sexta-feira, 27 de junho de 2014

GENTE FINA E BOCA SUJA

Os caras pensam que vão ganhar a eleição com manifestações como a de ontem, na Abertura da Copa. Ao contrário, perdem votos. Mas quem gosta disso deve estar acostumado com ofensas deste nível na intimidade do lar. Deve ser algo normal. "Esse bife tá salgado, vai tomar no c..."; "Mãe, você não passou a minha calça? Vai se f...".

Fico imaginando que tipo de País esses babacas desejam, já que criticam tudo, não aceitam o contraditório e sempre apelam quando se sentem acuados. Realmente, a educação é um problema no Brasil, principalmente aquela que deveria vir de dentro de casa.

Enquanto isso, o senhor Aécio perdeu a chance de posar como estadista, pois, ao invés de reprovar a atitude de parte da elite brasileira, tentou se aproveitar do episódio, o que não deixa de ser baixaria. Justo ele, que já foi vítima de manifestações no estádio, em 2008 ("Maradona, vai se f..., o Aécio cheira mais do que você...").

Isso nos dá a dimensão de como transcorrerá a campanha eleitoral e uma boa ideia do que seria o seu mandato se fosse eleito presidente. Imaginem um pronunciamento à nação: "Sras e srs: informo que acabei com o Programa Bolsa Família porque tem muito fdp se aproveitando da situação. Para aqueles que estão protestando, vão tomar no c..."


ABERTURA

Está na hora? Está na hora. Liguem os holofotes! Plec...plec...plec...plec...e...plec! Estão acesos! Funcionou, para desespero do UOL e da Folha, risos. Agora desliguem e liguem de novo, só para tirar uma ondinha com a imprensa tupinico, digo, tupiniquim, hehe.

Vamos à passagem do som:
_ AAAALÔ...SOM...TEEESTANDO...SOM! Pessoal de Higienópolis, está nos ouvindo? E o povo dos Jardins? Da Vila Olímpia? Do Shopping JK? Se o áudio estiver perfeito, balancem seus cartões de crédito. Ou os passaportes. Sacolinhas da Paco Rabanne também ajudam. Estamos acompanhando os movimentos no telão. Mais rápido, minha gente. Vençam o delay, vocês conseguem. Ajam naturalmente, como se estivessem chegando em Miami. Ok. Deu tudo certo. No problems.

E agora, esquentando os tamborins...plect...peplect..plect...
O surdo, na marcação..dum...dum...dum...
Entra o pandeiro...trikiti...trikiti...trikiti...
Muito bom. Chegou a hora dessa gente diferenciada mostrar seu valor...ôô...ôô...


Tudo pronto? Quase. Só esperando secar um trecho do asfalto ali, na entrada. Vai rápido que o pessoal da imprensa está se aproximando...o Jabor...o Waack...o Merval...podem sujar o calçado de pelica. A secagem leva o tempo de contar uma piada. Mas não se afobe não, que nada é pra já...Bem, vou distraí-los:

- Sabe por que o cal é virgem?
- Porque o cimento é fresco...

Ih, acho que eles não entenderam. Também, nunca botaram a mão na massa, hehe. Mal nos cumprimentaram e foram ligeirinhos para os seus camarotes. Pareciam assustados. Agora sim, está tudo pronto para a abertura. Mas sem muita pompa, né? Quem é da Zona Leste dispensa cerimônias. Se chegar em casa, sempre tem café quentinho na garrafa térmica. Se ficar mais tempo, sempre aparece um bolinho de chuva. Se veio para dormir, a gente pede uma pizza para viagem, um refri de dois litros e paga tudo com o vale alimentação.

Portanto, sem essa de cortar fita ou quebrar garrafa de champanhe numa das traves. Trocar flâmulas pode, mas só depois do show. A Jennifer Lopes avisou que está a caminho. Vai chegar em cima da hora, pois houve pane no Metrô. Ela teve até que trocar de roupa na cabine do operador. Xiii, a Claudia Leitte já chegou. Agora não dá mais para substituí-la pela Negra Li, que, afinal, é uma das donas da casa. Pena.
  

Vamos começar? A Merckel está bem impaciente. Até mostrou a língua para a Dilma. O Putin já avisou que não pode perder tempo, pois tem uma Copa para organizar daqui a 4 anos. Não vai ficar para o coquetel, mas foi flagrado enfiando algumas coxinhas no bolso.

