domingo, 29 de dezembro de 2013

O samba do editor doido (e mal intencionado)

   No UOL do dia 26/12/2013: shopping tem o pior natal do últimos cinco anos! Mas, ali, no chapéu, vemos que o faturamento ficou estável. Agora vamos ao texto: o faturamento ficou estável quando se considerou o faturamento das lojas existentes até 2012. Ao se acrescentar as novas lojas instaladas em 2013, sabemos que as vendas cresceram 5%. O presidente da Alshop explicou a "tragédia": "Se não fosse o crescimento orgânico dos shoppings e as expansões, não teria havido crescimento nenhum". 
   Ah, então houve crescimento orgânico e expansões? E elas foram responsáveis pelo crescimento do setor? Entendi. Quanto mais lojas, mais problemas. E, bem lá embaixo, na inversão da pirâmide invertida, lemos que o setor de perfumaria e cosméticos cresceu 10% na comparação com 2012; óculos, bijuterias e acessórios, alta de 9%; jóias e relógios, 9%. Na média, as vendas cresceram 5%. Definitivamente, a crise chegou ao País. Só que não...


À beira do caos


   Retrato da crise no País: nas primeiras horas da véspera de natal, em plena madrugada, os supermercados 24 horas de São Paulo estão lotados. Bombando. As pessoas se espremem nos corredores e encaram filas quilométricas, apesar da distância milimétrica entre si, para sobrar espaço e caber mais gente.
   Essa obsessão repentina por encher carrinhos de supermercado com panetones, castanhas, sidras e aves de “época” é o sinal mais evidente de que a crise anunciada por economistas de ponta já chegou.
   Com certeza, a população teme o desabastecimento ao longo de 2014, com ápice no natal do ano que vem. A ordem, portanto, é estocar. Guardar tudo na geladeira e esperar pelo pior. A venda de freezers aumentou significativamente durante a semana.
   O economista aposentado Edimar Bocha afirma que os estoques de frutas cristalizadas e uvas passas estão praticamente zerados e que essa escassez vai refletir na Páscoa. “As colombas pascais estarão pela hora da morte”, aponta.
   Já o sociólogo Demérito Banholli enxerga uma possibilidade de revolta contra o governo quando todos descobrirem que, na verdade, o peru não apita quando estiver assado. É apenas um termômetro. Demérito adverte: “o cidadão vai ficar horas esperando um barulhinho qualquer e quando descobrir que só vai ter um pedaço de carvão para servir na ceia será o caos”.
   Especialistas em sobrevivência na selva comentam que, após a estocagem de alimentos, o próximo passo da população será fugir para as montanhas. Há previsão de grandes congestionamentos nas estradas que levam a Campos do Jordão, Santo Antonio do Pinhal, Petrópolis, Nova Friburgo e Gramado. Para se chegar a São Tomé das Letras, só por disco voador.
   Para a economóloga Miriam Lentão, “tudo parece caminhar muito bem, mas isso não é bom. Porém, se tudo caminhar mal, não será tão mau.” Como militante da corrente adversativa da economia, ela entende que o governo até que se esforça para reduzir os gastos públicos. Contudo, o faz de forma desastrada.   Todavia, acha que o atual governo ainda tem uma saída: a renúncia.
   Especialista no ramo de laticínios, Lentão faz o seu vaticínio para 2014. Para ela, o peru será o grande vilão da economia e puxará a alta da inflação. A procura exagerada pela ave neste natal elevou o preço do peito de peru fatiado, com reflexos negativos nos demais embutidos.
   Presunto gordo e mortadela com azeitonas tiveram alta de até 50% no atacado. Chouriço e alheira, só por encomenda. Rosbife, só no mercado negro. Sem falar nas dificuldades para importar lombo canadense.        Diante da gravidade do problema, Miriam lamenta: “se com esses frios a situação está assim, imagina a copa...”


sábado, 7 de dezembro de 2013

Woza Mandela Sibizi' Gama Lao...

