terça-feira, 29 de novembro de 2011

Cadê a goleada que estava aqui? O UOL comeu...

Muito estranha a Estatística do UOL sobre o Campeonato Brasileiro de 2011. Confesso que, ao longo do torneio, não prestei muita atenção na quantidade de passes errados do meu clube do coração, nem qual foi a perna mais usada para fazer gols. Ou qual é o lado da narina preferido pelos alas brasileiros para ter mais fôlego nas descidas ao ataque. 
Mas, de certas goleadas, eu lembro, sim. Como aquela, no 1º turno, quando o Corinthians bateu o São Paulo por 5 a 0. Para o UOL, a maior goleada pertence ao Palmeiras, pelo mesmíssimo placar.
Por que um jogo entra na estatística e o outro não, quando ambos deveriam aparecer? Ou o UOL quer refazer a história dos clássicos entre o Timão e o Soberano, ou, para eles, o grau de dificuldade para golear o Avaí é bem maior...

sábado, 26 de novembro de 2011

Belo Monte: vídeo por vídeo, prefiro estes...

A construção da Usina de Belo Monte está sendo o destaque das redes sociais por conta de um vídeo com celebridades da Rede Globo, que pede a paralisação das obras da hidrelétrica para evitar um suposto "desastre ambiental" na região do Alto Xingu.
Em contraposição às meias-verdades ditas pelo corpo artístico da emissora, apresento aqui vídeos que representam muito do que penso a respeito, tanto do ponto de vista técnico sobre a necessidade da obra, quanto aos aspectos mais pitorescos sobre o belo monte de bobagens dito com com qualidade profissional.



Na ponta do lápis: os globais decoraram o texto mas não entenderam patavina do que falaram. O vídeo é um pouco maçante para leigos, mas, se você quer conteúdo, tem que ler e assistir de tudo.



Um dos melhores humorísticos da atualidade, o Furo MTV tira um sarro legal das celebridades.



Plágio descarado: a "fonte de inspiração" para os artistas brasileiros foi um vídeo de celebridades americanas pedindo votos para Obama, em 2008.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Eu e meus botões

Eu, cá com os botões do meu colete a prova de balas, discuto se é jornalismo acompanhar policiais na caça a traficantes nos morros do Rio de Janeiro, ou em qualquer morro do Brasil. Sim, argumento, se há uma pauta como essa, destinada a mostrar a eficiência da polícia em suas incursões na senda do crime, é, sim, jornalismo. Mesmo que a reportagem tenha um ângulo de abordagem diferente disso, continua sendo jornalismo.
Digo: “há, claro, a evidente possibilidade de edições sensacionalistas alavancarem a audiência da TV, elevarem o índice de aprovação do governo estadual e, se a sorte ajudar, captarem algo diferente do normal, como a rendição dos traficantes ou uma execução sumária. Aí, será prêmio de reportagem na certa”.
Mas, quais são as chances reais de ocorrer fatos inusitados numa ação que se transformou em rotina no Rio de Janeiro, rebatem os botões. “Tão corriqueira que a cobertura jornalística das ações policiais sempre acontecia num clima descontraído, como apontou o noticiário de hoje”, complementam.
“Porque então não usar imagens de arquivo? É tudo sempre tão igual”, questiona um zíper, costurado na altura do peito. Evidentemente, o colete como um todo tenta se defender das acusações de fragilidade no episódio que resultou na morte do jornalista Gelson Domingos, alvejado por um tiro de fuzil, numa troca de tiros entre a polícia e uma facção na favela de Antares.
Pela manhã, uma emissora paulista escancarou o problema ao colocar a eficácia do objeto de proteção em debate. No final da tarde, o sindicato da categoria apontou que o modelo utilizado não era apropriado para absorver tiros de fuzil. Poderá ser aberta uma sindicância para se descobrir porque o colete não atuou na hora mais necessária. Setores da oposição pensam em convocar o Inmetro, órgão do governo federal, para dar explicações ao Senado sobre os seus métodos de trabalho. Polícia e TV Bandeirantes se eximem de toda e qualquer responsabilidade com o ocorrido.
“Não somos do ramo de comunicação”, continuam os botões. “Nosso negócio é salvar vidas, independentemente de quem nos vista, mas achamos que isso não é 'bem" jornalismo, não. É...shownalismo. Isso mesmo, shownalismo.  Nada que não tenha sido visto antes, mas que assume ares de novidade quando é transmitido em horário nobre, numa espécie de reality-show. Em vez dos Bebebês, os Upepês”.
Pondero que nós jornalistas, temos papel relevante na sociedade: mantê-la bem informada, com isenção e qualidade, colaborando para a sua transformação. Como bons profissionais, cumprimos obrigações contratuais ao aceitarmos reportagens como essas, mesmo que possam contrariar nossas consciências.
“Vendem sua força de trabalho, mas não controlam o resultado disso”, afirmou um velcro que parecia alheio à discussão. “O fato é que a reportagem frustrada rendeu inesperada audiência, bem superior à que alcançaria se houvesse êxito na ação. Afinal, as últimas imagens de Gelson, no momento de sua morte, estão nos portais da internet do mundo inteiro, nas tevês de todo o País, levando aos espectadores o vício por cenas cada vez mais mórbidas”.
“Uma coisa é cobrir guerras, golpes e revoluções, que por mais violentos que sejam, estão sujeitos a tratados internacionais para preservar a vida dos jornalistas. Outra coisa é a mídia tentar transformar uma simples perseguição a traficantes numa batalha épica, por questões meramente mercadológicas. Nós temos que repensar a estrutura dos próximos coletes a prova de balas, mas vocês têm que repensar o futuro da profissão”, disparou.
Bem, já não há mais tempo para prolongar a conversa, avisa-me uma microcâmera instalada em minha sobrancelha esquerda. Visto o colete (sob seus protestos), guardo no bolso mais alguns apetrechos tecnológicos e parto para outra missão. Desta vez, fui escalado para desvendar as denúncias de abusos sexuais a menores em bailes “funk” no Complexo do Alemão. O tema é bastante familiar, mas tentarei descobrir algo inusitado. Vamos ver no que vai dar.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Pacatos e incautos

