(Texto produzido no dia 13 de junho de 2013, dois dias depois do 3º Ato do Movimento Passe Livre)
Quando uma manifestação
popular legítima descamba para a violência e chega ao limite do ódio, é sinal
de que o movimento perdeu o foco. Quando alguns manifestantes depredam sedes de
partido – especialmente daquele que, desde as suas origens, sempre esteve à
frente de importantes mobilizações em favor da democracia – significa que a
visão ficou temporariamente turva.
Nessas horas, o bom senso recomenda
posicionar a lente, a princípio, na grande angular. Para ver o lado, acima e
atrás, como diz uma canção de Gilberto Gil. E captar uma série de detalhes que
farão a diferença na saúde do movimento.
Servirá para reconhecer, por
exemplo, as movimentações da PM para fomentar provocações, como bloquear
determinadas ruas só para desviar a passeata do trajeto escolhido; ou para enxergar
a infiltração de elementos estranhos à causa, que terão a missão de espalhar a
culpa da parte para todo o resto do grupo; ou, ainda, para perceber que a
exigência pela revogação pura e simples do aumento das tarifas não é,
definitivamente, uma tentativa de abrir o diálogo com as autoridades.
Outro equívoco clássico dos
manifestantes é abusar do close-up em suas ações. De tal forma que parecem
focar apenas nas tarifas dos ônibus e, consequentemente, na Prefeitura de São
Paulo. Intencionalmente ou não, o governador paulista está sendo poupado pelos
manifestos justamente numa das áreas mais críticas de sua administração, que só
perde para segurança pública e educação.
Bastaria apenas um plano
americano para registrar a precariedade do Metrô no atendimento aos seus
usuários. Façam um simples ensaio: tentem entrar na estação Itaquera nas
primeiras horas da manhã. Ou cismem de voltar para casa às seis da tarde na
Estação Sé. Todos os dias da semana. Um trabalhador normal sabe do que estou
falando. Mas quem não tem esta rotina, pode duvidar dessa realidade.
Em resumo: para não queimar o
filme irremediavelmente, é preciso ampliar o ângulo de visão. Para ter apoio
permanente da plateia, que não só assiste, mas torce pelo sucesso do movimento,
é necessário ser um pouco mais criativo. Dar asas à imaginação ao lidar com
soldados treinados para arrancar lágrimas dos protagonistas por meio de bombas
de efeito moral.
Com mais direção e uma boa
dose de bom senso, o enredo deixará de ser um filme de ação ou uma comédia
dramática, que vem fazendo a delícia da imprensa conservadora – para eles, um
exemplo a não ser seguido.
Que venha o foco e teremos,
afinal, um bom documentário.
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