sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A grande imprensa não tem jeito. E tome manipulação...

 Eu fico imaginando os editores dos jornalões queimando as pestanas para tentar esconder, por meio de jogo de palavras, que o PSDB está envolvido no escândalo da Petrobrás, ou que as manifestações da oposição são atos cívicos, enquanto as manifestações em defesa do governo causam transtornos à população. Que a grande de imprensa aja como um partido político é algo grave. Mas partir do princípio que o leitor é um completo imbecil é inaceitável. Veja alguns exemplos:

Concordo que uma manifestação com mais de dez mil pessoas, em apoio à proposta de reforma política, atrapalha mais o trânsito do que uma reunião com três mil pessoas, liderada por Lobão. Neste último caso, atrapalha bastante a audição e o livre trânsito de cidadãos com camisetas vermelhas, alvos dos pitbulls da oposição.
O Estadão já passou da fase de agir como um partido político. Agora virou torcida organizada. (Só para lembrar: o "Mais alguns" é o partido que governa SP há 20 anos, ok?)
Bem, a chamada da Folha é um avanço em relação ao Estadão.
"Oposição" é bem melhor que "mais alguns"...

domingo, 9 de novembro de 2014

Não para, não para, não para...

Há cem anos, o time dos carroceiros, maloqueiros, operários explorados e gente que se virava na vida conquistava o seu primeiro título, após a vitória por 4 a 0 diante do time do Campos Elíseos.

Foi uma campanha gloriosa: dez jogos, dez vitórias. Neco, o primeiro grande ídolo, aquele que ameaçava bater de cinta em juiz que roubava, tornou-se o artilheiro da competição, com 12 gols.

Mais que uma simples taça, foi a consagração do pensamento igualitário de um grupo que, quatro anos antes, decidira meter o pé-rapado na porta da elite que dominava o futebol da época, ajudando a popularizar o chamado esporte bretão, dentro e fora do campo.

"Esse é o clube do povo e é o povo que fará esse time", disse o presidente do Corinthians Paulista, Alexandre Magnani, ao repórter do canal ESPN; numa das partidas, o time entrou em campo com uma inscrição na camiseta anunciando a "democracia corinthiana"; na jogo final, aconteceu o maior deslocamento humano em tempo de paz, que invadiu o Rio de Janeiro e lotou o Maracanã; outra massa humana tomou conta do aeroporto de Cumbica na despedida do time em viagem para o Japão; um carnaval fora de época tomou as ruas de São Paulo após 23 anos de jejum; outro carnaval fora de época tomou as ruas de Tóquio para comemorar o bi mundial; um visionário, em pleno campo da Ponte Grande, disse para quem quisesse ouvir: ainda teremos mármore em nosso estádio...

(E, ao fundo, diante de tantas imagens misturadas, das mais variadas épocas, a torcida cantava: não para, não para, não para...)


Preguiça

Até Geraldo Alckmin já desceu do palanque e foi tratar da vida de governador, que não anda muito fácil por causa da falta de água. Em entrevista aos jornais paulistas, ele condenou os pedidos de intervenção militar e defendeu a democracia e a reforma política. Bem mais humilde que o normal, pediu ajuda ao governo federal para resolver o problema da seca.
Para ser bem sincero, esse mimimi pós-eleitoral está me dando uma preguiça danada. A oposição quer o impeachment da presidenta com base apenas no que a Veja disse que o MP disse que o doleiro disse, sem apresentar provas concretas. Pede a recontagem de votos (ops, auditoria...) e apresenta farta documentação: cópias e cópias dos memes falsos que circulam pelo facebook e whatsapp.
Convenhamos: ser liderado por Lobão, Bolsonaro e Danilo Gentili não é para qualquer ser humano, hahaha.
Acho que, diante do quadro patético, Alckmin sentiu muita vergonha deste novo modo tucano de agir e desembarcou da pantomima. Ou então, bateu uma preguiça bem semelhante à que eu sinto no momento.
Portanto, tucanos do bem, fica a dica para não pagar tanto mico: sigam o mestre de vocês. Imitem o picolé de chuchu e desçam desse palanque que mais parece circo dos horrores; armem-se apenas com suas forquilhas e ajudem a procurar água, com a força da radiestesia.
A luta continua, é claro. Mais à frente poderemos ter plebiscitos sobre reforma política e regulamentação da mídia e cada parte levantará suas bandeiras em defesa desta ou daquela posição. Sim, o doleiro e o ex-diretor de Petrobrás podem apresentar as provas do envolvimento de fulanos, beltranos, sicranos e outros "anos". Até tucanos.
Mas acredito que o momento está mais para enfeitar as respectivas árvores de natal do que denunciar a infiltração comunista no País por meio daquele agente da KGB que se veste de vermelho e invade as casas pelas chaminés: Santa Klaus, vulgo Papai Noel.

sábado, 1 de novembro de 2014

13 manchetes fakes que tu não verás em lugar nenhum

'Instituto Veritá se coloca "à disposição do TSE" para recontar votos'

"Luto: PSDB marca manifestação pró impeachment para o dia de finados"

"No Leblon, Aécio cita Di Masi e se diz adepto do ócio criativo"

"Tucanos contratam advogado do Fluminense para auditar votação"

"Alckmin paga detetive Ed Mort para investigar sumiço da água em SP"

"Analista de Bagé usa a técnica do joelhaço para tirar o ódio dos clientes"

"Velhinha de Taubaté diz que votou em Aécio: eu acredito!"

"Pesquisa Sensus: candidato único, Aécio lidera o 3º turno da eleição"

"Doleiro obtém direito de resposta na Veja: sim, eu morri...de rir!"

"Brasil vira Venezuela e ganha o Concurso Miss Universo"

"Aprovada lei que obriga médicos brasileiros a fazer o Revalida em Cuba"

"A festa é sua! Globo inclui VTNC em sua mensagem de fim de ano"

"A CNBB (Conferência Nacional dos Black Blocs) avisa: queremos hospitais padrão COI"

Partido da Depressão (PSDeprê...)


