terça-feira, 26 de agosto de 2014

A morte lhes cai bem

1) Não basta morrer; tem que ser de forma surpreendente e em plena campanha eleitoral, para acentuar a tragédia. Só nas mortes em tais circunstâncias se descobre tantos amigos - candidatos em sua maioria - e tantos potenciais eleitores. É a prova definitiva de que as pesquisas estão errando feio, pois a intenção de votos em Campos não passava de 11%. Já se prevê uma profusão de panfletos com candidatos abraçados ao falecido, defendendo o seu legado, suas ideias, suas propostas. Só espero que o PSB não tome atitudes extremas, como confeccionar um Eduardo Campos de papelão para ser abraçado pelos fãs. Pois aí seria plágio, né?

2) E o governador paulista, hein? Um dia depois do acidente aéreo, Alckmin virou o porta-voz do IML. Ele apareceu em todos os jornais da TV Globo passando informações sobre a identificação dos corpos. Sempre com aquele jeito "picolé de chuchu" de ser que o paulista tanto gosta. Se pudesse, certamente ele prolongaria o trabalho dos legistas até 5 de outubro, se não houver segundo turno.

3) E o irmão do Eduardo Campos, hein? Esse não perde tempo. Um dia depois do acidente, já se manifestou a favor da candidatura de Marina. E deixou no ar que aceitaria ser o vice da chapa. E tenta influenciar a decisão do partido. E, claro, demonstrou tristeza com a situação. Só não sei a ordem em que se deu tudo isso.

4) E a imprensa, hein? Parece que desembarcou da candidatura tucana e resolveu carregar Marina nos ombros. Afinal, jogador que não rende em campo precisa ser substituído antes do final da partida. O clima nos jornais é de vitória no primeiro turno. Mas, como afirmou o filósofo Paulo Preto, não se abandona assim um líder ferido no meio da estrada. Ou numa pista de pouso...

5) E Marina Silva, hein? Ela sugeriu Renata, a esposa de Eduardo Campos, como vice numa chapa em que seria a candidata a presidente. Algo muito comovente, vindo de alguém que não costuma perder as oportunidades que lhe aparecem. Só esqueceu que há cinco órfãos contando com a presença da mãe para lhes consolar. E não devem estar refeitos do choque, apesar do tanto de tempo que se passou após a morte do pai: dois dias!
  
(publicado originalmente no dia 15 de agosto de 2014, no facebook)




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