Retrato da crise no País: nas primeiras horas da véspera
de natal, em plena madrugada, os supermercados 24 horas de São Paulo estão
lotados. Bombando. As pessoas se espremem nos corredores e encaram filas
quilométricas, apesar da distância milimétrica entre si, para sobrar espaço e
caber mais gente.
Essa obsessão repentina por encher carrinhos de
supermercado com panetones, castanhas, sidras e aves de “época” é o sinal mais
evidente de que a crise anunciada por economistas de ponta já chegou.
Com certeza, a população teme o desabastecimento ao longo
de 2014, com ápice no natal do ano que vem. A ordem, portanto, é estocar.
Guardar tudo na geladeira e esperar pelo pior. A venda de freezers aumentou
significativamente durante a semana.
O economista aposentado Edimar Bocha afirma que os
estoques de frutas cristalizadas e uvas passas estão praticamente zerados e que
essa escassez vai refletir na Páscoa. “As colombas pascais estarão pela hora da
morte”, aponta.
Já o sociólogo Demérito Banholli enxerga uma possibilidade
de revolta contra o governo quando todos descobrirem que, na verdade, o peru
não apita quando estiver assado. É apenas um termômetro. Demérito adverte: “o
cidadão vai ficar horas esperando um barulhinho qualquer e quando descobrir que
só vai ter um pedaço de carvão para servir na ceia será o caos”.
Especialistas em sobrevivência na selva comentam que,
após a estocagem de alimentos, o próximo passo da população será fugir para as
montanhas. Há previsão de grandes congestionamentos nas estradas que levam a
Campos do Jordão, Santo Antonio do Pinhal, Petrópolis, Nova Friburgo e Gramado.
Para se chegar a São Tomé das Letras, só por disco voador.
Para a economóloga Miriam Lentão, “tudo parece caminhar
muito bem, mas isso não é bom. Porém, se tudo caminhar mal, não será tão mau.”
Como militante da corrente adversativa da economia, ela entende que o governo
até que se esforça para reduzir os gastos públicos. Contudo, o faz de forma
desastrada. Todavia, acha que o atual governo ainda tem uma saída: a renúncia.
Especialista no ramo de laticínios, Lentão faz o seu
vaticínio para 2014. Para ela, o peru será o grande vilão da economia e puxará
a alta da inflação. A procura exagerada pela ave neste natal elevou o preço do
peito de peru fatiado, com reflexos negativos nos demais embutidos.
Presunto gordo e mortadela com azeitonas tiveram alta de
até 50% no atacado. Chouriço e alheira, só por encomenda. Rosbife, só no
mercado negro. Sem falar nas dificuldades para importar lombo canadense. Diante
da gravidade do problema, Miriam lamenta: “se com esses frios a situação está
assim, imagina a copa...”
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