COMO GANHAR DINHEIRO NA INTERNET (MÉTODO INFALÍVEL)

- Entre numa rede social e procure conversar com um eleitor do PSDB (vulgo tucano). Você tem 48,36% de chances de encontrar o que precisa.

- Atenção! antes de iniciar a conversa, analise o perfil do tucano escolhido. Dispense os educados. As chances de encontrar um bem raivoso caem para 40%.

- Escolhido o perfil, fale sobre política. Comente sobre o Bolsa Família. Prouni. Mostre-se ligeiramente favorável aos programas sociais e afirme que tem raízes nordestinas.

- Após essa introdução, diga que votou em Dilma no segundo turno. Se não houver reação, comente que os tucanos precisam ler mais. "Exceto a revista Veja", acrescente. E conte até 10.

- Lá pelo 5, você será chamado de tudo quanto é nome feio. Ao final da contagem, você será considerado um petralha vagabundo, que deve estar levando alguma vantagem para defender esses bandidos.

- copie toda a conversa para o seu computador. Salve. Imprima. Vá até o Tribunal de Pequenas Causas e o processe por injúria e/ou calúnia e/ou difamação.

- Repita a dose regularmente para ter um ganho mensal.

SUCESSO GARANTIDO OU O SEU DINHEIRO DE VOLTA!

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Os bocas sujas da social democracia

Dependendo do tucano que estiver por perto, tire as crianças da sala. Faço a ressalva de que tenho vários amigos simpatizantes do PSDB e o maior palavrão que ouvi das suas bocas até hoje foi "osciloperturbógrafo" e "inconstitucionalissimamente".
São de outra geração, de um tempo em que a escola pública era valorizada e ensinava-se, inclusive, boas maneiras. Com certeza, essa gente foi pouco influenciada pelos atuais dirigentes, candidatos, assessores, consultores ou simples "torcedores".
Por dever de ofício, eles devem votar no seu candidato à Presidência, mas, assim, meio que com o nariz tampado. E com um protetor auricular para atenuar os altos decibéis das ofensas que seus correligionários dirigem aos adversários.
A lista de impropérios é longa. Bem lá atrás, ainda presidente, FHC lançou a moda ao chamar de vagabundo quem tentava se aposentar cedo...bem do jeito que ele fez. Mais recentemente, Aloysio Nunes, senador e vice de Aécio ameaçou comer o cu de um blogueiro (uau!). De repente, o KY foi doador de campanha e ele apenas fez lobby, vai saber.
Na abertura da Copa, deputados do PSDB foram flagrados mandando a presidenta tomar no cu com tanta intensidade que nem foi preciso fazer leitura labial. Uma famosa colunista de um jornal paulista fez parte do coro.
No primeiro debate do segundo turno, a assessoria do candidato da oposição recepcionou Dilma aos gritos de "vaca, vaca"; se Shakira estivesse presente, iria corar de vergonha devido à semelhança sonora com o seu famoso waka, waka.
Num debate anterior, Aécio agrediu verbalmente Luciana Genro chamando-a de leviana. Tanto gostou da palavra que a repetiu contra Dilma. Reconheço que é uma ofensa bem leve, talvez porque ele tenha o costume de partir para as vias de fato sem perder tempo com xingamentos.
Por esses dias, José Aníbal chamou de vagabundo o presidente da Agência Nacional de Águas, em função da seca que assola São Paulo. Certos tucaninhos miúdos, espalhados pela internet, só se referem aos adversários como "corja de ladrões", terroristas, petralhas, pilantras e coisas do tipo. Perto deles, Dercy Gonçalves pareceria a madre Teresa de Calcutá.
No dia 22 de outubro, a oposição realizou a sua manifestação contra a podridão do País. Não, o evento não aconteceu às margens do Tietê - aquele, cuja promessa de despoluição vai completar 25 anos. Na ocasião, o herdeiro do Estadão empunhou cartaz com um "Foda-se Venezuela" para quem quisesse ver e fotografar. Paulinho da Força pediu para colocar a presidenta na Papuda. Outros menos ilustres mandaram Chico Buarque ir à merda com a Geny.
Muito inspirados, criaram o slogan "ei, ebola, leva a Dilma embora" (eles têm a força na língua, mas são fracos na rima...um quê de concretismo, hehe). O grand finale aconteceu com o clássico dos clássicos: ei Dilma, VTNC...Mais podridão que isso, impossível. Só se oferecessem cebola crua aos participantes.
Com sinceridade, temo pelo dia 26 de outubro. Não tanto por possíveis agressões aos que usarão camisas vermelhas, mas pelo repertório que essa turma sem modos está preparando para a boca de urna. Por mais que eu conheça uma variedade enorme de palavrões, sempre aparece alguma novidade.
Responderei à altura, desde que eu saiba do que estou sendo xingado. Sim, portarei um tablet com sinal de internet para pesquisar no google. Mas, se o sinal cair, estarei pronto para rebater, pois já tenho um palavrão na ponta da língua: "vocês formam um bando de...osciloperturbógrafos!
Eles lá vão saber o que é isso?

(Publicada originalmente no facebook, no dia 23 de outubro de 2014)


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

And the Oscar goes to...

De Bláblá a Buábuá...esta é Marina Silva, que fica chorosa quando alguém lhe diz umas boas verdades. E vai logo buscar o colinho quente da Veja para se proteger.

Gostaria de ver a sua reação se um estádio lotado a mandasse tomar naquele lugar, em rede mundial de TV. Ou se fosse chamada de presidANTA por milhares de feicebuqueiros; ou ridicularizada diuturnamente nas redes sociais por meio de montagens maldosas; ou malhada impiedosamente pela imprensa.

Ou, muito pior, se fosse torturada nos porões da ditadura militar...não, isso não. Não desejo algo semelhante a nenhum candidato, mesmo que aceite o apoio dos "aposentecs" de farda e passe a agradecer aos militares pela transição.

Sei de alguém que passou por tudo isso (menos o apoio dos militares) e se manteve firme, sem deixar escapar uma lágrima em público. Sei de outras que também dispensam o chororô em momentos de crise. Merckel, Bachelet, Kirchner...

