O ponto de
partida é o título da matéria, publicada no site G1, da Globo, no dia
13/04/2015: "Casos de dengue aumentam 240% em 2015; país tem 460,5 mil
infectados". Quem o lê e para por aí, fica furioso (a) com o
gover...ops, desgoverno. Claro, culpa da Dilma!
Movido (a) pelo ódio, ele (a) desliga o
computador, sai atabalhoadamente da mesa, vai até a cozinha, pega uma panela
velha (aquela que faz comida boa) e um antigo pau de macarrão, meio gasto de
tanto acertar a cabeça do maridão (ou da esposona).
Passa pela
lavanderia, tira da cesta de roupa suja uma camisa da seleção brasileira (na
verdade, da Suécia, pois as cores são iguais) e corre até a varanda gourmet
para fazer o seu protesto.
Fica tão
histérico (a) que erra feio: veste a panela, bate na camisa com o pau de selfie
usado para registrar grandes momentos e tenta encaixar o smartphone no pau de
macarrão. Faz outra tentativa: veste o pau de selfie, tenta encaixar a panela na
camisa e bate no smartphone com o pau de macarrão...bem, fica assim a noite
toda. Está fora do jogo. Perdeu.
Outro player,
mais atento, lê os primeiros parágrafos e descobre que na comparação com o
mesmo período de 2013, houve uma redução de 37% nos casos. "'É comum que o
número de casos de dengue oscile ao longo dos anos", explica o texto.
Ele (a)
continua no jogo. O governo, afinal, não é tão culpado assim. "Mas bem que a
Dilma podia renunciar", comenta. Prossegue a leitura até o quinto parágrafo. Lê,
relê e começa a ficar furioso. O Acre é o estado com a maior incidência de
dengue, com 882,5 casos para cada grupo de 100 mil habitantes! E quem governa o
Acre? O PT. Os petralhas!
"São Paulo
aparece em segundo, mas tudo por culpa dos haitianos que o Acre mandou para cá!"
Não quer ler mais. Vai pra cozinha, pega a panela, joga a comida boa no lixo
e...está fora do jogo. Começa a sua batucada na varanda gourmet e se assusta
com um corpo que cai, vestindo a camisa da seleção da Suécia, tentando fazer
selfies com um pau de macarrão.
O terceiro
player passa pelo título da matéria e consegue se controlar. Afinal, muito
crítico (a), precisa ter elementos para elaborar uma opinião mais "consistente".
Hum...vejamos...em relação ao total de casos, São Paulo lidera, com 257.809
ocorrências...considerando que o país tem 460,5 mil infectados, mais da metade
das ocorrências estão no meu Estado!
Neste
momento, ele (a) está prestes a vencer o jogo. Está bem perto daquilo que
poderia ser a manchete ou, no mínimo, o olho da matéria. Mas ele (a), sempre
tão racional, bem discreto, daqueles que não se deixam levar pela emoção, que
até ganhou o apelido de picolé de ricota em seu trabalho, dá um longo suspiro e
exclama, num tom de voz adequado para o horário noturno, que "deve haver
uma boa explicação".
Imediatamente,
bate os olhos no oitavo parágrafo da matéria: "apesar dos dados do
ministério, o governo do estado de São Paulo discorda que exista uma epidemia.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o surto de dengue é limitado a 50% dos
municípios".
- Ufa! E eu
quase duvidando da capacidade administrativa do governador paulista. Preciso me
policiar mais. Meses atrás, até cheguei a questionar o problema da falta de
água em SP, mas, a exemplo da dengue, é um problema nacional. Culpa
dessa...dessa...inepta!
Suspira de
novo. Dirige-se para a varanda gourmet. Em vez de panelas, um notebook. A
sirene de uma ambulância nas proximidades do condomínio não chega a incomodá-lo
(a). Acessa uma rede social, conecta-se com o seu nome falso e começa a
interagir com outros internautas a respeito dos assuntos do momento, com um
jeito de comentar que sempre lhe rende muitas curtidas e compartilhamentos:
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