Quem faz bolo sabe que, ao menor descuido, ele pode “embatumar”. Se exagerar na batida da massa, desanda. Se passar do ponto na hora de assar, queima. Abrir o forno para dar uma espiadinha pode ser fatal. Ou seja, há limites a serem obedecidos para que o bolo caia no agrado dos que irão comê-lo.
Eu não sou confeiteiro. Não sou apreciador de bolos, principalmente aqueles que ora estão muito doces, ora pouco recheados. Sou um ser político. Como todos. Como os que trabalham na confeitaria. Como os que se postam próximos ao balcão: de um lado, clientes; do outro, atendentes.
Feitas as apresentações, vou agora ao que me interessa – um pouco além de um simples comentário sobre culinária. Não muito longe, pois pretendo falar sobre limites. Os limites do bom senso. Os limites da razoabilidade. Ou daquela tênue linha que, se rompida, pode acionar toda uma engrenagem escondida atrás de uma grande pedra, como nos desenhos animados, estilo “gato e rato”. Bum!
A doença do ex-presidente Lula, ou a reação dos que se julgam seus inimigos, esgarçou a corda tecida com muito esforço a partir da redemocratização do País. Por pouco não houve invasão à fronteira do irracional, habitada pelos mais obscuros sentimentos embutidos na alma do ser. Quando afloram, cegam. Quando vêm à tona, levam à surdez.
A história nos mostra bem isso. O nazismo, o fascismo e outros “ismos” são exemplos. Nossos anos de chumbo ainda latejam. Os torturadores. Os delatores. Os financiadores da tortura. Não fosse pelo chamamento na defesa da pátria - como estratégia de luta - seriam “pacatos cidadãos, da civilização,” como canta o Skank.
Pois de seres pacatos o inferno está cheio, em companhia dos incautos. No Brasil, pacatos e incautos ainda carregam bandeiras - que não são as suas - como estratégia de luta da elite, não mais para buscar subversivos embaixo das camas, mas nas disputas eleitorais das mais tacanhas, como a de 2010. Lembremos: um bolo indigesto feito a partir de ingredientes como aborto, bolinha de papel, bispos retrógrados e muito preconceito.
Tudo regado a ódio extra-virgem, de melhor qualidade, imune à biodegradação que o resultado das urnas deveria trazer. Nas redes sociais, ainda encontramos pedidos para afogar nordestinos; nas avenidas paulistas, lâmpadas fluorescentes continuam pairando sobre as cabeças de homossexuais. Tivemos recentemente a ojeriza à "gente diferenciada" que poderia invadir o bairro paulistano de Higienópolis, caso fosse instalada ali uma estação do Metrô. E agora, agoríssimo, presenciamos o escárnio de parcelas da classe média diante da doença grave do ex-presidente.
Para se ter noção exata da selvageria, a recomendação a Lula para entrar na fila do SUS foi a mais leve, perto de outras, bem sórdidas, que deveriam se tornar impublicáveis fosse o Brasil um pouco mais severo nos casos de mau uso das liberdades que temos para nos expressar (e que custou tão caro a tanta gente!).
Foram tantas, que a criatura assustou demais o criador. O bolo estava começando a desandar. A linha tênue ficou tensionada. E, mais que depressa, jornais e jornalistas conservadores se descolaram das suas crias, deletando mensagens abusivas em suas páginas da internet e desejando pronto restabelecimento a Lula, para que pudessem continuar o embate no campo das ideias. Mesma linha adotada por lideranças da oposição, que faziam questão de ensinar a diferença entre inimigos e adversários.
Em suma. Os aprendizes de Dr. Frankenstein correram para a fronteira que determina os limites entre a razão e a barbárie. Entre a baderna e a governabilidade. Entre as ideologias. E colocaram seus panos quentes antes que se iniciasse a contagem de quem tem mais garrafas vazias para vender, talvez numa correlação de forças diferente de 40 anos atrás.
No mínimo, poderia haver mais facilidades para se aprovar uma nova CPMF, já que há tantos bolsos polpudos preocupados com o SUS. Ou fazer avançar os projetos de regulação da mídia brasileira, a mola propulsora dos ataques preconceituosos que campeiam principalmente em território paulista.
Pois bem, pacatos e incautos cidadãos. Voltem para seus automóveis reluzentes, para seus ipads e para suas quinquilharias importadas caso não queiram entender a política como ela é de fato, e não como está sendo divulgada pelos senhores dos meios de comunicação. Estratégia eleitoral...bolo...massa de manobra...tudo muito bem desenhadinho, para mostrar que há limites a serem respeitados mesmo quando apenas se deseja levar uma vida na base do “pão-de-ló”.