Vai, Marina! Pare de se esconder na barra da saia da imprensa e do pastor Malafaia. Venha discutir propostas de governo. Fale mais sobre o seu "neoneoliberalismo", que defende a independência do Banco Central, algo tão radical que nem o ultraliberal FHC teve coragem de implantar...

Explique essa história de tirar poderes da Justiça do Trabalho, o que sinaliza mudanças na legislação trabalhista, bem ao agrado dos patrões brasileiros. Defina-se em relação aos transgênicos: é contra, a favor ou passa? E a homofobia? E o pré-sal?

Já estou achando que você elabora a sua opinião na base da roleta, cujo ponteiro só gira para a direita. Aquilo que for indicado, você defende - com unhas, dentes e muita fé. A candidata Rolando Lero, no estilo Roletrando, campeã de Banco Imobiliário, rsrs

Marina, este papel de vítima, só pega bem nas telas de cinema. Você é candidata à Presidência da República, não a representante de uma sala de aula do jardim da infância. Nem ao Oscar. Que a Veja, em sua mais recente edição, proponha um debate infantilizado, tudo bem. Sabemos que apito ela toca. Mas, e aquele passado de tantas lutas e glórias? Colocou um pedra preta sobre ele? Um...itaú?


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Que venha a avalanche...

José Serra é o maior alpinista eleitoral do período pós-ditadura no Brasil. Jamais se contentou com as montanhas menores que escalou, meros degraus na busca pelo topo do "Everest"

Em 1994, foi eleito senador por São Paulo, mas não esquentou banco. Virou ministro do planejamento de FHC e abriu vaga para um tal Pedro Piva, empresário, filho do então presidente da Fiesp, o real financiador da campanha.

Em 1998, virou ministro da Saúde. E, como ministro da Saúde, candidatou-se à presidência em 2002. Guarde esta informação.

Em 2004, foi eleito prefeito de São Paulo, mas também não esquentou banco. Um ano e meio depois, saiu para concorrer ao governo do Estado. Ganhou a eleição, mas só pensava naquilo: chegar ao cume, digo, ser presidente.

Largou as obras do estado nas mãos do Paulo Preto e foi cuidar da sua campanha presidencial. Porém, em 2010, rolou montanha abaixo: perdeu para Dilma. Só foi ao segundo turno graças ao fator Marina. Guarde esta informação.

Em 2012, ele tentou reiniciar a sua escalada. Disputou a Prefeitura, só que tinha um Haddad no caminho. Em 2014, isolado no partido, sem possibilidade de disputar a Presidência, busca agora a vaga de senador, numa disputa direta contra Eduardo Suplicy.

Pois na semana passada saiu a relação de ministeriáveis de Marina Silva. Serra é cotado para a pasta de...(suspense)...Saúde! Juntou as informações anteriores? E lá vai mais uma notícia: Marina pretende ficar apenas quatro anos na Presidência. Não quer ser reeleita. No seu lugar, que tal indicar algum ministro com pasta importante para disputar a Presidência? Alguém da Saúde, por exemplo...

Pois é, eleitor, eleitora. Serra, o alpinista eleitoral, só tenta chegar ao topo graças ao oxigênio que o sustenta por anos a fio: o voto, dado de boa fé por aqueles que se iludem com o trololó de um político que jamais trouxe benefícios por onde passou, cujo compromisso é apenas com o seu ego e com seus financiadores.

Ele agora tenta uma nova escalada. Pois está na hora de provocar aquela avalanche de votos contrários que soterre sua candidatura de vez, bem como sua pretensão de ocupar o topo. O "Everest" não merece passar por isso.

O meu voto vai para Eduardo Suplicy.


São Paulo e o prazer do sofrimento


Nua e crua, sem sal e sem pré-sal

Bastaram algumas tuitadas, algumas postagens no facebook, uma boa olhada no seu programa de governo e uma pesquisa no noticiário mais recente para desnudar politicamente a candidata Marina Silva e o seu partido de aluguel.
Em apenas um final de semana, por meio de uma dúzia de cliques no computador, descobrimos que:

- A CANDIDATA É TEMENTE A DEUS E AO PASTOR EVANGÉLICO SILAS MALAFAIA, que a fez recuar nas propostas em defesa da comunidade LGBT, como o combate à homofobia e o casamento gay. Leia aqui.

- O PROGRAMA DE GOVERNO É NEOLIBERAL. Na sua equipe econômica aparecem nomes como Eduardo Gianetti, economista favorável a privatização, e André Lara Resende, autor da ideia de confiscar a poupança na era Collor. A principal assessora da campanha é Neca Setúbal, filha de Olavo Setúbal e acionista do Banco Itaú.
Lembramos que as privatizações, da forma que ocorreram, foram nefastas para o País, provocando o racionamento de energia no governo FHC, o aumento das tarifas de telefonia, pedágios elevados e prejuízos formidáveis, pois a maioria das empresas foi vendida a preços irrisórios.
A candidata promete dar independência ao Banco Central, medida que interessa diretamente aos bancos e ao mercado financeiro; pretende desestimular a produção do pré-sal; e defende o alinhamento automático com os EUA, que implicaria na volta do FMI, dando pitacos na economia do País. Leia aqui.
- O VICE DE MARINA, BETO ALBUQUERQUE, disse que convocaria as ruas para forçar o congresso a aprovar suas ideias, insinuando a reedição da tática black bloc. Nas manifestações do ano passado, militantes da Rede, partido não-oficial de Marina, participaram dos ataques ao prédio do Itamaraty, em Brasília, que foi incendiado. Leia aqui.