Dance, Mandela! Dance ao som de Carlos Santana, que lhe prestou homenagem quando a luta pela liberdade estava a todo vapor e você a comandava da cadeia. Dance, ao lado dos grandes lutadores da história; daqueles que sempre desejaram um mundo mais justo e plantaram suas sementes... vamos lá, marcando o ritmo com a ponta dos pés...abra o sorriso mais largo que puder, o sorriso dos justos, o sorriso do dever cumprido.

"Nós podemos mudar isso para um lugar melhor para todos...", diz a música do guitarrista mexicano. Contagiante, contagiante. Irresistível. O desejo de liberdade vai se espalhar pela face da Terra...

("Música e dança me deixam em paz com o mundo." - Nelson Mandela)


O jornalixo de sempre: ódio e crueldade

O julgamento, a condenação e o cumprimento de penas não foram suficientes para abrandar o ódio da imprensa brasileira contra dois ex-dirigentes do PT, presos por causa do mensalão.

A nova etapa é promover o linchamento moral dos condenados a cada tentativa de buscar os benefícios concedidos por lei aos condenados em regime semiaberto. Hoje, O Diário de São Paulo foi longe demais nas tentativas de humilhar e desqualificar Dirceu e Genoíno.

Uma aberração jornalística que beira o sadismo. Basta olhar com atenção os títulos, o olho e o chapéu da chamada de capa para sentir vergonha alheia por causa dos maus profissionais do jornalismo que não sabem o significado da palavra "ética". Reparem na foto de Genoíno, "atingida" por tomates num trabalho de photoshop: pura crueldade.

Só mentes doentias podem se aproveitar de uma profissão de cunho social para demonstrar tanto ódio aos seus adversários políticos, num flagrante desrespeito aos seus eleitores e a importantes personagens públicas, que lutaram pela democracia. Lembro que eles foram condenados num processo controverso, sem provas contundentes e repleto de falhas, na opinião de muitos juristas.

Registro aqui o meu total repúdio ao jornaleco e a quem produziu tamanha barbaridade.


De volta a 1977

(publicado no facebook no dia 13 de outubro de 2013)

Pura sacanagem o que a internet faz comigo a essa hora da madrugada. Em pleno dia 13 de outubro, na data que entrou para a história do futebol como o dia da quebra do jejum. Ou quando o Corinthians saiu da fila de quase 23 anos, período em que ficou sem conquistar campeonatos paulistas.
Graças à rede mundial, tenho acesso fácil aos depoimentos de torcedores, às narrações de rádio da época, às imagens e fico tentando segurar as lágrimas para não manchar o sofá novinho em folha, comprado com tanto sacrifício. Saiba, leitor ou leitora, que lágrimas de corinthiano não secam, alguém vai reclamar do tecido molhado!
Movido pela emoção, me devolvo ao dia 13 de outubro de 1977, uma quinta-feira, ao exato momento em que acabo de sair do hospital onde minha mãe tinha sido internada dias antes, em decorrência da esclerose múltipla, doença pouco conhecida até então.
Volto para casa ao lado do meu pai. Falamos pouco no caminho. Em meio à desesperança que a doença provoca, escoramos nossas almas na esperança do tão sonhado título.
Jantamos o arroz-feijão e qualquer coisa que sobrara do almoço. Na mesa, dois lugares vazios. Minha mãe, já disse, no hospital. O irmão mais velho, músico da noite, cumpre sua jornada no “Avenida Danças”, casa noturna do centro.
Os dois corinthianos da família se acomodam no sofá da sala. Enquanto o jogo não começa, faço as minhas contas: bem, tenho apenas 16 anos. Se perdermos, meu prejuízo será menor. A minha idade sem ver o título paulista. Mas meu pai...comemorou o último título aos 27 anos. Já está com 50. Um intervalo doloroso na melhor fase da vida!
O jogo começa. O jogo avança. Está quase para terminar. E no bate-e-rebate da bola que cai no pé de Basílio e do pé do Basílio vai parar na rede e meu pai corre para me abraçar. Abraço forte e demorado. Leva mais tempo que uma volta olímpica no gramado. Quase a duração do jejum de títulos. Pela primeira vez o vejo chorar. Chorar copiosamente, assim, em público: eu, muito perto, e mais 150 mil pessoas, logo atrás, nas imagens da TV. Ao redor, mais alguns milhões de almas alvinegras.
O juiz apita o final do jogo. Descemos a escada do antigo sobrado do Belenzinho. Alcançamos a rua. Ficamos sentados no meio-fio por muito tempo, em meio à festa popular. Quase a duração das 23 voltas olímpicas que fizeram tanta falta no coração dos corinthianos.
Já na alta madrugada, chega a hora de dormir. “Comemorar também cansa, pai. Amanhã vai ser um dia duro. A mãe no hospital, a minha escola, o seu trabalho. Os afazeres domésticos...boa noite, campeão!” Ele retribui o cumprimento e se enrola nas cobertas, feliz por voltar a ostentar a faixa imaginária no peito, a mesma de 1954, que ainda lhe cai muito bem!
 No meu quarto, mal encosto a cabeça no travesseiro e me ponho a sonhar. A viajar no tempo, 35 anos à frente. Bem no período em que o Corinthians salta da América e chega ao topo do mundo, todo poderoso.
Vejo a metade da cidade comemorando nas ruas, observo o orgulho dos mais jovens por serem as testemunhas oculares do melhor que aconteceu em toda a história do clube.
Do mesmo jeito que eu me sinto agora, em 1977, após a conquista heroica! Ou como me sentirei, no futuro que o meu sonho aponta. Momentos de igual emoção. Com uma diferença: em 2012, no ano das grandes conquistas, não terei o “seu” Américo ao meu lado, a correr para um abraço no instante do gol.

