Defesa
da ecologia e proteção ao meio ambiente, no Brasil, são feitas assim: um olho no
desenvolvimento sustentável e outro no sustento dos grupos econômicos. O caso
da empresa Controlar, na cidade de São Paulo, é um grande exemplo do quanto é
vesgo o apelo ambiental de boa parte dos nossos governantes.
Responsável
por fiscalizar as emissões de gás carbônico dos automóveis paulistanos a um
preço equivalente à taxa para licenciamento de veículos, a empresa entrou na
mira do Ministério Público paulista, sob suspeita de vencer licitação viciada,
entre outras acusações. O modelo de fiscalização já está sendo exportado para
outras cidades e, a despeito dos parcos resultados ambientais, apresenta um
enorme apelo, digamos, “comercial”, graças à arrecadação compulsória.
Outra
medida de viés ecológico está prestes a ser implantada no estado de São Paulo:
o fim das sacolas plásticas, determinado pelas grandes redes de supermercados,
em prol de um planeta melhor e de uma receita mais robusta, já que a extinção renderá
ao setor cerca de R$ 600 milhões anuais, sem contar o incremento nas vendas de
sacos de lixo e sacolas reutilizáveis.
A
decisão tem o apoio do governo do estado de São Paulo e da Prefeitura
paulistana, que chegou a aprovar a proibição na cidade por meio de lei
específica, suspensa por determinação da justiça. Toda a campanha está sendo
desenvolvida pela APAS, que está longe de ser uma “Associação de Proteção ao
Ambiente Sustentável”, como a sigla poderia sugerir.
Na
verdade, a junção das letrinhas significa Associação Paulista de Supermercados,
entidade que defende os interesses de quem, mesmo? Isso, dos supermercados.
Simples assim. É onde entra o “olho” no sustento dos grupos econômicos.
Como
já disse, 600 milhões a mais no caixa. Mais aumento nas vendas dos sacos lixo
(fico pasmo, pois as sacolas plásticas eram reutilizáveis) e das sacolas feitas
de fibra de milho, que gerarão mais empregos no Vietnam, como afirmam alguns
donos de mercados de bairro.
Hoje
mesmo estive no Extra Tietê, na região da Penha, e notei que havia uma
banquinha “por um planeta melhor” bem na entrada da loja, com produtos para o
consumidor se preparar para o fim da era do saco plástico. Sacola reutilizável,
R$ 2,49; sacola retornável, R$ 19,00; rolo com 30 sacos de lixo de 50 kg, ecológico,
R$ 24,90. Pois é: defender o meio ambiente, ao contrário de outro slogan, tem
preço!
E
enquanto a revolução ambiental está prestes a acontecer, no interior da loja
prevalece o velho princípio da devastação em nossa saúde.
Encontro
informações sobre o nível dos agrotóxicos nas frutas, verduras e legumes? Fico
sabendo de onde veio o pescado, os níveis de tolerância para metais pesados, a
procedência das carnes e o dia exato do abate? Os funcionários lavam as mãos no
tempo certo antes de manusear alimentos? Os refrigeradores permanecem ligados
durante a madrugada? Em qual temperatura? E as garrafas PET, serão banidas
também? Os grandes varejistas boicotarão o ciclamato de sódio nas cocas zero e
o amarelo crepúsculo nas fantas laranja?
Pois
#ficaadica para uma próxima campanha da APAS ou para um projeto de lei da
bancada amiga do Kassab. Aliás, se os principais agentes do nosso velho
capitalismo de sempre - incluindo governador e prefeito - aceitassem mais dicas
da sociedade, certamente centralizaríamos os olhos apenas na sustentabilidade.
Testar
as emissões de gás carbônico dos veículos, por exemplo, deveria ser de graça
(ou pago pelos impostos que são arrecadados), com multas para irregularidades.
E, se há sacos de lixo biodegradáveis, as sacolinhas, feitas do mesmo
material deveriam continuar a ser distribuídas graciosamente nas compras – não é verdade que o custo
cai quando há produção em larga escala? Ou: que tal uma campanha para trocar
garrafas PET vazias por sacolas reutilizáveis, pau-a-pau?
Enquanto
não cai a liminar que proíbe definitivamente o plástico na boca do caixa,
divulgo iniciativas dos primos pobres das grandes redes, bem mais comprometidas
com a comunidade do que muitas protegidas pela APAS. Aqui em São Paulo, no
Tatuapé, o mercado Canguru pretende continuar a distribuir sacolas plásticas,
de forma racional. Aliás, é o único que eu conheço a empregar menores para
embalar produtos, tirando-os das ruas e da ociosidade.
Em
Caraguatatuba (SP), o mercado Litoral Norte vende as sacolas plásticas oxibiodegradáveis há algum
tempo, por R$ 0,05 a unidade. Mas tem um diferencial: um centavo serve para
cobrir seus custos e 4 centavos são doados à Apae de Caraguatatuba. Atitude bem
social, concordam?
E,
como a tonalidade do “verde” dos grandes grupos econômicos fica cada vez mais
parecida com a nota de dólar, tento me acostumar com a novidade, na certeza de
que a decisão tomará conta de todo o País.
Irei
me virar sem sacola alguma, sob risco de ter de carregar diversos produtos
acondicionados nos bolsos, nos braços e nas palmas das mãos, fazendo
malabarismos até minha casa. Sempre com a possibilidade de ganhar umas gorjetas
quando atravessar semáforos. O pagamento pode ser em sacolas ecológicas, sacos
de papel ou até carrinho de feira. Como eles, faço tudo pelo meio-ambiente. Porém,
sempre de olho no meu próprio sustento. Afinal, não é assim que se pratica ecologia no País?
Mercado Litoral Norte: ação social com a venda das sacolas |
Na mesma sacola, há a informação de ser oxibiodegradável, o que derruba por terra a tese da agressão ao meio-ambiente. Confira o endereço do fabricante: http://www.resbrasil.com.br/ |
"Primo pobre" das grandes redes colabora para a cidadania. |