sexta-feira, 27 de junho de 2014

ABERTURA

Está na hora? Está na hora. Liguem os holofotes! Plec...plec...plec...plec...e...plec! Estão acesos! Funcionou, para desespero do UOL e da Folha, risos. Agora desliguem e liguem de novo, só para tirar uma ondinha com a imprensa tupinico, digo, tupiniquim, hehe.

Vamos à passagem do som:
_ AAAALÔ...SOM...TEEESTANDO...SOM! Pessoal de Higienópolis, está nos ouvindo? E o povo dos Jardins? Da Vila Olímpia? Do Shopping JK? Se o áudio estiver perfeito, balancem seus cartões de crédito. Ou os passaportes. Sacolinhas da Paco Rabanne também ajudam. Estamos acompanhando os movimentos no telão. Mais rápido, minha gente. Vençam o delay, vocês conseguem. Ajam naturalmente, como se estivessem chegando em Miami. Ok. Deu tudo certo. No problems.

E agora, esquentando os tamborins...plect...peplect..plect...
O surdo, na marcação..dum...dum...dum...
Entra o pandeiro...trikiti...trikiti...trikiti...
Muito bom. Chegou a hora dessa gente diferenciada mostrar seu valor...ôô...ôô...


Tudo pronto? Quase. Só esperando secar um trecho do asfalto ali, na entrada. Vai rápido que o pessoal da imprensa está se aproximando...o Jabor...o Waack...o Merval...podem sujar o calçado de pelica. A secagem leva o tempo de contar uma piada. Mas não se afobe não, que nada é pra já...Bem, vou distraí-los:

- Sabe por que o cal é virgem?
- Porque o cimento é fresco...

Ih, acho que eles não entenderam. Também, nunca botaram a mão na massa, hehe. Mal nos cumprimentaram e foram ligeirinhos para os seus camarotes. Pareciam assustados. Agora sim, está tudo pronto para a abertura. Mas sem muita pompa, né? Quem é da Zona Leste dispensa cerimônias. Se chegar em casa, sempre tem café quentinho na garrafa térmica. Se ficar mais tempo, sempre aparece um bolinho de chuva. Se veio para dormir, a gente pede uma pizza para viagem, um refri de dois litros e paga tudo com o vale alimentação.

Portanto, sem essa de cortar fita ou quebrar garrafa de champanhe numa das traves. Trocar flâmulas pode, mas só depois do show. A Jennifer Lopes avisou que está a caminho. Vai chegar em cima da hora, pois houve pane no Metrô. Ela teve até que trocar de roupa na cabine do operador. Xiii, a Claudia Leitte já chegou. Agora não dá mais para substituí-la pela Negra Li, que, afinal, é uma das donas da casa. Pena.
  

Vamos começar? A Merckel está bem impaciente. Até mostrou a língua para a Dilma. O Putin já avisou que não pode perder tempo, pois tem uma Copa para organizar daqui a 4 anos. Não vai ficar para o coquetel, mas foi flagrado enfiando algumas coxinhas no bolso.

Antes da bola rolar, é de bom tom dizer algumas palavras. Para o mundo, é claro. Em tupi-guarani...brincadeirinha. O que vocês insistem em chamar de Arena, para nós é "estádio", palavra que traz grandes recordações da era mais romântica do futebol. De quando juntávamos o troco do pão para comprar ingressos. Da época do cimento gelado das gerais. Dos alambrados. Da bola de capotão.

Se quiserem manter o nome de "Arena", tudo bem. Mas escrevam corretamente o nome do estádio (risos). "Corinthians" é sempre com o agá no meio. Corinthiano também. Não aceitamos apelidos para a casa nova, principalmente aqueles no aumentativo.


"Itaquera" nunca teve o trema. E nunca tremeu. Na linguagem dos índios, quer dizer "pedra dura". Mesmo que role, continuará sendo dura na queda. Não meu, senhor, não dá para traduzir como Rolling Stone. Escreva assim, sem o trema.

Registre também que esta Copa no Brasil trouxe um importante legado. Basta olhar ao redor. Túnel, viaduto e passarelas. Uma faculdade estadual ao lado. Um movimentado shopping à frente, que será ampliado. A dez minutos de automóvel, um pronto-socorro recém inaugurado. Olhe com mais atenção! Ainda não descobriu o verdadeiro legado. Está bem ali, visível, na cara das pessoas.

Dos Itaquerenses. Dos sãomiguelenses. Dos ermelinenses. Do penhenses. Dos cangaibanos. Dos moradores da Cohab. Veja que há orgulho estampado no rosto de quem passou a ser tratado como cidadão de verdade. Essa gente finalmente abocanhou uma boa fatia dos impostos que o Estado arrecada, geralmente destinados às causas dos bairros mais nobres. E graças à Copa. Graças a quem trouxe a Copa para cá.



Pois hoje, como Itaquera se transformou no centro do mundo, os outros lugares vivem o seu dia de periferia. Quem sabe assim seus moradores sintam na pele o que é viver numa espécie de subsolo. Ou entendam que nesta cidade todos têm direito a uma vida digna. Opa...quem sabe teremos aí mais um legado...

Priiiiii...e começa a Copa das Copas...


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