quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Fim do baile para Ettore Scola.
Fade out.
Aplausos...de pé, de pé...
Foi grande!
Um dos maiores diretores de cinema.
Ou o próprio cinema.


Cena do filme "O Baile", dirigido por Ettore Scola

"O problema é a fotografia na parede, sabe?"


“Às vezes eu olho essas fotografias na parede e penso assim: será que sou eu mesmo? Às vezes eu penso que foi com outra pessoa que aconteceu tudo isso...”
O trecho acima faz parte do comentário emocionado do personagem Naldinho, do Corinthians, interpretado por Flávio Migliaccio nos quatro minutos finais do filme “Boleiros: Era uma Vez o Futebol”, de 1998, dirigido por Ugo Giorgetti.
Na verdade, um personagem não tão fictício assim. Ele expõe praticamente o mesmo sentimento de quem para de fazer o que mais gosta, de quem já foi ovacionado por milhares de pessoas, de quem vê o poder escorrer pelas mãos ou de quem começa a perder aquela sensação de imortalidade que a juventude nos proporciona.
Talvez a atual geração de jogadores de futebol sinta-se imune às coisas do coração, livre do amor à camisa que veste, do orgulho de representar a sua pátria em importantes competições. Talvez, talvez.
Mas não acredito que, na idade avançada, os atuais craques resistam aos arquivos digitalizados dos jornais da sua época, que os transformaram por alguns anos numa espécie de semideuses; ou aos vídeos dos seus gols mais bonitos, tão necessários para transações no mercado externo; ou à coleção de imagens em alta resolução captadas pelas melhores lentes do mundo.
Em qualquer época, com qualquer tecnologia, em diversas profissões, o problema será sempre a fotografia na parede.


A força da grana que ergue e destrói coisas belas...

A notícia é estarrecedora: em Canasvieiras, litoral norte de Florianópolis, os turistas estão usando máscaras na tentativa de amenizar o mau cheiro. Há também um surto de virose.
Ano após ano, os problemas ambientais na ilha vão se sucedendo. Em 2012, no litoral sul, houve um vazamento de óleo ascarel, produto usado no passado como isolante térmico de equipamentos elétricos e proibido há décadas, por ser cancerígeno. Um transformador da empresa energética catarinense estava abandonado num terreno próximo ao rio. O desastre comprometeu a produção de ostras naquele ano.
De lá para cá, várias praias se tornaram impróprias para banho na temporada, notadamente aquelas voltadas para o continente, geralmente de mar manso.
Quando não é a poluição, é a apropriação indevida do espaço público que causa transtornos aos moradores e turistas. No ano passado, o Ministério Público Estadual chegou a fechar alguns beach clubs na praia de Jurerê Internacional por invadir a faixa de areia para fins particulares. Nesses locais, uma garrafa de espumante não sai por menos de R$ 5 mil.
A especulação imobiliária, a ganância, o conluio entre governantes e construtoras e o descaso governamental com a infraestrutura estão ajudando a transformar num esgoto a céu aberto um local antes considerado paradisíaco, cuja ocupação é relativamente recente.
Até os anos 80, a maioria das praias de Floripa estava praticamente intocada, quase selvagem. Atualmente, com poucas exceções, de selvagem mesmo só restou o capitalismo, que não faz questão de contrariar a própria natureza: ter altos lucros e destruir coisas belas.


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Foto: Marco Favero / Agencia RBS
 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Assim caminha a desumanidade...


É a pior momento do governador Alckmin e do próprio PSDB entre tantos episódios de violência de Estado ao longo de duas décadas. Não concordo quando dizem que a PM é despreparada em relação às manifestações populares. Ao contrário, está sendo muito bem preparada para se tornar uma espécie de SS alckmista.

Todos os conflitos em SP, de qualquer natureza, são resolvidos com excessiva e crescente truculência pela polícia militar. Na vã esperança de que, aplicando uma sova exemplar, o povo não vá fazer mais essa coisa feia de se manifestar em público, que muitos chamam de "democracia". A cada borrachada, estão querendo dizer: "fiquem em casa, oras bolas; em vez de provocar confusão nas ruas, batam panelas, reclamem na frente da TV ou se manifestem pelas redes sociais..."

Observem, a polícia alckmista não atua apenas contra passeatas que possam constranger o governador. Ela está presente no transporte público, quando os trens da CPTM param por falta de manutenção e os usuários ameaçam se manifestar. Está presente no futebol, agindo com violência até na organização de filas nas portas das arenas. Está presente de forma brutal nas reintegrações de posse. Bate em estudantes secundaristas. Bate em professores. E quando a adrenalina sobe, bate em tudo que respira e faz sombra. Nem as árvores escapam. O Ibama precisa tomar uma atitude...

São tantas as bombas lançadas (uma a cada sete segundos) que, em algumas horas do dia, SP fica parecida com Londres. É o chamado fog tucano, que arde nos olhos, deixa a boca seca, causa náuseas e aplica um efeito "moral" em quem estiver por perto. Ou efeito "Moraes", para ficar bem de acordo com o secretário de Segurança Pública do governo do estado, que, em um ano de gestão, está batendo recordes sucessivos nos quesitos truculência em manifestações públicas e chacinas não investigadas.

Pois a neblina serve para encobrir muitas coisas, também. Na terça-feira, dia 13 de janeiro, quase no mesmo instante em que a PM massacrava manifestantes e transeuntes na região da avenida Paulista, dona Alda sofria uma tentativa de assalto na Mooca; quando assaltantes tentaram levar o seu carro, ela acelerou e levou um tiro na cabeça. Faleceu horas depois.

Se me disserem que a PM está despreparada para combater o crime, aí eu concordo. A criminalidade agradece à total mudança de foco da polícia alckmista.