quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Treinadores

   1 - Ele poderia ter ficado apenas contando o dinheiro ganho nos últimos anos, fruto das suas conquistas e bons contratos; poderia ter treinado algum clube de ponta do futebol brasileiro; poderia ter tentado a sorte em algum clube da China para encher definitivamente o bolso; poderia ter virado comentarista de futebol em algum canal pago na época da Copa do Mundo.

   Só que não.

   Ao sair do Corinthians no final de 2013, TITE fez a opção pelo aperfeiçoamento profissional, cumprindo estágio no Real Madrid. Claro, aguardava um convite da CBF para dirigir a seleção, mas para sua sorte, ele não veio.

   Voltou ao Corinthians em 2015 e confirmou que é muito mais do que um daqueles treinadores gaúchos retranqueiros, que primeiro tentam não tomar gols e jogam por uma bola para vencer partidas. Já havia demonstrado o seu talento no glorioso ano de 2012, aquele dos troféus internacionais.

   E retornou "vitaminado", como aquele excelente violonista que só usava acordes naturais e incrementou seu trabalho introduzindo acordes dissonantes.

   Aos demais treinadores brasileiros, a forma de jogar que Tite impôs ao Timão, que resultará no provável título antecipado, soa como um forte recado: "estudem, estudem".

   Pois a crise do futebol nacional não deve ser creditada apenas à grande leva de dirigentes medíocres e jogadores medianos, mas também a treinadores acomodados, preguiçosos e antiéticos que treinam clubes na base do "piloto automático".

   2 - Em meio ao marasmo, outra exceção é MURICY. No passado, ele afirmava que, nas horas vagas, gostava de assistir partidas de futebol internacional. E também está fazendo um estágio na Europa em busca do seu aperfeiçoamento. Deve apresentar novidades no seu retorno aos campos.

   3 - Um treinador que chama a atenção é ARGEL, do Inter. Mais pelos defeitos do que pelas virtudes no seu desempenho profissional. Foi um jogador mediano, que batia até na sombra. Era daqueles em que até o santinho da medalhinha se agachava quando ele estava por perto.

   Pelo que vi em algumas partidas, o elenco gaúcho assimilou bem a nova filosofia de trabalho. O time costuma usar "força excessiva" nas jogadas. Na partida de volta contra o Corinthians, Renato Augusto foi caçado em campo.

   O treinador também se mostrou capaz de fazer provocações gratuitas, ao afirmar que o Palmeiras era mais completo do que o Corinthians, um jeito meio infantil para justificar um empate em casa pela Copa do Brasil.

   No jogo contra a Ponte Preta, ele mostrou que o fairplay não é seu forte. Orientou seus jogadores a não devolver a bola ao adversário, que havia paralisado o jogo para atendimento ao seu jogador. Do arremesso lateral saiu a jogada do gol que deu a vitória aos gaúchos.

   Argel é outro que deveria estudar mais. Não só estratégias de futebol, mas, principalmente, ética no esporte.

   4 - Nas Minas Gerais, o destaque da semana foi a tragédia no campo de mineração na região de Mariana. Vi na TV que o técnico do Cruzeiro, MANO MENEZES, fez um apelo aos torcedores do clube para fazer doações às vítimas do deslizamento da barragem.

   Da parte de LEVIR CULPI, treinador atleticano, não soube de nenhuma manifestação nesse sentido. Lembro que ele deu declarações criticando o mar de lama no futebol e no País do futebol. Segundo o treinador, está tudo manchado. Será que ele se calou quando um mar de lama de verdade destruiu vidas e um bairro inteiro? Não acredito que ele vá manchar a sua carreira com esta omissão.

   5 - A torcida corinthiana sabe que Cássio, Gil, Elias e Renato Augusto têm todas as qualidades necessárias para vestir a camisa da seleção. No entanto, acredito que a convocação do quarteto não tenha levado em conta apenas o talento de cada jogador. Com a seleção em baixa, sem credibilidade junto aos brasileiros, convocar quatro jogadores do time mais popular do País é uma tentativa de quebrar resistências e angariar apoio para "a causa".

   Se é esse o objetivo, DUNGA comete um erro. Tem que colocá-los no time titular. E não é só isso: para ter bom rendimento, é preciso que eles joguem dentro das suas características atuais, que ajudaram o Timão a se tornar o campeão do Brasil.

   Só que Dunga tem um perfil semelhante à maioria dos treinadores brasileiros (acomodados, preguiçosos, não estudam etc etc). ele também faz uso do seu piloto automático, um pouco mais carrancudo que a média. Sua antipatia também é automática.

Antes que alguém pense que, no quadro atual, a solução é a convocação de Tite, eu me antecipo. Como afirmei antes, Muricy também foi buscar aperfeiçoamento. Está sem clube, no momento. Deseja voltar. E também é carrancudo! Enfim, ele pode ser o cara certo para a seleção.

   Neste arranjo, TITE fica livre dessa sina para fazer de 2016 o ano mais glorioso da sua carreira e da história do Corinthians. Acredito que, até o início da próxima temporada, ela vai estudar mais um pouquinho.


Uma descida emocionante!

   Na última sexta-feira, só me faltou ter um bugue para descer a serra da rodovia dos Tamoios com emoção. Caminhões, neblina, velocidades que oscilam entre 30 e 40 km/h, radares e o cúmulo do improviso naquilo que o governo paulista chama de "operação descida".

   A duplicação da rodovia prometida pelos tucanos há 20 anos, só iniciada em 2013, parou no trecho do planalto. Na serra, a pista continua simples. Simples demais. Nos feriados, ela é duplicada por meio de cones que invadem a pista contrária. Genial, não?

   Depois de trafegar um tempão na direita atrás de um caminhão, consigo ultrapassá-lo. Mas, numa curva, dou de cara com um ônibus que sobe a serra e invade a minha pista. Quase um beijaço! Consegui evitar o choque desviando na hora agá.

   Obviamente mandei o governador negligente para a PQP. Só não o xinguei mais porque ele continua fazendo obras na pista por meio da iniciativa privada: duas praças de pedágio num trecho de 70 km, que se somarão às três existentes na Airton Senna e Carvalho Pinto. Total: 5 pedágios em 170 km na ida. E mais cinco para voltar.

   Que bom! Que bom! É a indústria do pedágio a todo o vapor para espantar a crise. Um salve para o MP, preocupadíssimo com a abertura da avenida Paulista aos pedestres. Mais um salve para o Tribunal de Contas do Estado que deveria investigar onde é aplicado o dinheiro das multas dos radares, numa rodovia cuja velocidade é de 60 km/h em 90% do trecho de planalto, além dos já citados 30 km/h na serra.

   Outro salve para uma parte dos eleitores paulistas, atentos apenas à cor vermelha das ciclovias da capital.