Aliás, uma baita diferença...




Humor: Médicos invadem restaurante e vaiam filé a cubana

Inconformados com a vinda dos cubanos, brasileiro inovam no protesto.
(Texto produzido no dia 6 de setembro de 2013, no auge da polêmica com os médicos cubanos)

Fortaleza – Na noite de ontem, um grupo de médicos brasileiros invadiu um restaurante no centro de Fortaleza e protestou contra a crescente influência da pequena ilha comunista na cultura do Brasil. O alvo da manifestação foi o Filé a Cubana, especialidade da casa. Segundo o maitre, Oscar Dápio, os médicos estavam à paisana, sem crachás, jalecos ou estetoscópios no pescoço que pudessem identificá-los.
“Na chegada, foram muito simpáticos. Deram às crianças aqueles palitinhos de enfiar na garganta e distribuíram drágeas de amoxilina aos demais clientes, para combater futuras viroses”, conta Oscar. Acomodaram-se na mesa, olharam o cardápio rapidamente e fizeram o pedido. “Não gosto de carne vermelha, mas manda este prato aqui, ó. Só no filé...”, disse o líder do grupo, Castro Antero Loggia.
“Assim que a comida chegou, todos se levantaram com rapidez e começaram a vaiar o filé a cubana”, relata o garçom Sá K. Rolha. “Foi ensurdecedor”, diz Sá. “Até levamos multa do Psiu”. Em seguida, os manifestantes gritaram algumas palavras de ordem: ENGORDATIVO! ENCHARCADO! VOLTEM PARA CUBA, BANDO DE EMPANADOS!
Uma jovem cardiologista, doutora Nicole Esterol, retirou o receituário do bolso, rabiscou algumas palavras e fez um breve discurso. Ela disse que a popularização desses pratos faz parte da estratégia do governo para implantar o regime comunista no Brasil. “O povo engorda, fica doente e depois chamam esses guerrilheiros travestidos de doutores para tratá-los”, comentou. “Além de usarem hipnose, creio que eles colocam alguma coisa na água”, disse.
Nicole também fez uma revelação: está convicta de que 10% do valor cobrado pela iguaria vão para Cuba, para financiar a ditadura. “Está aqui, nesta revista semanal, vejam...”
Ela encerrou o discurso com gritos de “não passarão”, no que foi acompanhada pelos demais compan...ops, colegas de profissão.
Segundo o chef, tudo foi muito rápido, não deu tempo de a comida esfriar. “Em minutos, devoraram o filé sofregamente, nem se certificaram se a carne era Friboi”. Com as ervilhas que sobraram, registraram o protesto na bandeja, em letras garrafais: ABAIXO FILÉ CASTRO!
Na saída, chegaram a ameaçar o proprietário do restaurante, o finlandês Nobol “Che” Vicky. “Ou eu retiro o Filé a Cubana do cardápio ou os White Blocs retornarão armados com coquetéis margarita, feitos com garrafas de rum”. Segundo Che, eles irão acender a tocha com charutos para “sentirmos o gostinho do próprio veneno”. “Estou assustado. Pretendo mudar de ramo. Talvez um quiosque dos alfajores Havanna”, confessa o proprietário, “sim, Havanna com dois enes, para evitar problemas no futuro”.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Fora de foco

