Sim, sim, Bye Bye
Brasil é um nosso road movie, o melhor já feito por essas bandas.
Filme de 1979/1980, fala das transformações do País em pleno ocaso
da ditadura militar e do legado dos ditadores (nem tão explícito
assim, afinal, coturnos ainda marchavam na época): a urbanização
descontrolada, o abandono de gente simples à própria sorte, a
devastação consentida das nossas matas, o entreguismo na exploração
das nossas riquezas naturais, o início do consumismo desenfreado e o
anúncio, bem disfarçado, do neoliberalismo que viria alguns anos
depois.
E, claro, a influência
exagerada da TV na vida das pessoas (enfia a antena no rabo, berra
Lorde Cigano) e a americanização crescente dos nossos modos e
costumes. Do nosso vocabulário, que ajuda a deixar mais chique a
abertura de um texto ao se escrever “road movie”...
Se Bye, Bye Brasil
fosse feito em Hollywood, certamente teria lugar de destaque em algum
parque temático de Orlando. Como brinquedo radical. “Embarque na
caravana Rolidei. Viaje por um País Tropical e sinta a aventura de
encarar os solavancos nas estradas de terra de um dos lugares mais
inóspitos do continente. Conheça
o lugar exato de onde sai o mogno que enfeita a sala da sua casa.
Dance ao som dos Bee Gees na discoteca Uma Transa Amazônica na
margem do rio Xingu. Saia do Brasil e vá ao Brazil. Wow!”
Lorde Cigano, Salomé,
Dasdô, Ciço e Andorinha são os desbravadores deste mundo novo, que
cabe numa telinha de TV. Onde se começa a falar uma língua
estranha, mas que não é necessário entendê-la. Cujos personagens
são tão pitorescos quanto desnecessários no script traçado para
nós, brasileiros, a partir da abertura lenta, gradual e segura.
Mas nem tudo é
controlável, sempre arranjamos um bom jeitinho de improvisar, de dar
um drible nos planos do roteirista. Talvez movidos pela saudade.
Saudade do Chico Buarque; da boa música; de roça e sertão; das
agitações políticas; das lutas históricas dos trabalhadores; e da
época em que, bom mesmo, era ter um caminhão, meu amor...
Pois, nessa viagem
imaginária, do final dos anos 70 até os dias de hoje, já estamos
no Bye, Bye Brasil, Parte Quatro ou Cinco, por aí. A saga da
Caravana Rolidei continua. Muita coisa tipicamente nossa já
desapareceu. Ou se transformou. Assim, assim, como num passe de
mágica do Lorde Cigano - pluft. A caravana tanto avançou que já
deixou Altamira para trás (enfia a torre de transmissão de energia
elétrica de Belo Monte no rabo, diria Cigano). Muita gente como a
gente ficou pelo caminho. A última ficha caiu, para sempre. Também
terminaram os créditos do último card, do derradeiro pré-pago e
ninguém percebeu. Haja improvisação para enfrentar os novos
paradigmas.
José Wilker é mais um
grande representante de sua arte a desembarcar da caravana. Vai junto
com ele o ator perfeito, comprometido com a profissão, capaz de dar
personalidade a qualquer personagem, desde que haja uma boa história
para contar. Mundinho, Vadinho, Tenório Cavalcanti, JK...
Com a sua morte, mais
uma partezinha do Brasil deixa de existir. Assim como seus próprios
personagens e seus criadores, muitos deles oriundos da boa literatura
do passado. As boas histórias foram se perdendo pelo caminho,
pularam da carroceria a cada freada brusca na estrada tortuosa da
cultura brasileira e rolaram pela ribanceira. As nossas histórias....
(Antes dos créditos
finais, a grande descoberta de Lorde Cigano: “Tu viu a novidade? O
ipsilone no fim. Eu encontrei um gringo em Belém que me ensinou que
Rolidey tem ipsilone. Porra, como a gente era ignorante, cara.
Hehehe...”)
Fade out, fade out...
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