Para os
telejornais da Globo, qualquer desligamento de energia é tratado simplesmente
como "apagão", termo que sempre ganha contornos alarmistas, associado
a uma suposta crise energética no Brasil.
Porém, os
desligamentos que ocorreram ontem em vários pontos do País têm um nome técnico:
Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC), sistema especial de proteção, que
serve para evitar o colapso do sistema elétrico sempre que são detectadas
perturbações no sistema interligado
nacional. Daria hoje uma boa pauta, se certos editores estivessem interessados
na boa informação.
O ERAC
existe há anos, desde os tempos em que o sistema elétrico era quase totalmente
estatal e a energia elétrica não era tratada como commodity. Ou, desde a época
em que o povo falava que o "fuzil" queimou, em alusão à troca do
popular fusível...
Diante de
uma perturbação do sistema que provoque queda da frequência (abaixo de 60
hertz), o ERAC atua cortando cargas pré-estabelecidas pelas distribuidoras,
visando tornar o consumo compatível com a oferta de energia, em diversos
estágios, dentro de valores recomendados pelo ONS/Aneel. Essas perturbações
podem ser queda de linhas de transmissão, desligamentos de usinas
hidrelétricas, picos exagerados de consumo etc.
Trata-se,
portanto, de uma prevenção. Não tem cabimento algumas distribuidoras se mostrarem
surpresas com os desligamentos ou dizer que obedeceram a uma ordem do ONS, pois
o esquema atua automaticamente, como mostra a seguinte nota distribuída pelo
órgão às 14h30:
"Para
evitar a propagação do evento, houve atuação do primeiro estágio do Esquema
Regional de Alívio de Carga (ERAC), causando o desligamento automático de
cargas pré-selecionadas pelos agentes distribuidores locais, visando
restabelecer a frequência do sistema.Às 14h41, a interligação Norte-Sudeste foi
religada e a frequência normalizada. Já foi iniciado o processo de recomposição
das cargas desligadas."
Como se
vê, são as distribuidoras que determinam as cargas/regiões a serem atingidas.
Porque a Eletropaulo escolheu áreas que incluem o Metrô, só ela poderá
responder.
E, ao
contrário do que o Jornal Nacional e o Jornal da Globo insinuaram ontem, os
desligamentos não estão diretamente relacionados aos possíveis atrasos nas
obras de novas geradoras. Esta associação sinistra é pura má-fé. Pode haver
potência instalada em abundância no País, mas o que prevalece é a relação entre
a demanda e a oferta de energia em determinado instante.
Graças ao
ERAC, muitos blecautes já foram evitados no País. Ele só não evita o blecaute
permanente da nossa mídia, que procura transformar uma rotina técnica numa arma
para fazer política.