terça-feira, 26 de agosto de 2014

Já combinou com eles?

(Publicado originalmente no dia 14 de agosto de 2014, no facebook)


Além da total falta de sensibilidade em relação ao falecimento do candidato Eduardo Campos, o que há de mais grave na aposta da imprensa em Marina Silva é enxergar os eleitores do País como meras peças de um jogo em que se busca o poder por meio da manipulação midiática, sem considerar os diversos fatores que ajudam a definir o voto numa eleição. Sim, a elite é presunçosa, arrogante e cruel.
A tragédia teve o efeito perverso de renovar os ânimos de certos jornalistas, até então desconsolados com o mau desempenho de Aécio e a participação apenas discreta de Campos numa disputa que caminhava irremediavelmente para a vitória de Dilma no primeiro turno.

Comentários do tipo a "eleição está zerada" ou "Marina vai embolar a disputa" dominaram o noticiário durante todo o dia da tragédia. Para eles, o segundo turno lhes parece mais provável se ela sair candidata. Assim que foi confirmada a morte do candidato do PSB, a Folha de SP registrou pesquisa que inclui pergunta sobre quem deveria ser o substituto de Campos. É a velha fórmula para tentar influenciar a decisão partidária, inventando um "apelo das ruas".

Mas, afinal: quais são os dados concretos para se afirmar que a presença de Marina altera o quadro eleitoral? Simplesmente não existem, a não ser uma pesquisa feita no ano passado onde a provável candidata teria 20% dos votos. Mas em outra conjuntura. Fica difícil imaginar que o eleitor vá pensar assim: eu ia votar na Dilma; mas o Eduardo morreu, então vou votar em Marina.

Se for para seguir a lógica, Marina deve tirar votos de Aécio, que anda muito "claudicante". Na prática, equivale a trocar seis por meia dúzia, pois ainda assim, não há a menor garantia de que Dilma tenha algum prejuízo com o novo quadro político. Ao contrário: tudo indica que, em Pernambuco e em outros estados do Nordeste, os votos de Campos migrarão para Dilma.

A imprensa, a oposição e a elite brasileira ainda não entenderam que seus estratagemas exercem influência cada vez menor nas decisões do eleitor. Atualmente, atingem apenas um pequena parcela da sociedade, de perfil ultraconservador, e têm relativo sucesso em alguns estados brasileiros.
Deviam aprender mais com Garrincha, craque do passado, que, diante das teorizações do técnico para se chegar ao gol dos adversários, perguntou: já combinou com eles?


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