A recente declaração do técnico Levir Culpi ajuda a
explicar a polêmica criada em torno da arbitragem, levantada especialmente pelo
Atlético Mineiro. Disse ele: "ficamos desconfiados porque vivemos em um
país desonesto. Todos somos desonestos. Não temos uma educação dirigida para a
honestidade e queremos tirar vantagem das coisas."
Pois bem. Levir anda medindo o povo brasileiro em geral e o
futebol em particular com a sua própria régua. É o tipo de declaração que funciona
como uma espécie de salvo-conduto para possíveis deslizes e carrega uma boa
dose de oportunismo.
Não pega bem dizer que desconfia da arbitragem porque
todos os brasileiros são desonestos. É uma estranhíssima interpretação da
teoria do domínio do fato que, por si só, já é absurda. Que levante provas do
que fala e que as apresente, para não ser conivente com a imoralidade.
E convenhamos: pressionar árbitros quando o seu time
começa a cair de rendimento é de uma desonestidade sem tamanho. Deu certo
contra o Palmeiras, cuja vitória foi alcançada com um pênalti pra lá de
duvidoso. Mas, sim, sua insistência em dizer que o campeonato está manchado é
um gesto pouco nobre, pois desqualifica o trabalho de companheiros de profissão
e um possível título conquistado pelo Corinthians dentro do campo.
Sabemos que este mimimi poderá garantir uma vaguinha de
técnico em outro clube se for demitido pelo Atlético no caso de mais uma
derrota em campeonatos brasileiros. "Só perdi porque o campeonato estava
manchado", é o que vai dizer.
Para ser sincero, gostaria até de saber quanto paga de
imposto de renda, por exemplo. Ou se recebe algum "por fora". E o que
ganhou no exterior, foi declarado? Pois agora fiquei com a pulga atrás da
orelha. Afinal, ele assume que é desonesto!
Senhor Levir, saiba que eu sou honesto. Minha família também.
Meus amigos, idem. Conheço uma pá de gente que leva uma vida com muita
decência. Trabalhador brasileiro dá um duro danado, pois a
jornada de trabalho é penosa. Não vive de mutretas. A maioria tem muito orgulho por manter em dia os seus carnês das Casas Bahia. Há pessoas que perdem o sono quando atrasam o
pagamento da conta de luz por apenas um dia.
Conheço torcedor de futebol que faz uma brutal economia
para pagar ingresso, comprar a camisa do seu ídolo ou pagar um pay-per-view da
TV a cabo, injetando seus parcos recursos na máquina que movimenta o esporte e
da qual você é um dos maiores beneficiários. Este tipo de cidadão não merece
ser chamado de desonesto por alguém que não sabe lidar com maus resultados e que
reproduz um pensamento que definitivamente não colabora para o desenvolvimento
da sociedade.
O vídeo com a declaração do técnico está aqui.

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