quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

"O problema é a fotografia na parede, sabe?"


“Às vezes eu olho essas fotografias na parede e penso assim: será que sou eu mesmo? Às vezes eu penso que foi com outra pessoa que aconteceu tudo isso...”
O trecho acima faz parte do comentário emocionado do personagem Naldinho, do Corinthians, interpretado por Flávio Migliaccio nos quatro minutos finais do filme “Boleiros: Era uma Vez o Futebol”, de 1998, dirigido por Ugo Giorgetti.
Na verdade, um personagem não tão fictício assim. Ele expõe praticamente o mesmo sentimento de quem para de fazer o que mais gosta, de quem já foi ovacionado por milhares de pessoas, de quem vê o poder escorrer pelas mãos ou de quem começa a perder aquela sensação de imortalidade que a juventude nos proporciona.
Talvez a atual geração de jogadores de futebol sinta-se imune às coisas do coração, livre do amor à camisa que veste, do orgulho de representar a sua pátria em importantes competições. Talvez, talvez.
Mas não acredito que, na idade avançada, os atuais craques resistam aos arquivos digitalizados dos jornais da sua época, que os transformaram por alguns anos numa espécie de semideuses; ou aos vídeos dos seus gols mais bonitos, tão necessários para transações no mercado externo; ou à coleção de imagens em alta resolução captadas pelas melhores lentes do mundo.
Em qualquer época, com qualquer tecnologia, em diversas profissões, o problema será sempre a fotografia na parede.


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