O desastre administrativo que desponta no horizonte do Rio Grande do Sul, graças às lambanças do governador José Ivo Sartori, é um bom ponto de partida para fazermos uma análise sobre o tema
reeleição. Em 2016, tudo indica que as eleições municipais serão realizadas num ambiente de profunda crise política e econômica.
Em oito meses de mandato, Sartori tomou decisões polêmicas, como parcelar os salários dos servidores públicos (que deve ser proibido pelo STF) e aplicar calotes em fornecedores e no governo federal; mas, ao mesmo tempo, aumentou o próprio salário e dos seus secretários e criou vários cargos de confiança para serem ocupados pelos seus aliados.
Em oito meses de mandato, Sartori tomou decisões polêmicas, como parcelar os salários dos servidores públicos (que deve ser proibido pelo STF) e aplicar calotes em fornecedores e no governo federal; mas, ao mesmo tempo, aumentou o próprio salário e dos seus secretários e criou vários cargos de confiança para serem ocupados pelos seus aliados.
Cabe
lembrar que, na eleição de 2014, enquanto Tarso Genro e Ana Amélia se
digladiavam na disputa pelo governo do estado do RS, o "Gringo"
permaneceu por um bom tempo em terceiro lugar nas pesquisas eleitorais.
Ficou ali,
quietinho, sem atacar e ser atacado. Na reta final do primeiro turno,
ultrapassou seus adversários. Sob o slogan de que o seu partido é o Rio Grande, venceu o segundo turno com folga. Sua principal
marca foi a sinceridade: sempre disse que não sabia o que iria fazer.
Eu costumo
dizer que o povo gaúcho, na questão política, é igual ao trânsito de Porto
Alegre, principalmente para quem não conhece a cidade. Errou a entrada, não há
um retorno nas proximidades. Para voltar ao ponto em que estava, o motorista
tem que dar uma volta imensa...
Em todas
as eleições para governador após a redemocratização, prevaleceu a tradição de
não reeleger o atual mandatário do cargo. Não há uma segunda chance para quem
erra. E, a julgar pelos resultados das urnas, todos erraram, na opinião da maioria do eleitorado gaúcho!
Vendo de
longe, Tarso Genro, que tentou a reeleição, fez um ótimo governo. Foi austero,
deu muita atenção ao interior do estado, realizou melhorias na educação e na
segurança pública. Durante as manifestações de junho de 2013, sua principal arma
foi o diálogo aberto, que resultou na elevação do seu índice de aprovação.
Só que foi relativamente duro com os professores estaduais. Em quatro anos, concedeu 50% de aumento para
a categoria, mas se recusou a adotar o piso nacional. Talvez esteja aí uma das
razões de ter perdido para Sartori.
É claro,
somam-se a isso problemas de comunicação com a sociedade, disputas internas e a
necessidade de se aliar a setores conservadores para governar, que, se ajuda
por um lado, dando maioria na Assembleia, atrapalha por outro, pois há maior
dificuldade para implantar o modo petista de governar em regiões
reconhecidamente conservadoras, comandadas por aliados de direita.
Na
verdade, alianças conservadoras são remédios que tratam os sintomas e mascaram
os verdadeiros problemas. Têm prazo de validade, como podemos observar nas
relações entre o governo federal e os atuais aliados.
Obviamente,
a mídia gaúcha também contribuiu para a derrota ao estigmatizar a sigla
partidária. Entretanto, sua força é apenas relativa, bem menor do que em SP.
Alckmin, se tivesse governado o Rio Grande, já estaria morto e enterrado
politicamente, como Yeda Crusius.
A cidade
de São Paulo também criou a sua tradição, um tanto esquisita: o esquema dois por um. Para cada
administração progressista, seguem duas conservadoras - ou por reeleição
(Kassab) ou pela eleição do sucessor (Maluf-Pitta). Noutras palavras: a
esquerda não emplaca reeleição; mas a direita emplaca.
No primeiro mandato, prevalece a ilusão de um bom governo, criado com o auxílio das forças conservadoras que controlam a mídia e parte da sociedade. Mas, no segundo mandato, o desgaste é enorme, pois os conservadores não conseguem mais esconder o fiasco ao lidar com os problemas sociais da grande metrópole.