- O CASO DO JATINHO DE EDUARDO CAMPOS está cada vez mais nebuloso. Não se sabe até agora quem é o proprietário. Nem quem vai pagar a indenização dos moradores que tiveram suas casas atingidas. Surge agora uma "carta de intenção" de compra, com indícios de que seja fraude. Se o aluguel do avião não for contabilizado na campanha, a candidatura corre o risco de ser cassada. A procuradoria da República irá investigar o caso. Leia aqui.
Como vimos até o momento, não há nada de novo no discurso da candidata, a não ser uma demão de verniz numa velha prática econômica que, por onde passou, causou desemprego, corrupção, corte de gastos sociais e maior acúmulo de capital nas mão de poucos. Some-se a isso a forte influência da religião em decisões políticas que podem afetar a evolução da sociedade e teremos combustível para crises infindáveis, com soluções que podem beirar a catástrofe.


terça-feira, 26 de agosto de 2014

A morte lhes cai bem

1) Não basta morrer; tem que ser de forma surpreendente e em plena campanha eleitoral, para acentuar a tragédia. Só nas mortes em tais circunstâncias se descobre tantos amigos - candidatos em sua maioria - e tantos potenciais eleitores. É a prova definitiva de que as pesquisas estão errando feio, pois a intenção de votos em Campos não passava de 11%. Já se prevê uma profusão de panfletos com candidatos abraçados ao falecido, defendendo o seu legado, suas ideias, suas propostas. Só espero que o PSB não tome atitudes extremas, como confeccionar um Eduardo Campos de papelão para ser abraçado pelos fãs. Pois aí seria plágio, né?

2) E o governador paulista, hein? Um dia depois do acidente aéreo, Alckmin virou o porta-voz do IML. Ele apareceu em todos os jornais da TV Globo passando informações sobre a identificação dos corpos. Sempre com aquele jeito "picolé de chuchu" de ser que o paulista tanto gosta. Se pudesse, certamente ele prolongaria o trabalho dos legistas até 5 de outubro, se não houver segundo turno.

3) E o irmão do Eduardo Campos, hein? Esse não perde tempo. Um dia depois do acidente, já se manifestou a favor da candidatura de Marina. E deixou no ar que aceitaria ser o vice da chapa. E tenta influenciar a decisão do partido. E, claro, demonstrou tristeza com a situação. Só não sei a ordem em que se deu tudo isso.

4) E a imprensa, hein? Parece que desembarcou da candidatura tucana e resolveu carregar Marina nos ombros. Afinal, jogador que não rende em campo precisa ser substituído antes do final da partida. O clima nos jornais é de vitória no primeiro turno. Mas, como afirmou o filósofo Paulo Preto, não se abandona assim um líder ferido no meio da estrada. Ou numa pista de pouso...

5) E Marina Silva, hein? Ela sugeriu Renata, a esposa de Eduardo Campos, como vice numa chapa em que seria a candidata a presidente. Algo muito comovente, vindo de alguém que não costuma perder as oportunidades que lhe aparecem. Só esqueceu que há cinco órfãos contando com a presença da mãe para lhes consolar. E não devem estar refeitos do choque, apesar do tanto de tempo que se passou após a morte do pai: dois dias!
  
(publicado originalmente no dia 15 de agosto de 2014, no facebook)




Já combinou com eles?

(Publicado originalmente no dia 14 de agosto de 2014, no facebook)


Além da total falta de sensibilidade em relação ao falecimento do candidato Eduardo Campos, o que há de mais grave na aposta da imprensa em Marina Silva é enxergar os eleitores do País como meras peças de um jogo em que se busca o poder por meio da manipulação midiática, sem considerar os diversos fatores que ajudam a definir o voto numa eleição. Sim, a elite é presunçosa, arrogante e cruel.
A tragédia teve o efeito perverso de renovar os ânimos de certos jornalistas, até então desconsolados com o mau desempenho de Aécio e a participação apenas discreta de Campos numa disputa que caminhava irremediavelmente para a vitória de Dilma no primeiro turno.

Comentários do tipo a "eleição está zerada" ou "Marina vai embolar a disputa" dominaram o noticiário durante todo o dia da tragédia. Para eles, o segundo turno lhes parece mais provável se ela sair candidata. Assim que foi confirmada a morte do candidato do PSB, a Folha de SP registrou pesquisa que inclui pergunta sobre quem deveria ser o substituto de Campos. É a velha fórmula para tentar influenciar a decisão partidária, inventando um "apelo das ruas".

Mas, afinal: quais são os dados concretos para se afirmar que a presença de Marina altera o quadro eleitoral? Simplesmente não existem, a não ser uma pesquisa feita no ano passado onde a provável candidata teria 20% dos votos. Mas em outra conjuntura. Fica difícil imaginar que o eleitor vá pensar assim: eu ia votar na Dilma; mas o Eduardo morreu, então vou votar em Marina.

Se for para seguir a lógica, Marina deve tirar votos de Aécio, que anda muito "claudicante". Na prática, equivale a trocar seis por meia dúzia, pois ainda assim, não há a menor garantia de que Dilma tenha algum prejuízo com o novo quadro político. Ao contrário: tudo indica que, em Pernambuco e em outros estados do Nordeste, os votos de Campos migrarão para Dilma.

A imprensa, a oposição e a elite brasileira ainda não entenderam que seus estratagemas exercem influência cada vez menor nas decisões do eleitor. Atualmente, atingem apenas um pequena parcela da sociedade, de perfil ultraconservador, e têm relativo sucesso em alguns estados brasileiros.
Deviam aprender mais com Garrincha, craque do passado, que, diante das teorizações do técnico para se chegar ao gol dos adversários, perguntou: já combinou com eles?


Eles não usam black blocs (imagens fortes)

(publicado originalmente no dia 6 de agosto de 2014, no facebook)

Esse lance de usar máscaras para dificultar a identificação, colocar fogo em cestos de lixo, usar sininhos e atacar vidraças de bancos é para os fracos, como mostra o vídeo anexado.

De cara limpa, armado com um carrinho de bagagens e gritando palavras de ordem inusitadas (eu quero a minha mala, eu não quero me acalmar), o senhorzinho dispensou a ajuda dos black blocs e pôs em polvorosa o setor de desembarque do aeroporto de Guarulhos na madrugada do sábado, dia 2 de agosto.

Não só ele, é claro. Vemos no vídeo um jovem pedir o inesquecível padrão fifa - só não fica claro se o pedido era para melhorar o atendimento ou para o senhorzinho caprichar mais no vandalismo da porta de desembarque. Uma senhora gritou que pagou mil reais pela passagem num voo doméstico, bem no período em que a Gol oferecia a volta por 39. Sacanagem mesmo.

