domingo, 29 de dezembro de 2013

À beira do caos


   Retrato da crise no País: nas primeiras horas da véspera de natal, em plena madrugada, os supermercados 24 horas de São Paulo estão lotados. Bombando. As pessoas se espremem nos corredores e encaram filas quilométricas, apesar da distância milimétrica entre si, para sobrar espaço e caber mais gente.
   Essa obsessão repentina por encher carrinhos de supermercado com panetones, castanhas, sidras e aves de “época” é o sinal mais evidente de que a crise anunciada por economistas de ponta já chegou.
   Com certeza, a população teme o desabastecimento ao longo de 2014, com ápice no natal do ano que vem. A ordem, portanto, é estocar. Guardar tudo na geladeira e esperar pelo pior. A venda de freezers aumentou significativamente durante a semana.
   O economista aposentado Edimar Bocha afirma que os estoques de frutas cristalizadas e uvas passas estão praticamente zerados e que essa escassez vai refletir na Páscoa. “As colombas pascais estarão pela hora da morte”, aponta.
   Já o sociólogo Demérito Banholli enxerga uma possibilidade de revolta contra o governo quando todos descobrirem que, na verdade, o peru não apita quando estiver assado. É apenas um termômetro. Demérito adverte: “o cidadão vai ficar horas esperando um barulhinho qualquer e quando descobrir que só vai ter um pedaço de carvão para servir na ceia será o caos”.
   Especialistas em sobrevivência na selva comentam que, após a estocagem de alimentos, o próximo passo da população será fugir para as montanhas. Há previsão de grandes congestionamentos nas estradas que levam a Campos do Jordão, Santo Antonio do Pinhal, Petrópolis, Nova Friburgo e Gramado. Para se chegar a São Tomé das Letras, só por disco voador.
   Para a economóloga Miriam Lentão, “tudo parece caminhar muito bem, mas isso não é bom. Porém, se tudo caminhar mal, não será tão mau.” Como militante da corrente adversativa da economia, ela entende que o governo até que se esforça para reduzir os gastos públicos. Contudo, o faz de forma desastrada.   Todavia, acha que o atual governo ainda tem uma saída: a renúncia.
   Especialista no ramo de laticínios, Lentão faz o seu vaticínio para 2014. Para ela, o peru será o grande vilão da economia e puxará a alta da inflação. A procura exagerada pela ave neste natal elevou o preço do peito de peru fatiado, com reflexos negativos nos demais embutidos.
   Presunto gordo e mortadela com azeitonas tiveram alta de até 50% no atacado. Chouriço e alheira, só por encomenda. Rosbife, só no mercado negro. Sem falar nas dificuldades para importar lombo canadense.        Diante da gravidade do problema, Miriam lamenta: “se com esses frios a situação está assim, imagina a copa...”


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