(Texto produzido no dia 13 de junho de 2013, dois dias depois do 3º Ato do Movimento Passe Livre)

Quando uma manifestação popular legítima descamba para a violência e chega ao limite do ódio, é sinal de que o movimento perdeu o foco. Quando alguns manifestantes depredam sedes de partido – especialmente daquele que, desde as suas origens, sempre esteve à frente de importantes mobilizações em favor da democracia – significa que a visão ficou temporariamente turva.
Nessas horas, o bom senso recomenda posicionar a lente, a princípio, na grande angular. Para ver o lado, acima e atrás, como diz uma canção de Gilberto Gil. E captar uma série de detalhes que farão a diferença na saúde do movimento.
Servirá para reconhecer, por exemplo, as movimentações da PM para fomentar provocações, como bloquear determinadas ruas só para desviar a passeata do trajeto escolhido; ou para enxergar a infiltração de elementos estranhos à causa, que terão a missão de espalhar a culpa da parte para todo o resto do grupo; ou, ainda, para perceber que a exigência pela revogação pura e simples do aumento das tarifas não é, definitivamente, uma tentativa de abrir o diálogo com as autoridades.
Outro equívoco clássico dos manifestantes é abusar do close-up em suas ações. De tal forma que parecem focar apenas nas tarifas dos ônibus e, consequentemente, na Prefeitura de São Paulo. Intencionalmente ou não, o governador paulista está sendo poupado pelos manifestos justamente numa das áreas mais críticas de sua administração, que só perde para segurança pública e educação.
Bastaria apenas um plano americano para registrar a precariedade do Metrô no atendimento aos seus usuários. Façam um simples ensaio: tentem entrar na estação Itaquera nas primeiras horas da manhã. Ou cismem de voltar para casa às seis da tarde na Estação Sé. Todos os dias da semana. Um trabalhador normal sabe do que estou falando. Mas quem não tem esta rotina, pode duvidar dessa realidade.
Em resumo: para não queimar o filme irremediavelmente, é preciso ampliar o ângulo de visão. Para ter apoio permanente da plateia, que não só assiste, mas torce pelo sucesso do movimento, é necessário ser um pouco mais criativo. Dar asas à imaginação ao lidar com soldados treinados para arrancar lágrimas dos protagonistas por meio de bombas de efeito moral.
Com mais direção e uma boa dose de bom senso, o enredo deixará de ser um filme de ação ou uma comédia dramática, que vem fazendo a delícia da imprensa conservadora – para eles, um exemplo a não ser seguido.
Que venha o foco e teremos, afinal, um bom documentário.


Dia 20 de junho de 2013, Sétimo Ato do Movimento Passe Livre. A partir do Terceiro Ato, uma série de acontecimentos alteram o rumo do movimento. Na ordem: a PM paulista age com extremo grau de violência, sem poupar manifestantes e jornalistas. O movimento ganha corpo. Grupos de extrema-direita começam a se infiltrar nas manifestações. Os partidos de esquerda, que participaram dos primeiros atos, são repudiados. Suas bandeiras também. As redes sociais insuflam parte da sociedade. Acontecem mais depredações. Organizações como Anonymous e Blackblocs saem do anonimato. Governos estadual e municipal recuam e cancelam aumentos. Neste dia 20, bandeiras do PT são queimadas. Militantes são agredidos. Grupos de extrema-direita controlam a passeata. Nos dias seguintes, os protestos se alastram pelo País.  Parte da classe média sai às ruas para protestar contra o governo federal. Os "coxinhas" roubam a cena. Surgem os primeiros registros de morte. O alvo principal passa a ser a Copa das Confederações. O índice de popularidade da presidenta despenca. 

