Pano, rápido, para o nosso esporte mais popular. Ou: “fecham-se as cortinas e termina o espetáculo”, como dizia o locutor esportivo Fiori Gigliotti, ao anunciar o fim de mais uma partida de futebol. Ele faleceu em 2006, um dia antes do início da Copa do Mundo daquele ano. Frase profética. Há duas copas, as cortinas estão fechadas para a Seleção. O espetáculo terminou faz tempo.
Quarta-feira, dia 4 de maio de 2011, Libertadores da América. De uma só vez, Cruzeiro, Internacional, Grêmio e Fluminense foram eliminados nas oitavas de final do mais importante torneio sul-americano. Alguns meses antes, o Corinthians disse adeus ao perder um jogo mata-mata contra um desconhecido time colombiano, o Tolima. Sobrevive apenas o Santos, que ainda mantém no elenco os dois melhores jogadores do País (mas longe dos melhores de todos os tempos) e um treinador que não se envergonha de jogar na retranca.
Clubes como Once Caldas, Libertad, Peñarol e Universidad Católica – os tolimas da rodada de hoje - cujas folhas de pagamento mal dariam para pagar o salário de um Adriano, fizeram “strike” na ambição dos cinco clubes brasileiros, que vêem neste tipo de torneio a chance para engordar o caixa com a renda dos jogos, do televisionamento global e das propagandas na camisa de última hora.
Perderam também a possibilidade de expor seus “craques” numa vitrine de repercussão internacional, com possíveis perdas financeiras nas transferências para clubes do exterior, que sempre levam ao desmonte precoce do elenco, remontado com alguns ex-astros em final de carreira e fora de forma.
Apesar disso, a ciranda continuará, cada vez mais milionária, mas de uma pobreza cruel quando se tem de enfrentar adversários com um pouco mais de garra e amor à camisa do que nossos patrícios. Lá, ainda buscam um lugar ao sol, enquanto aqui já colocaram os burros na sombra há tempos.
Numa observação mais rigorosa e menos apaixonada, iremos perceber que a maioria dos atletas profissionais apresentam limitações técnicas que só um bom marketing consegue encobrir. O mercado da bola, após a Lei Pelé, está nas mãos de empresários ou de grupos de investidores, que transformam jogadores medianos em astros, privilegiando hoje países de segunda linha no esporte.
Apesar disso, a ciranda continuará, cada vez mais milionária, mas de uma pobreza cruel quando se tem de enfrentar adversários com um pouco mais de garra e amor à camisa do que nossos patrícios. Lá, ainda buscam um lugar ao sol, enquanto aqui já colocaram os burros na sombra há tempos.
Numa observação mais rigorosa e menos apaixonada, iremos perceber que a maioria dos atletas profissionais apresentam limitações técnicas que só um bom marketing consegue encobrir. O mercado da bola, após a Lei Pelé, está nas mãos de empresários ou de grupos de investidores, que transformam jogadores medianos em astros, privilegiando hoje países de segunda linha no esporte.
A renovação também é viciada. As peneiras de “araque” dos clubes privilegiam aqueles que têm padrinhos fortes, geralmente seus futuros empresários. Os poucos jovens talentos mal conseguem aperfeiçoar os fundamentos e já são vendidos ao exterior. O enriquecimento rápido os transforma em entes burocráticos dentro dos gramados, sem o menor vínculo com os clubes que defendem.
No geral, nossos treinadores beiram a mediocridade. Não buscam a formação profissional. Mesmo aqueles com algum currículo, optam por buscar vitórias na base da pressão sobre os árbitros, já preparando suas desculpas pelas derrotas. Lucram bastante quando têm o contrato rescindido. Apesar da contagem centenária dos milhares de reais que recebem por mês, demonstram incapacidade ou desinteresse para implantar inovações táticas ou jogadas ousadas. Sem falar que muitos deles participam diretamente das contratações de atletas para o grupo que comanda.
Os dirigentes (de clubes, federações e confederação) muitas vezes fazem do cargo trampolim para ambições políticas; mostram-se desprovidos de senso de planejamento e de autocrítica. Vêem o futebol como um mero instrumento para alimentar o próprio ego, dar vazão à ânsia de poder e até engordar a conta bancária. São eles os responsáveis pela falta de transparência nos contratos, pelo jogo de cartas marcadas, pelo apoio a decisões perniciosas ao esporte.
Certos cronistas esportivos não passam de dublês de marqueteiros de determinadas personalidades e de certos clubes do mundo do futebol, dando-lhes ares de celebridade mesmo diante de derrotas para os tolimas da vida. Outros apresentam parcos conhecimentos das regras. Procuram dar interpretações bisonhas para lances indiscutíveis, gerando polêmicas que funcionam como retro-alimentação do seu trabalho de jornalista.
Temos também a Rede Globo, ainda bem poderosa, capaz de implodir o Clube dos 13 para não perder os direitos de transmissão do campeonato brasileiro, negócio altamente lucrativo apesar da mediocridade vista em campo. E ficamos sem entender porque o Canal Brasil, do governo brasileiro, não entra nessa disputa, ao menos para a transmissão simultânea, como faz a Band atualmente. Ou será que a mão do estado só serve para criar mecanismos de auxílio aos clubes, como as loterias administradas pela Caixa Econômica Federal?
Nessa barafunda futebolística, a torcida não pode ficar de fora. Os torcedores contumazes fazem de cada jogo uma guerra; vêem a rivalidade como uma batalha campal; enaltecem os tantos pernas-de-pau que vemos por aí; comportam-se com selvageria em nossos estádios, em vez de fazer valer o Estatuto do Torcedor, criado em seu próprio benefício. E, às vezes, pedem para o clube do coração entregar o jogo para não favorecer rivais, tirando o resto de seriedade dos torneios organizados pela CBF.
Por tudo isso, tenho a sensação de que seremos meros participantes da próxima Copa do Mundo. Se algo não for feito. Se não reciclarem os pilares que sustentam o nosso futebol. O jornalismo esportivo, em vez de nutrir essa estranha obsessão pelos prazos para a construção de aeroportos e estádios para a Copa (sim, serão erguidos a tempo, caso contrário não haverá Copa...dããã), deveria se ocupar em saber se teremos elenco de qualidade na Seleção Brasileira. Ou se o futebol brasileiro continuará apenas “dando para o gasto”, cuja competitividade atual não ultrapassa mais as fronteiras do País.

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