Antes da bola rolar, é de bom tom dizer algumas palavras. Para o mundo, é claro. Em tupi-guarani...brincadeirinha. O que vocês insistem em chamar de Arena, para nós é "estádio", palavra que traz grandes recordações da era mais romântica do futebol. De quando juntávamos o troco do pão para comprar ingressos. Da época do cimento gelado das gerais. Dos alambrados. Da bola de capotão.

Se quiserem manter o nome de "Arena", tudo bem. Mas escrevam corretamente o nome do estádio (risos). "Corinthians" é sempre com o agá no meio. Corinthiano também. Não aceitamos apelidos para a casa nova, principalmente aqueles no aumentativo.


"Itaquera" nunca teve o trema. E nunca tremeu. Na linguagem dos índios, quer dizer "pedra dura". Mesmo que role, continuará sendo dura na queda. Não meu, senhor, não dá para traduzir como Rolling Stone. Escreva assim, sem o trema.

Registre também que esta Copa no Brasil trouxe um importante legado. Basta olhar ao redor. Túnel, viaduto e passarelas. Uma faculdade estadual ao lado. Um movimentado shopping à frente, que será ampliado. A dez minutos de automóvel, um pronto-socorro recém inaugurado. Olhe com mais atenção! Ainda não descobriu o verdadeiro legado. Está bem ali, visível, na cara das pessoas.

Dos Itaquerenses. Dos sãomiguelenses. Dos ermelinenses. Do penhenses. Dos cangaibanos. Dos moradores da Cohab. Veja que há orgulho estampado no rosto de quem passou a ser tratado como cidadão de verdade. Essa gente finalmente abocanhou uma boa fatia dos impostos que o Estado arrecada, geralmente destinados às causas dos bairros mais nobres. E graças à Copa. Graças a quem trouxe a Copa para cá.



Pois hoje, como Itaquera se transformou no centro do mundo, os outros lugares vivem o seu dia de periferia. Quem sabe assim seus moradores sintam na pele o que é viver numa espécie de subsolo. Ou entendam que nesta cidade todos têm direito a uma vida digna. Opa...quem sabe teremos aí mais um legado...

Priiiiii...e começa a Copa das Copas...


sábado, 7 de junho de 2014

Alckmin: mais do mesmo

O “jeito Alckmin” de resolver os problemas do Estado se resume a uma atitude: mandar a PM descer o cacete em tudo o que se mexe. Dizem até que ele enviou um batalhão ao Sistema Cantareira, para obrigar a água a descer pelos canos; e deslocou a tropa de choque na direção da USP Leste para conter a expansão do gás metano no terreno contaminado...
Neste último mandato, a truculência do governador esteve presente no Pinheirinho. Na invasão da Reitoria da USP. Na greve da Unesp. Até nas marchas da maconha.
Na periferia de São Paulo, a presença “ostensiva” da PM na vida dos cidadãos é rotineira – com a palavra as mães de maio. Atualmente, só o movimento dos sem-teto tem sido poupado, talvez porque um dos líderes é filho de um assessor tucano. E não deixa de ser interessante observar de camarote o desgaste dos governos federal e municipal em ano de eleição.
Obviamente, na greve do Metrô, Alckmin não poderia agir diferente do que é seu costume, pois o uso da força faz parte da sua natureza autoritária e por saber que uma parcela dos paulistanos “adora” demonstrações de violência chapa-branca. Contudo, passados 50 anos do golpe, é chocante ver imagens da ocupação militar nas estações do metrô, como se estivéssemos sofrendo um ataque terrorista, semelhante aos do seriado “24 horas”, aquele, do Jack Bauer. Dá arrepios.
Tal ocupação não deixa de ser um atentado. À democracia, principalmente, pois revela a incapacidade deste governador em negociar, e que tenta mandar às favas o direito de greve, mesmo que seja uma paralisação inoportuna, que só angariou a antipatia dos usuários, um tanto atormentados pelas manifestações esquisitas que pipocam na cidade.
Só espero que os metroviários, cujo sindicato tem forte influência do PSTU, reflitam a respeito das estratégias adotadas, como o gesto infantil de pedir catraca livre ao governador. Pedir?
Greves assim só contribuem para desgastar ainda mais o movimento sindical, muito abalado pela paralisação surpreendente dos ônibus municipais por membros da oposição e pelas atitudes eleitoreiras da Força Sindical, que só se preocupa em fazer campanha para Aécio Neves.
Numa sexta-feira chuvosa e sem Metrô, na véspera do início da Copa do Mundo, essa central paralisou a avenida Paulista para protestar contra a “política econômica do governo”. Claro, sem repressão da PM. E, curiosamente, por objetivos alheios à liberdade de expressão.

Foto Uol/Folha