Um pouco antes dessas cenas fortes, um fortão barbudo quase partiu para as vias de fato com uma funcionária da Gol que tentava explicar o motivo do atraso na entrega das bagagens. O rapaz, entre um VTNC aqui e outro acolá, arrancou o teclado do balcão de atendimento, arremessou o mouse contra a parede e jogou o celular da moça da Gol no lixo.

Outro passageiro pediu o nome da funcionária e a ameaçou, dizendo ser primo de um amigo de um chegado do dono da Gol. Pena que ele não usou esse poderoso contato para apressar a entrega das malas.

Alguns minutos depois, as malas dos passageiros foram colocadas na esteira. O senhorzinho, satisfeito com o seu gesto revolucionário, pegou suas bagagens e partiu, com a sensação do dever cumprido.

Nem conseguiu chegar ao estacionamento, pois ele, campeão de carrinho bate-bate, foi detido pela polícia federal e encaminhado para uma salinha, graças às câmeras de segurança. Teve como companhia o fortão, campeão de arremesso de mouse.

Game Over.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

12º jogador ou quinta-coluna?

A seleção do Felipão e o Felipão entraram para o rol das vítimas da nossa imprensa esquizofrênica. Sabe aquela coisa de dar vaticínios furados, valorizar detalhes insignificantes em detrimento das notícias realmente importantes, criar um clima de profundo pessimismo no País por meio de chamadas negativas e achar que isso pode influenciar de alguma maneira o resultado das próximas eleições - tudo o que fizeram no período pré-Copa? Pois é. Agora é a vez de tentar conturbar o ambiente da seleção.
O técnico da seleção sentiu o golpe e já começou a demonstrar sua insatisfação. Dias atrás, ele detonou a leitura labial feita por algumas emissoras de TV, como o canal ESPN e a rede Globo. Uma espécie de molecagem que pode prejudicar a comunicação entre comandante e comandados e dar pistas aos adversários sobre táticas de jogo. 
Recentemente, ele reclamou da postura exagerada da imprensa em relação ao pênalti cavado por Fred contra a Croácia, enquanto a confissão do holandês Roubben, de que simulou faltas, passou batida. E agora, nossa mídia explora ao máximo os supostos problemas psicológicos dos nossos jogadores. Comentaristas, psicanalistas, ex-jogadores e até fabricantes de lenços são chamados a opinar se é bom para a seleção chorar antes ou depois do hino ou em plena disputa de pênaltis.
Pegando carona no fraco desempenho do Brasil contra o Chile, a imprensa tentou tirar a confiança dos brasileiros em sua seleção. O portal Uol/Folha estampou a seguinte manchete nas horas seguintes à disputa de pênaltis: "Júlio César e trave salvam Brasil de um vexame". Mas, nos dias seguintes, não houve manchetes como "Pênalti duvidoso evita vexame da Holanda" e "Gol espírita salva a Alemanha de desclassificação vexatória". 
No programa Linha de Passe, da ESPN, na segunda-feira, uma enquete entre os "fãs do esporte", como a emissora costuma chamar seus espectadores, apontou a Colômbia com maior possibilidade de avançar na Copa, para deleite de alguns comentaristas do programa.
Entretanto, as dificuldades das seleções mais fortes em vencer seus jogos provaram que nenhum time está livre de apresentar um mau desempenho em campo. Quatro times venceram na prorrogação com muitas dificuldades. Brasil e Costa Rica ganharam nos pênaltis. A Holanda virou um jogo praticamente perdido nos últimos minutos, graças a uma decisão polêmica do juiz. 
Nas análises sobre a atuação do "escrete canarinho" deveria ser considerada a força do Chile, destacada por Felipão havia algum tempo. O time fez boa campanha na primeira fase e era o mais perigoso entre os segundos colocados dos grupos. É óbvio que o jogo seria bem difícil. Como era natural o nervosismo de alguns jogadores diante da possibilidade da desclassificação.
 O que ficou evidente é que as seleções consideradas mais fracas estão jogando de igual para igual com as de maior tradição .Muitas delas, mesmo ficando no meio do caminho, estão fazendo história, com classificações inéditas. Um dos motivos é a forte globalização do futebol, que dá muita experiência internacional a jogadores e treinadores.
 
Só que a imprensa brasileira não quer saber de análises mais profundas. Assumiu de vez o seu papel de partido político. Não quer que mais nada dê certo neste País até outubro. E isso inclui a campanha pelo hexa. Durante meses, a mídia viveu uma dualidade impressionante, pois ao mesmo tempo em que tentava detonar o evento para jogar o possível fiasco no colo do governo, via-se obrigada a fazer a cobertura da Copa da melhor forma possível, por questões ligadas ao mercado e à busca de informação da sociedade.
Como o evento está sendo um sucesso absoluto, praticamente irretocável, só resta agora tentar impedir a conquista da taça - que, na ótica enviesada da imprensa, seria igualmente catastrófica para as aspirações da candidata da situação. E, claro, haveria por parte de alguns críticos aquele prazerzinho especial, bem mórbido, de soltar a frase: "eu não falei que não iria dar certo? Ó vida, ó azar...
No momento, esta imprensa é o 12º jogador, só que dos times adversários. Uma espécie de quinta- coluna, com sabotadores e boateiros agindo contra os desejos dos brasileiros. Felipão já percebeu em quem deve fazer a forte marcação. E acho bom "bater na medalhinha", pois, se deixar a imprensa fazer o seu jogo, o hexa irá para o brejo, frustrando os torcedores do País.


GENEBRA É AQUI! SÓ QUE NÃO...

Ontem, na Arena Corinthians, fui um dos poucos brasileiros a torcer para a Argentina na fase das oitavas da Copa. Muitos dos meus compatriotas acordaram ao som dos relógios de cuco, sentindo-se suíços. Tomaram o seu leitinho Nestlé e partiram para o estádio inspirados nos famosos canivetes, dada a animosidade em relação a "los hermanos".

Houve entreveros pontuais e, bem pertinho de mim, um torcedor corinthiano partiu para as vias de fato depois que um argentino subiu no assento da cadeira para comemorar.

