sexta-feira, 13 de maio de 2011

2006, o ano que vivemos em perigo

Capa do relatório "São Paulo sob achaques" - ONG  Justiça Global
De maio de 2006, os paulistas trazem na memória alguns dias de pânico e terror. Algo jamais vivido em toda a história do estado. Ou visto apenas em filmes e enlatados americanos, onde cidades ficavam à mercê de terroristas, criminosos ou catástrofes naturais.
Aqueles tristes dias de maio começaram com uma série de rebeliões nas penitenciárias paulistas; era a senha para começar uma onda de ataques às instalações da polícia e aos próprios policiais. Muitos foram executados. Bombeiros, policiais fora do horário de serviço e agentes penitenciários eram os alvos.
E, rapidamente, as cidades começaram a paralisar suas atividades, graças aos rumores de que a facção havia implantado o toque de recolher em diversas localidades. O comércio fechou as portas. Ônibus foram incendiados. Os cidadãos foram dispensados mais cedo do serviço. Por volta das seis da tarde, as ruas de São Paulo estavam desertas. Todos haviam perdido a confiança nas autoridades paulistas, apesar das afirmações de que a situação estava sob controle.
No terceiro dia, os ataques refrearam. Quase que por encanto, tudo havia voltado à normalidade, deixando no ar algum tipo de acordo com os membros da facção. E deixaram um saldo de 46 mortes, funcionários do Estado em sua maioria. Enquanto boa parte da população se recuperava do pânico, outra onda de ataques, dessa vez mais silenciosa, acontecia nos cinturões de pobreza das grandes cidades: o revide da polícia.
Sob a alegação de envolvimento com as ações criminosas dos dias anteriores, centenas de jovens da periferia foram executados. Trabalhadores. Estudantes. Pessoas sem passagens pela polícia. Dos 493 mortos, não foram encontrados os corpos de 122.
Tudo aconteceu há exatos cinco anos. Um lustro. Porém, com o perdão do trocadilho, uma fase da história paulista sem nenhum brilho. Opaco. O governador da época é o mesmo de hoje, eleito no ano passado. O secretário de segurança de então hoje ocupa a Secretaria de Abastecimento, pronto para retornar à sua antiga pasta. 122 mães ainda procuram os corpos dos seus filhos.
Por ocasião desta triste passagem, a ONG Justiça Global divulgou um relatório, realizado em conjunto com a Clínica Internacional de Direitos Humanos da Faculdade de Direito de Harvard, que aponta a principal causa da onda de ataques: os constantes achaques que os líderes da facção, aprisionados, recebiam dos policiais. O material traz documentação farta, depoimentos – faz menção aos acordos entre autoridades públicas e criminosos para por fim à violência e mostra que a política prisional paulista apresenta os mesmos defeitos de antes.
Também nesta data, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, foi lançado o livro “Do luto à luta – Mães de Maio”, editado por Débora Maria (uma das líderes do movimento) e Danilo Dara. A publicação relata o drama vivido pelas mães dos mortos e a luta para que o Estado seja responsabilizado pelos assassinatos.
“Estamos falando de trabalhadores, jovens e famílias que foram destruídas e todas estas mortes estão impunes. O Ministério Público arquivou os processos alegando que os casos referem-se à resistência seguida de morte. Estamos pedindo a anulação destes processos e a federalização dos crimes de maio. Este Sindicato é a nossa casa, é a casa da justiça e do direito de todos”, disse a jornalista Rose Nogueira, coordenadora do evento.
Esse caso escabroso, que completa cinco anos, é de arrepiar, mas infelizmente é verdadeiro. Que não se repita mais. Mas, para não se repetir mais, é preciso ter plena consciência do que levou a isso. De quem levou a isso.
Os linques abaixo ajudam o cidadão a entender o que realmente ocorreu em maio de 2006.

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Foto: Sindicato dos Jornalistas SP

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