A retomada

Confesso que a preguiça às vezes vence. Entre as frases curtas do twitter, as discussões em tempo real do facebook e as postagens mais apuradas no blog, este último está perdendo de goleada. Entretanto, numa boa espiada nas estatísticas, descobri que o Imprenso Logo Existo teve uma súbita procura no mês de outubro, alterando significativamente a curva de acessos. E, de todas as postagens, a "Imprensa Linfomaníaca", a respeito de uma notícia no Jornal da Tarde, despertou um interesse acima do normal.
Justamente aquela em que eu uso o termo "PIG (Partido da Imprensa Golpista)" com mais ênfase. Sabemos que este "partido" tem seus olheiros, mas o que haveria de querer comigo, um blogueiro bissexto, que se recusa até a inserir propagandas do Google para não transformar um espaço de opinião em algo comercial? Será que um soldadinho militante da grande imprensa vai querer me responsabilizar pela extinção do JT, por causa daquela crítica? (risos, risos, risos...)
Bem, o fato é que eu tenho novos leitores. Assim, no plural, ou mesmo no singular. O que significa, de qualquer forma, um incentivo. Motivação. Vou despejar aqui alguns comentários que ficaram escondidos na memória do computador, outros que foram direto para o facebook e alguns novos. Então vamos lá...mãos à obra!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A ostra, o juiz e o ascarel

   Vir a Florianópolis e não comer ostras é o mesmo que passar por Itaquera sem dar uma espiadinha nas obras do estádio do Timão. É claro que a premissa vale para quem gosta de frutos do mar e torce pelo Corinthians, naturalmente. Para os demais mortais, o exemplo pode ser outro: ficar em Floripa e não conhecer suas praias equivale a ir a Paris e não visitar a Torre Eiffel.
   Aqui, na chamada Ilha da Magia, o que mais tenho feito é pular de praia em praia sempre que o sol aparece com suas baterias carregadas. Sigo uma rotina que se repete há pelo menos uma década e, apesar de conhecer a maioria dos lugares como a palma da minha mão, há sempre uma nova linha para ser interpretada, como diria o bom quiromante. Ou como se dá em certas obras de arte: basta um novo olhar sobre o mesmo objeto para se descobrir algo diferente...
   A viagem seria perfeita se não estivesse faltando um dos principais itens do roteiro: a degustação de ostras, carro-chefe da gastronomia local. No exato momento em que maltraço estas linhas, a sua produção e comercialização estão proibidas na Grande Florianópolis, que engloba cinco municípios. É mais ou menos como chegar a Paris e se deparar com a Torre Eiffel interditada...por falta de “habite-se”!
   A história dessa proibição começou da forma mais surrealista possível. Em novembro de 2012, houve uma tentativa de furto de fios de cobre de alguns transformadores fora de uso, de propriedade da Celesc, distribuidora de energia elétrica pertencente ao governo do estado de Santa Catarina.
   Os equipamentos, de grande porte, repousavam num terreno da empresa, localizado no Sul da Ilha. O gatuno entrou na área desprotegida e, ao tentar abri-los, liberou 12 mil litros de óleo isolante, que escorreu pela terra, atingiu um córrego nas proximidades e chegou ao mar. Justamente numa região de cultivo de ostras, mariscos e berbigões.
   Na ocasião, a Celesc fez boca-de-siri sobre o episódio: não contou para ninguém. As providências foram tomadas, de forma precária, apenas em dezembro, com a drenagem do córrego. Análises laboratoriais indicaram a presença de ascarel, substância muito utilizada em equipamentos elétricos até 1981, quando o seu uso foi proibido no Brasil por ser altamente tóxico, cancerígeno e carcinogênico.
   Mas uma brecha na lei permitiu que equipamentos em operação, apesar de conter ascarel, não precisavam ser substituídos. Com certeza, ainda deve haver muitos instalados por aí, pertinho das aglomerações urbanas. Quando forem aposentados, devem ser acondicionados em locais seguros, de acordo com padrões internacionais. E bem longe das garras de gatunos ou de simples curiosos. O oposto do que fez a Celesc.
   Assim que soube do fato, o órgão de controle ambiental do estado interditou o trecho de mar possivelmente contaminado, nas proximidades de Ribeirão da Ilha. Nada de banhos, passeios de escuna ou extração de ostras na área restrita. Porém, um juiz federal pegou carona no desastre ambiental provocado pela Celesc e estendeu a proibição da maricultura a toda a Grande Florianópolis, por outro motivo: a falta de um relatório de impacto ambiental para este ramo de atividade. Ou, para efeito de comparação, a falta de “habite-se” para a Torre Eiffel.
   Ao menos os banhos de mar continuam liberados na costa catarinense. Por via das dúvidas, faço deste parágrafo uma declaração de que as minhas constantes visitas ao litoral florianopolitano causam pouco impacto ao ambiente. Recolho as latas de cerveja vazias, os copos amassados de caipirinha, os espetinhos sem o queijo coalho, os sabugos de milho, os baldinhos de plástico, as pazinhas e o velho tratorzão da Estrela que me acompanha nas praias há mais de 40 anos. O único vestígio da minha presença são as pegadas na areia, visíveis até a maré subir.
   Quanto à falta de ostras, ainda posso me virar em São Paulo, assim que retornar da viagem. Talvez em algum boteco de Itaquera que ofereça os espécimes de Cananeia, bem apreciados, ainda mais se a vista da mesa dar para o futuro estádio do Corinthians.
   Mas, o que dizer dos 500 produtores que vivem apenas da maricultura, responsáveis por 55% do abastecimento no País? Ou das dezenas de restaurantes que têm a ostra como prato principal e já estão às moscas? Ou do comprometimento da safra de 2014 se o juiz não voltar atrás? Ou do silêncio comprometedor da Celesc, do governador do estado e de parte da imprensa local, que fazem bocas-de-siri em relação ao episódio?
Bem, no final das contas: será que a Torre Eiffel está com a papelada em dia?