Um dos principais cânticos era "mil, gols, mil gols, mil gols de Pelé...Maradona cheirador", o que prova que o brasileiro é, antes de tudo, ruim de rima.

Foi bem estranho ver um grupo de corinthianos defender Pelé, nosso grande carrasco nos anos 60. Ainda mais que Maradona foi fã incondicional do grande Rivellino, o reizinho do Parque. E tivemos Tevez como ídolo...

Mas, para certos brasileiros, a Suíça está acima de tudo, obviamente. E a Argentina é o inimigo a combater, o país que mais ameaça a nossa soberania, com suas carnes macias, bem acima do padrão friboi, e o seu malbec com aroma de frutas vermelhas intensas e maduras como ameixa seca e notas florais de violetas...

Eles não estão sozinhos nesta parada. Na verdade, seguem galvões buenos e miltons neves, grande incentivadores de uma rivalidade exagerada, ao lado de outras celebridades midiáticas.

Fico agora imaginando uma final de Copa entre Brasil e Argentin
a, cuja taça poderá ser entregue por Dilma e Blatter. Tudo o que o coxinha deseja na vida para vaiar e soltar palavrões à vontade. Nem Gisele Bundchen escaparia ilesa. E o espetáculo seria um prato cheio para Danilo Gentili enfiar outra bandeira no fiofó, como fez semanas atrás.

Minha esperança é que, no encerramento, a guitarra de Carlos Santana acalme os ânimos e promova a paz. Afinal, o guitarrista mexicano ainda é unanimidade...ou também não é mais?


sexta-feira, 27 de junho de 2014

GENTE FINA E BOCA SUJA

Os caras pensam que vão ganhar a eleição com manifestações como a de ontem, na Abertura da Copa. Ao contrário, perdem votos. Mas quem gosta disso deve estar acostumado com ofensas deste nível na intimidade do lar. Deve ser algo normal. "Esse bife tá salgado, vai tomar no c..."; "Mãe, você não passou a minha calça? Vai se f...".

Fico imaginando que tipo de País esses babacas desejam, já que criticam tudo, não aceitam o contraditório e sempre apelam quando se sentem acuados. Realmente, a educação é um problema no Brasil, principalmente aquela que deveria vir de dentro de casa.

Enquanto isso, o senhor Aécio perdeu a chance de posar como estadista, pois, ao invés de reprovar a atitude de parte da elite brasileira, tentou se aproveitar do episódio, o que não deixa de ser baixaria. Justo ele, que já foi vítima de manifestações no estádio, em 2008 ("Maradona, vai se f..., o Aécio cheira mais do que você...").

Isso nos dá a dimensão de como transcorrerá a campanha eleitoral e uma boa ideia do que seria o seu mandato se fosse eleito presidente. Imaginem um pronunciamento à nação: "Sras e srs: informo que acabei com o Programa Bolsa Família porque tem muito fdp se aproveitando da situação. Para aqueles que estão protestando, vão tomar no c..."


ABERTURA

Está na hora? Está na hora. Liguem os holofotes! Plec...plec...plec...plec...e...plec! Estão acesos! Funcionou, para desespero do UOL e da Folha, risos. Agora desliguem e liguem de novo, só para tirar uma ondinha com a imprensa tupinico, digo, tupiniquim, hehe.

Vamos à passagem do som:
_ AAAALÔ...SOM...TEEESTANDO...SOM! Pessoal de Higienópolis, está nos ouvindo? E o povo dos Jardins? Da Vila Olímpia? Do Shopping JK? Se o áudio estiver perfeito, balancem seus cartões de crédito. Ou os passaportes. Sacolinhas da Paco Rabanne também ajudam. Estamos acompanhando os movimentos no telão. Mais rápido, minha gente. Vençam o delay, vocês conseguem. Ajam naturalmente, como se estivessem chegando em Miami. Ok. Deu tudo certo. No problems.

E agora, esquentando os tamborins...plect...peplect..plect...
O surdo, na marcação..dum...dum...dum...
Entra o pandeiro...trikiti...trikiti...trikiti...
Muito bom. Chegou a hora dessa gente diferenciada mostrar seu valor...ôô...ôô...


Tudo pronto? Quase. Só esperando secar um trecho do asfalto ali, na entrada. Vai rápido que o pessoal da imprensa está se aproximando...o Jabor...o Waack...o Merval...podem sujar o calçado de pelica. A secagem leva o tempo de contar uma piada. Mas não se afobe não, que nada é pra já...Bem, vou distraí-los:

- Sabe por que o cal é virgem?
- Porque o cimento é fresco...

Ih, acho que eles não entenderam. Também, nunca botaram a mão na massa, hehe. Mal nos cumprimentaram e foram ligeirinhos para os seus camarotes. Pareciam assustados. Agora sim, está tudo pronto para a abertura. Mas sem muita pompa, né? Quem é da Zona Leste dispensa cerimônias. Se chegar em casa, sempre tem café quentinho na garrafa térmica. Se ficar mais tempo, sempre aparece um bolinho de chuva. Se veio para dormir, a gente pede uma pizza para viagem, um refri de dois litros e paga tudo com o vale alimentação.

Portanto, sem essa de cortar fita ou quebrar garrafa de champanhe numa das traves. Trocar flâmulas pode, mas só depois do show. A Jennifer Lopes avisou que está a caminho. Vai chegar em cima da hora, pois houve pane no Metrô. Ela teve até que trocar de roupa na cabine do operador. Xiii, a Claudia Leitte já chegou. Agora não dá mais para substituí-la pela Negra Li, que, afinal, é uma das donas da casa. Pena.
  

Vamos começar? A Merckel está bem impaciente. Até mostrou a língua para a Dilma. O Putin já avisou que não pode perder tempo, pois tem uma Copa para organizar daqui a 4 anos. Não vai ficar para o coquetel, mas foi flagrado enfiando algumas coxinhas no bolso.

