segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Nada de novo no front

Marcelo de Jesus/UOL
Tomada de Monte Castelo? Não, invasão do Morro do Alemão

Chamem o Joel Silveira. Chamem o José Hamilton Ribeiro. Há mais uma guerra a cobrir. Com o perdão do trocadilho, mais uma guerra com "alemão" no meio, Joel. Em termos de comparação, uma guerra semelhante à do Vietnã, Hamilton. Fraticida. Uma guerra doméstica, bem pertinho das principais redações da região Sudeste.
É a chance de recuperar a audiência perdida por bobagens como bolinhas de papel na cabeça de presidenciável. É a possibilidade de se voltar a vender mais jornais do que na época do Plano Cruzado, quando se quebravam recordes de tiragem por causa da publicação das tabelas com preços congelados de vários produtos.
É também a tentativa de mostrar à CNN como se faz um bom jornalismo em tempo real durante a cobertura de uma guerra. E, quem sabe, pode ser possível criar uma capa em certa revista semanal de forma a fazer respingar o ataque dos traficantes no novo governo que se inicia. Que tal perto da posse?
Como bem mostrou José Arbex Jr. em seu livro Shownalismo. O título explica muito do que vemos na TV. Mais uma vez, a notícia foi tratada como um grande espetáculo. E como todo grande espetáculo, houve apelo fácil às emoções. Eu juro que li num jornal de São Paulo: "na favela da Grota, os agentes ficaram a menos de cem metros de uma casamata que serviu de abrigo a traficantes". Casamata? Sempre havia uma casamata nos filmes da 2ª guerra que passavam na Sessão da Tarde. Acho que em "O Resgate do Soldado Ryan" também havia muitas casamatas. Duvido que os traficantes soubessem do que se trata.
Faltou falar em campo minado. Em bunker. Mas o Jornal da Globo não se furtou a explicar que os traficantes de uma facção aprenderam táticas de guerrilha com os presos políticos brasileiros...nos anos 70. Se estivessem no Vietnã, na mesma época, os vovôs do tráfico certamente aprenderiam a cavar redes de túneis em todos os morros, onde ficariam escondidos; à noite, saíriam para incendiar veículos e emboscar policiais e soldados do exército. Porém, de alguma forma, a imprensa deu um jeito de culpar a esquerda. Que tal abrir os processos dos camaradas presos em Ilha Grande para saber se há algum indício de que o "aprendizado" foi intencional?
E já se fala em Tropa de Elite 3. Na glorificação do BOPE. Mas não é o mesmo BOPE do Tropa 1? Onde o Capitão Nascimento usou a tortura como método de convencimento e o próprio Batalhão só agiu com vigor em retaliação ao assassinato de um agente, num espírito de corpo de dar medo? Serão nossos heróis daqui em diante, com direito a histórias em quadrinho?
No final das contas, goste-se ou não do governador Sérgio Cabral - e parece que a Globo começou a gostar dele -, ele fez o que tinha que ser feito. O governo federal movimentou tropas e equipamentos como deviam ser movimentados. Presos foram transferidos para presídios de segurança máxima e "advogados-correios" foram presos. A grande maioria dos cariocas ratificou o apoio dado aos reeleitos nas últimas eleições. 
E o jornalismo brasileiro parte em busca do próximo show. Não haverá muito o que falar até a posse de Dilma. Nem imediatamente após. Nesse meio tempo, moradores de rua continuam sendo queimados e assassinados, favelas paulistanas sofrem de combustão espontânea e minorias permanecem como alvos de neonazistas e mafiosos mirins. Meras notícias nos pés das páginas, sem muita repercussão. Afinal, para combater esses crimes, seria necessário invadir o quê: prédios de alto padrão?

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