domingo, 11 de outubro de 2015

A fala de Dilma e os estoques de vento



   A mais nova gozação em cima da presidenta está relacionada à suposta gafe cometida na ONU ao comentar a "estocagem de vento" na produção de energia eólica. Sinto contrariar os humoristas de plantão, mas esta possibilidade é bem real. Basta interligar as cabeças dos engraçadinhos que vai existir vento de sobra (hahaha).
Brincadeirinha, minha gente! Foi só um jeito bem-humorado de rebater a anedota. Mais uma, que sempre tem como base a deturpação premeditada de um discurso da governante para tentar ridicularizá-la.
A fala de Dilma, apesar de ter sido um pouco truncada, está correta. E não deve ser entendida em seu sentido literal, mas do ponto de vista técnico. Lembrem-se que a plateia não era formada pelos leigos renitentes que habitam as nossas redes sociais e que dispensam livros de história e física de segundo grau nas respectivas bibliotecas.
Mas, num mundo conectado, a circulação do vídeo gravado na ONU é livre. No trecho que circula pelas redes, ela fez uma abordagem da matriz energética brasileira, comparando a geração hidrelétrica à eólica.
Ela afirmou, textualmente: "até agora, a energia hidrelétrica é a mais barata, em termos do que ela dura (as instalações), da sua manutenção e também pelo fato da água ser gratuita e da gente pode estocar (energia hidrelétrica)". Pausa: nesta situação, estocar água significa estocar energia.
Prosseguindo: "o vento poderia ser isso também, mas não se conseguiu tecnologia para estocar vento". Nova pausa: puro sarcasmo...faltou uma risadinha a la Sheldon, do The Big Bang Theory.
Continuando: "se a contribuição dos outros países...vamos supor que seja desenvolver uma tecnologia capaz de, na eólica, estocar...ter uma forma de estocar...(energia - é disso que ela fala o tempo todo). Porque o vento é diferente em horas do dia. Então vamos supor que vente mais à noite: como eu faria para estocar isso (a energia produzida pelo vento)?
Enfim, gozadores do meu Brasil varonil, vamos considerar que a presidenta é ruim de oratória, mas em momento algum ela falou em descobrir tecnologia para estocar vento. Não no sentido literal da expressão. Apenas apontou uma das dificuldades para a expansão do uso da energia eólica, como mostra matéria publicada no sítio da revista Carta Capital, em 11/09/2012. Destaco os parágrafos 12 e 13:
"De forma ideal, se você tem algum tipo de dispositivo de armazenamento capaz de guardar eletricidade em grande escala, poderia usar para armazenar eletricidade quando tiver um excedente para usar quando os ventos estiverem fracos", afirma Botterud.
"Mas a estocagem ainda é muito cara e é um tanto limitado o quanto se é capaz estocar com as tecnologias existentes".
Agora está claro, não? O potencial da energia eólica esbarra no custo da sua estocagem.
Também é importante destacar que Dilma Roussef é aficionada pela força dos ventos. Em 2014, no final do seu primeiro mandato, foram adicionados aos sistema 2,5 GW de potência instalada, fazendo do Brasil o 10º país do mundo em capacidade instalada e o 4º que mais acrescentou potência no ano (Época Negócios, 15/09/2015).
Em julho de 2015, a produção de energia eólica no Brasil alcançou um novo recorde, quando foram produzidos 2.989 megawatts (MW) médios, segundo o Informativo Preliminar Diário emitido pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
E tudo isso sem precisar estocar vento. Imagine como vai ficar o País no momento em que todas as cabeças dos nossos aspirantes a humorista forem interligadas...
Parque Eólico Geribatu (RS), o maior da América Latina

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Um comentário:

  1. Realmente essa direita de hoje reflete a formação que recebeu das escolas particulares, cheia de superficialismos, suficiente somente para passar em vestibular. Fico muito triste de ver que não há diálogo possível com essa gente.

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