Antes da bola rolar, é de bom tom dizer algumas palavras. Para o mundo, é claro. Em tupi-guarani...brincadeirinha. O que vocês insistem em chamar de Arena, para nós é "estádio", palavra que traz grandes recordações da era mais romântica do futebol. De quando juntávamos o troco do pão para comprar ingressos. Da época do cimento gelado das gerais. Dos alambrados. Da bola de capotão.

Se quiserem manter o nome de "Arena", tudo bem. Mas escrevam corretamente o nome do estádio (risos). "Corinthians" é sempre com o agá no meio. Corinthiano também. Não aceitamos apelidos para a casa nova, principalmente aqueles no aumentativo.


"Itaquera" nunca teve o trema. E nunca tremeu. Na linguagem dos índios, quer dizer "pedra dura". Mesmo que role, continuará sendo dura na queda. Não meu, senhor, não dá para traduzir como Rolling Stone. Escreva assim, sem o trema.

Registre também que esta Copa no Brasil trouxe um importante legado. Basta olhar ao redor. Túnel, viaduto e passarelas. Uma faculdade estadual ao lado. Um movimentado shopping à frente, que será ampliado. A dez minutos de automóvel, um pronto-socorro recém inaugurado. Olhe com mais atenção! Ainda não descobriu o verdadeiro legado. Está bem ali, visível, na cara das pessoas.

Dos Itaquerenses. Dos sãomiguelenses. Dos ermelinenses. Do penhenses. Dos cangaibanos. Dos moradores da Cohab. Veja que há orgulho estampado no rosto de quem passou a ser tratado como cidadão de verdade. Essa gente finalmente abocanhou uma boa fatia dos impostos que o Estado arrecada, geralmente destinados às causas dos bairros mais nobres. E graças à Copa. Graças a quem trouxe a Copa para cá.



Pois hoje, como Itaquera se transformou no centro do mundo, os outros lugares vivem o seu dia de periferia. Quem sabe assim seus moradores sintam na pele o que é viver numa espécie de subsolo. Ou entendam que nesta cidade todos têm direito a uma vida digna. Opa...quem sabe teremos aí mais um legado...

Priiiiii...e começa a Copa das Copas...


sábado, 7 de junho de 2014

Alckmin: mais do mesmo

O “jeito Alckmin” de resolver os problemas do Estado se resume a uma atitude: mandar a PM descer o cacete em tudo o que se mexe. Dizem até que ele enviou um batalhão ao Sistema Cantareira, para obrigar a água a descer pelos canos; e deslocou a tropa de choque na direção da USP Leste para conter a expansão do gás metano no terreno contaminado...
Neste último mandato, a truculência do governador esteve presente no Pinheirinho. Na invasão da Reitoria da USP. Na greve da Unesp. Até nas marchas da maconha.
Na periferia de São Paulo, a presença “ostensiva” da PM na vida dos cidadãos é rotineira – com a palavra as mães de maio. Atualmente, só o movimento dos sem-teto tem sido poupado, talvez porque um dos líderes é filho de um assessor tucano. E não deixa de ser interessante observar de camarote o desgaste dos governos federal e municipal em ano de eleição.
Obviamente, na greve do Metrô, Alckmin não poderia agir diferente do que é seu costume, pois o uso da força faz parte da sua natureza autoritária e por saber que uma parcela dos paulistanos “adora” demonstrações de violência chapa-branca. Contudo, passados 50 anos do golpe, é chocante ver imagens da ocupação militar nas estações do metrô, como se estivéssemos sofrendo um ataque terrorista, semelhante aos do seriado “24 horas”, aquele, do Jack Bauer. Dá arrepios.
Tal ocupação não deixa de ser um atentado. À democracia, principalmente, pois revela a incapacidade deste governador em negociar, e que tenta mandar às favas o direito de greve, mesmo que seja uma paralisação inoportuna, que só angariou a antipatia dos usuários, um tanto atormentados pelas manifestações esquisitas que pipocam na cidade.
Só espero que os metroviários, cujo sindicato tem forte influência do PSTU, reflitam a respeito das estratégias adotadas, como o gesto infantil de pedir catraca livre ao governador. Pedir?
Greves assim só contribuem para desgastar ainda mais o movimento sindical, muito abalado pela paralisação surpreendente dos ônibus municipais por membros da oposição e pelas atitudes eleitoreiras da Força Sindical, que só se preocupa em fazer campanha para Aécio Neves.
Numa sexta-feira chuvosa e sem Metrô, na véspera do início da Copa do Mundo, essa central paralisou a avenida Paulista para protestar contra a “política econômica do governo”. Claro, sem repressão da PM. E, curiosamente, por objetivos alheios à liberdade de expressão.

Foto Uol/Folha

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Que venham os bárbaros...

"Cenas fortes". Como se não bastasse o assassinato brutal e medieval de Fabiane, a Folha de São Paulo coloca em sua página os vídeos com as cenas do linchamento, com o devido aviso do que o internauta encontrará pela frente.

Curiosamente, no caderno que retrata o "Cotidiano". Com o código embed para quem quiser postar em seu blog. Em busca dos cliques a mais, da audiência a todo custo, a qualquer preço. E, como se ainda não bastasse tudo isso, surge o comentário preconceituoso, lembrando que "o Guarujá era tão chique, até que a explosão imobiliária trouxe os trabalhadores do Nordeste". Está ali, sem filtro nenhum, no veículo que abre o espaço para os trogloditas.

Que venham os bárbaros, instigados pelos articulistas neofascistas! Pois esta morte tem, sim, o dedo da mídia. Suas digitais estão lá. No corpo de Fabiane e nos próximos corpos que virão. Dos outros acusados por crimes que não cometeram. Tanto faz se a vítima for dona de casa "que sequestra criança para magia negra", torcedor de time popular "que constrói seu estádio com dinheiro público" ou militante de partido político "que transformou o País num mar de lama" .
Pois, com certeza, neste clima de puro ódio, com tantas mentes subjugadas, com tantas mentiras publicadas em forma de notícia, outro linchamento será apenas questão de tempo.