No pique de 2013

   Cá estamos nós ao final de mais uma prova de pedestrianismo. Uma estranha maratona, onde começamos na velocidade dos 100 metros rasos e vamos terminando como uma espécie de marcha atlética - todos trôpegos, na tentativa de cruzar a linha de chegada na hora exata. Às vezes um último recurso pode ser um salto a distância, na tentativa de abreviar o percurso.
   É também uma esquisita prova de revezamento, na qual passamos o bastão a nós mesmos, ao final das 12 badaladas que encerram o período. Dizemos: “agora vai, 2013 é seu!”
   “Ah, e capriche nas resoluções, hein? Nada de financiamentos muito longos! Procure tomar os remédios na hora certa! Conserte aquela tomadinha da lavanderia que não funciona há anos! Corte o sal! O açúcar! O álcool! A picanha! Fuja dos embutidos!    Faça o seu exame de próstata! E pare de tomar refrigerantes no bico da garrafa! É muito feio!”
_ Quer o bastão de volta? Responde o outro eu...
_ Pode ir, confio em você. Vai fundo...!
   E, no primeiro centésimo de segundo do novo ciclo, aceleramos no ritmo dos jamaicanos; sob espocar de fogos, como se fosse mais um título do Corinthians; todos de branco, para ser vistos no escuro. E damos uma boa olhada no retrovisor para gravar na memória aquilo e aqueles que não conseguiram alcançar a virada. Aprender com o passado pode ser a melhor estratégia de corrida.
   No mais, podemos trocar de raia à vontade, pois não se trata de uma competição. Jogar beijos e sorrisos aos demais participantes. Apreciar cada perlage de um bom espumante, pois dizem que as pequenas bolhas nos fazem flutuar...só não beba no gargalo, lembre-se da resoluções...
_ Mas não era para cortar o álcool? Xiii...
   Calma, calma, a maratona está apenas começando. E nesta relargada, o bafômetro é totalmente dispensável. As resoluções só entrarão em vigor no primeiro dia útil. O mais importante é o “novo eu” estar bem aquecido, com um bom plano de prova e com o espírito revigorado. E ter em mente que estaremos aqui e ali, talvez acolá, mas sempre pelas redondezas. Pois quem vai correr, e muito, não é o nosso corpo: é a pista! É a pista!
   Como já disse, estranha maratona...feliz 2013!