quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Sem alarmismo, por favor

Para os telejornais da Globo, qualquer desligamento de energia é tratado simplesmente como "apagão", termo que sempre ganha contornos alarmistas, associado a uma suposta crise energética no Brasil.

Porém, os desligamentos que ocorreram ontem em vários pontos do País têm um nome técnico: Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC), sistema especial de proteção, que serve para evitar o colapso do sistema elétrico sempre que são detectadas perturbações no sistema interligado nacional. Daria hoje uma boa pauta, se certos editores estivessem interessados na boa informação.

O ERAC existe há anos, desde os tempos em que o sistema elétrico era quase totalmente estatal e a energia elétrica não era tratada como commodity. Ou, desde a época em que o povo falava que o "fuzil" queimou, em alusão à troca do popular fusível...

Diante de uma perturbação do sistema que provoque queda da frequência (abaixo de 60 hertz), o ERAC atua cortando cargas pré-estabelecidas pelas distribuidoras, visando tornar o consumo compatível com a oferta de energia, em diversos estágios, dentro de valores recomendados pelo ONS/Aneel. Essas perturbações podem ser queda de linhas de transmissão, desligamentos de usinas hidrelétricas, picos exagerados de consumo etc.

Trata-se, portanto, de uma prevenção. Não tem cabimento algumas distribuidoras se mostrarem surpresas com os desligamentos ou dizer que obedeceram a uma ordem do ONS, pois o esquema atua automaticamente, como mostra a seguinte nota distribuída pelo órgão às 14h30:

"Para evitar a propagação do evento, houve atuação do primeiro estágio do Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC), causando o desligamento automático de cargas pré-selecionadas pelos agentes distribuidores locais, visando restabelecer a frequência do sistema.Às 14h41, a interligação Norte-Sudeste foi religada e a frequência normalizada. Já foi iniciado o processo de recomposição das cargas desligadas."

Como se vê, são as distribuidoras que determinam as cargas/regiões a serem atingidas. Porque a Eletropaulo escolheu áreas que incluem o Metrô, só ela poderá responder.
E, ao contrário do que o Jornal Nacional e o Jornal da Globo insinuaram ontem, os desligamentos não estão diretamente relacionados aos possíveis atrasos nas obras de novas geradoras. Esta associação sinistra é pura má-fé. Pode haver potência instalada em abundância no País, mas o que prevalece é a relação entre a demanda e a oferta de energia em determinado instante.

Graças ao ERAC, muitos blecautes já foram evitados no País. Ele só não evita o blecaute permanente da nossa mídia, que procura transformar uma rotina técnica numa arma para fazer política.



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