  

sábado, 19 de abril de 2014

Fuga para as colinas

E essa crise, hein? Não vai passar? Acho que não. Ontem, por voltas das 23 horas, encarei uma hora de fila no caixa rápido do Carrefour. Evidentemente, tratava-se de mais uma leva de cidadãos precavidos, estocando alimentos, antevendo o desabastecimento amplo, geral e irrestrito que virá em breve.
Pois, como aponta o Jornal da Globo, a recessão vai ser braba. O governo continua perdido, batendo cabeça. Foi assim na véspera do natal de 2013. Filas e filas nos supermercados em plena madrugada. Só que agora, em vez do peru, o alvo era o bacalhau. Obviamente, a estratégia é se preparar para os longos apagões que virão. E alimento conservado no sal é sempre a melhor saída, pois muitos ficarão sem energia para ligar a geladeira. Isso se não tiverem que vender a geladeira para pagar as contas, hehehe.
Vi muitos carrinhos com ovos de chocolate do Fuleco, aquele bonequinho da Copa. Traziam, como brinde, uma mochila amarela. E logo matei a charada: esqueçam a Páscoa ou aquele torneiozinho de futebol, pois, como todos sabem, não vai ter Copa...e nem Páscoa. Vai ter é fuga para as colinas. A luta pela sobrevivência. Basta olhar os congestionamentos nas estradas brasileiras. Ou o movimento nos aeroportos. Nas rodoviárias. Ou a cara do William Waack, rs. Todos fugindo, temendo o pior. Vai faltar colina. Crise das brabas...
Um cunhado meu, que queria nos visitar, não conseguiu comprar passagem de Bagé a São Paulo. Nem de Porto Alegre a São Paulo. Ou via Pelotas. Tudo esgotado. Mas conseguiu carona de um cegonheiro em fuga, cujo veículo estava abarrotado de carros novos. Nem tive tempo de avisar o cunhado que estamos com um probleminha aqui, na terra das oportunidades, e que ele deveria trazer sua canequinha para o banho. Cheia, de preferência.

Bem, já está chegando a hora de dessalgar o bacalhau. Deixar de molho por 24 horas. Trocar a água com frequência...água? Mas, como fui esquecer que estamos com um probleminha por aqui? Ai, Jesus...espero de ti um milagre. Daqueles que você costuma fazer. Tipo transformar todo o vinho da adega do nosso governador em água. Não precisa ser Perrier. Schincariol serve! Sem gás, por favor.


Wilker e a Caravana Rolidei

Sim, sim, Bye Bye Brasil é um nosso road movie, o melhor já feito por essas bandas. Filme de 1979/1980, fala das transformações do País em pleno ocaso da ditadura militar e do legado dos ditadores (nem tão explícito assim, afinal, coturnos ainda marchavam na época): a urbanização descontrolada, o abandono de gente simples à própria sorte, a devastação consentida das nossas matas, o entreguismo na exploração das nossas riquezas naturais, o início do consumismo desenfreado e o anúncio, bem disfarçado, do neoliberalismo que viria alguns anos depois.
E, claro, a influência exagerada da TV na vida das pessoas (enfia a antena no rabo, berra Lorde Cigano) e a americanização crescente dos nossos modos e costumes. Do nosso vocabulário, que ajuda a deixar mais chique a abertura de um texto ao se escrever “road movie”...
Se Bye, Bye Brasil fosse feito em Hollywood, certamente teria lugar de destaque em algum parque temático de Orlando. Como brinquedo radical. “Embarque na caravana Rolidei. Viaje por um País Tropical e sinta a aventura de encarar os solavancos nas estradas de terra de um dos lugares mais inóspitos do continente. Conheça o lugar exato de onde sai o mogno que enfeita a sala da sua casa. Dance ao som dos Bee Gees na discoteca Uma Transa Amazônica na margem do rio Xingu. Saia do Brasil e vá ao Brazil. Wow!”
Lorde Cigano, Salomé, Dasdô, Ciço e Andorinha são os desbravadores deste mundo novo, que cabe numa telinha de TV. Onde se começa a falar uma língua estranha, mas que não é necessário entendê-la. Cujos personagens são tão pitorescos quanto desnecessários no script traçado para nós, brasileiros, a partir da abertura lenta, gradual e segura.
Mas nem tudo é controlável, sempre arranjamos um bom jeitinho de improvisar, de dar um drible nos planos do roteirista. Talvez movidos pela saudade. Saudade do Chico Buarque; da boa música; de roça e sertão; das agitações políticas; das lutas históricas dos trabalhadores; e da época em que, bom mesmo, era ter um caminhão, meu amor...
Pois, nessa viagem imaginária, do final dos anos 70 até os dias de hoje, já estamos no Bye, Bye Brasil, Parte Quatro ou Cinco, por aí. A saga da Caravana Rolidei continua. Muita coisa tipicamente nossa já desapareceu. Ou se transformou. Assim, assim, como num passe de mágica do Lorde Cigano - pluft. A caravana tanto avançou que já deixou Altamira para trás (enfia a torre de transmissão de energia elétrica de Belo Monte no rabo, diria Cigano). Muita gente como a gente ficou pelo caminho. A última ficha caiu, para sempre. Também terminaram os créditos do último card, do derradeiro pré-pago e ninguém percebeu. Haja improvisação para enfrentar os novos paradigmas.
José Wilker é mais um grande representante de sua arte a desembarcar da caravana. Vai junto com ele o ator perfeito, comprometido com a profissão, capaz de dar personalidade a qualquer personagem, desde que haja uma boa história para contar. Mundinho, Vadinho, Tenório Cavalcanti, JK...
Com a sua morte, mais uma partezinha do Brasil deixa de existir. Assim como seus próprios personagens e seus criadores, muitos deles oriundos da boa literatura do passado. As boas histórias foram se perdendo pelo caminho, pularam da carroceria a cada freada brusca na estrada tortuosa da cultura brasileira e rolaram pela ribanceira. As nossas histórias....
(Antes dos créditos finais, a grande descoberta de Lorde Cigano: “Tu viu a novidade? O ipsilone no fim. Eu encontrei um gringo em Belém que me ensinou que Rolidey tem ipsilone. Porra, como a gente era ignorante, cara. Hehehe...”)
Fade out, fade out...