truncada, está correta. E não deve ser
entendida em seu sentido literal, mas do ponto de vista técnico. Lembrem-se que
a plateia não era formada pelos leigos renitentes que habitam as nossas redes
sociais e que dispensam livros de história e física de segundo grau nas
respectivas bibliotecas.
Mas, num
mundo conectado, a circulação do vídeo gravado na ONU é livre. No trecho que
circula pelas redes, ela fez uma abordagem da matriz energética brasileira, comparando
a geração hidrelétrica à eólica.
Ela
afirmou, textualmente: "até agora, a energia hidrelétrica é a mais barata,
em termos do que ela dura (as instalações), da sua manutenção e também pelo
fato da água ser gratuita e da gente pode estocar (energia hidrelétrica)".
Pausa: nesta situação, estocar água significa estocar energia.
Prosseguindo:
"o vento poderia ser isso também, mas não se conseguiu tecnologia para
estocar vento". Nova pausa: puro sarcasmo...faltou uma risadinha a la
Sheldon, do The Big Bang Theory.
Continuando:
"se a contribuição dos outros países...vamos supor que seja desenvolver
uma tecnologia capaz de, na eólica, estocar...ter uma forma de
estocar...(energia - é disso que ela fala o tempo todo). Porque o vento é
diferente em horas do dia. Então vamos supor que vente mais à noite: como eu
faria para estocar isso (a energia produzida pelo vento)?
Enfim,
gozadores do meu Brasil varonil, vamos considerar que a presidenta é ruim de
oratória, mas em momento algum ela falou em descobrir tecnologia para estocar
vento. Não no sentido literal da expressão. Apenas apontou uma das dificuldades
para a expansão do uso da energia eólica, como mostra matéria publicada no
sítio da revista Carta Capital, em 11/09/2012. Destaco os parágrafos 12 e 13:
"De
forma ideal, se você tem algum tipo de dispositivo de armazenamento capaz de
guardar eletricidade em grande escala, poderia usar para armazenar eletricidade
quando tiver um excedente para usar quando os ventos estiverem fracos",
afirma Botterud.
"Mas
a estocagem ainda é muito cara e é um tanto limitado o quanto se é capaz
estocar com as tecnologias existentes".
Agora está
claro, não? O potencial da energia eólica esbarra no custo da sua estocagem.
Também é
importante destacar que Dilma Roussef é aficionada pela força dos ventos.
Em 2014, no final do seu primeiro mandato, foram adicionados aos sistema 2,5 GW
de potência instalada, fazendo do Brasil o 10º país do mundo em capacidade
instalada e o 4º que mais acrescentou potência no ano (Época Negócios,
15/09/2015).
Em julho
de 2015, a produção de energia eólica no Brasil alcançou um novo recorde,
quando foram produzidos 2.989 megawatts (MW) médios, segundo o Informativo
Preliminar Diário emitido pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
E tudo
isso sem precisar estocar vento. Imagine como vai ficar o País no momento em
que todas as cabeças dos nossos aspirantes a humorista forem interligadas...
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