Temos aqui um bom exemplo de manipulação da notícia. Na terça-feira, 24 de fevereiro, o UOL/Folha abriu uma chamada: "1º projeto apoiado por deputado Andrés é criação do Dia do Corinthians". O autor do projeto, na verdade, é o deputado Goulart, do PSD, mas o destaque da matéria, na forma de galhofa, é o apoio de Andrés, deputado do PT, identificado erroneamente (e propositalmente) como coautor da proposta em vários sites a partir daquele portal.
Autoria de
projeto e apoio ao projeto têm pesos diferentes. Mas, para que cutucar Goulart
com questões pertinentes se surgiu a possibilidade de carimbar em Andrés o
rótulo de "deputado com projetos irrelevantes", não é mesmo
UOL/Folha?
Então:
voltemos ao exato momento em que a informação chega às mãos dos jornalistas do
grupo. Uma das formas de tratar a notícia é destacar o projeto e o seu autor.
Em segundo plano, o apoio do ex-presidente do Corinthians e - porque não? - de
outros possíveis deputados. Que tal mencionar projetos aprovados em homenagem a
outros clubes? A notícia perderia impacto, mas estaria bem próxima da verdade e
cumpriria a sua função social de informar adequadamente.
A
informação poderia também ser didática, mostrando que o apoio a projetos é
prática comum na Câmara; homenagens daquele tipo também são rotinas; e que um
deputado tanto pode querer homenagear o time do coração como elaborar projetos
de cunho social para melhorar o bem-estar do País.
Não é um
processo excludente, do tipo só faz isso ou só faz aquilo. Aliás, quatro anos é
tempo suficiente para fazer de tudo um pouco. O que pode servir de parâmetro
para um bom mandato é se a preocupação do deputado foi mais com isso do que
aquilo...porém, apenas em 2018, certo?
Outra
forma de tratar a notícia é fazer uso de uma visão subjetiva e maniqueísta do
processo, embutir o seu ranço ideológico por meio de artifícios que o
jornalismo oferece, fazer uso do imaginário popular e inverter os fatos: o que
era secundário passa a ser importante e poderá causar algum mal ao cidadão
(imagine um palmeirense ter que comemorar um dia do Corinthians) e - sempre na
mesma toada - ao bolso do contribuinte, que-paga-o-salário-de-um
legislador-para-fazer-projetos-irrelevantes (argh).
Isso
sempre acontece quando o personagem secundário for desafeto do veículo de informação
e pertencer a grupos fortemente atingidos pelo preconceito e pela militância
política disfarçada na forma de noticiário "isento".
É claro
que, na prática jornalística, procura-se sempre buscar na informação bruta o
gancho apropriado para atrair o leitor, desde que não se distorça a própria
informação. Mas não é isso que acontece com o jornalismo atual.
Uma
notícia banal poderá virar bala de prata e assassinar reputações. E assim, com
mais "conotação do que denotação", o leitor começa a ser manipulado.
É aí que o jornalista se torna mal intencionado, tendencioso, pois sabe o
estrago que certas manchetes podem causar na vida das pessoas ou grupos,
levando em consideração o grau de desinformação do leitor (que ele procura
manter), os valores de uma parcela da sociedade e o clima de terceiro turno
criado no País pelos perdedores, com o inestimável apoio da mídia.
Se, em
plena operação lava jato, uma manchete diz que fulano se reuniu com
representantes de empreiteiras, por exemplo, há uma insinuação no ar. Vira
indício de corrupção, mesmo que não seja proibido se reunir com empreiteiras.
Para obter este triste resultado, basta diagramá-la ao lado de outras notícias
de corrupção. E, pronto: por associação com o tema, a reputação de fulano vai
pras cucuias.
Com
certeza, Andrés, que não foi ouvido pela reportagem, passou a ser hostilizado
nas redes sociais por causa dos seu apoio a um projeto banal. Basta dar uma
lida nos comentários da notícia no UOL para se ter uma ideia da repercussão.
Logo, logo, vai ter gaiato pedindo o seu "impitman".
Em tempo:
não votei nele para deputado e tenho algumas dúvidas sobre a sua capacidade de
fazer um bom mandato. E acho o projeto desnecessário. Aliás, um só dia para o
Timão é pouco...Mas esta é uma visão pessoal sobre o nobre deputado que pode
mudar com o passar do tempo. Não seria justo nem honesto eu trabalhar uma
notícia de forma que os leitores sejam induzidos a ter a minha opinião. Mas,
tem quem o faça. Até de graça! E acham que é por uma boa causa. Infelizmente.