No primeiro mandato, prevalece a ilusão de um bom governo, criado com o auxílio das forças conservadoras que controlam a mídia e parte da sociedade. Mas, no segundo mandato, o desgaste é enorme, pois os conservadores não conseguem mais esconder o fiasco ao lidar com os problemas sociais da grande metrópole.
A julgar
apenas pela "tradição", Haddad parece que está em apuros. Pesquisa recente o coloca como o quarto colocado, atrás de nomes como Datena, Russomano
e Marta Suplicy. Entretanto, é prematuro arriscar um palpite, ou dizer que ele
já perdeu. Lembro que, em 2012, ele era
considerado um azarão e bateu José Serra no segundo turno. Acho possível ele
surpreender novamente. Basta ajustar a rota e ouvir um pouco mais a sociedade
paulistana.
Um
problema da atual administração petista é a obsessão de Haddad em regulamentar as vias públicas a um ano das
eleições. Tema desgastante, que tira o brilho de importantes conquistas, como
ciclovias e faixas de ônibus, e que poderia ser adiado para o início de um
próximo governo, por exemplo. E, convenhamos: esse é o tipo de ação que não tem nada de progressista, ou de socialista ou "de esquerda". Tanto que o PSD comemora a "continuidade do programa iniciado por Kassab".
Numa reeleição, acho importante avaliar objetivamente os riscos que oferecem certas decisões polêmicas, que grudam no governante e não saem nem com aguarrás.
Numa reeleição, acho importante avaliar objetivamente os riscos que oferecem certas decisões polêmicas, que grudam no governante e não saem nem com aguarrás.
Na Capital,
a coligação do PT com partidos conservadores em nome da governabilidade tem
forçado a administração a indicar subprefeitos apadrinhados por políticos
avessos à participação popular e acostumados a priorizar currais eleitorais em
detrimento de regiões carentes. Podemos medir o tamanho da encrenca ao observar
que o atual secretário das Subprefeituras é Luiz Antonio de Medeiros.
Dessa
forma, a periferia fica à mercê de vereadores que barganham o voto em troca de
melhorias. Há mais dificuldade para a aprovação de pequenas obras, que geralmente
são preteridas, pois o "cobertor é curto". Com o orçamento da região apertado,
só vingam reformas de interesse do chamado "vereador do bairro".
Nessas
situações, o PT costuma apostar em grandes projetos para permanecer no poder.
Foi assim em 2004 com Marta Suplicy, que jogou suas fichas na construção dos
CEUs e na implantação do bilhete único. Porém, a adoção das taxas de lixo e de
iluminação pública (ideias do tucano João Sayad, secretário de Finanças) foram
usadas pelos conservadores para criar o apelido "Martaxa", que a
perseguiu durante o seu mandato.
Na gestão
de Marta, a periferia também passou por dificuldades devido à falta de
agilidade de alguns subprefeitos em atender as demandas solicitadas. Ela começou
a perder a eleição aí. O problema foi tão grave que, no segundo turno,
aconteceram intervenções brancas em algumas subprefeituras que não funcionavam
a contento.
Já em
Porto Alegre, apesar do seu trânsito, que não perdoa o desavisado, o eleitor é
mais complacente com os prefeitos. O histórico de reeleições é extenso. O atual, Fortunatti, foi reeleito. O anterior,
Fogaça, também.
Já o PT
permaneceu à frente da Prefeitura durante 16 anos, período em que apresentou
uma novidade ao País: o Orçamento Participativo (OP), um dos poucos locais em
que foi implantado de fato e não para "inglês" ver. O sucesso também
se deveu à Frente Popular, coligação de partidos progressistas que se manteve
sólida por quatro eleições.
As
disputas internas, as desavenças entre partidos de esquerda e a estratégia dos
adversários de transformar o OP em patrimônio da cidade, tirando-o dos braços
do PT, fizeram o partido definhar politicamente na capital gaúcha (não é à toa
que a oposição tenta transformar o Bolsa Família em política de Estado.
Sinaliza aos seus beneficiários que o programa será mantido, independente dos
resultados eleitorais).
Entretanto,
apesar das atuais dificuldades do partido na Capital gaúcha, o "case" de
sucesso das administrações petistas em quatro mandatos pode servir de exemplo para que Haddad e o PT paulistano possam sonhar com futuras reeleições.
Voltando a
Sartori, acho que ele bateu um recorde. Seu governo se desmanchou com apenas
oito meses de mandato. Aliás, começou a derreter em plena campanha eleitoral,
ao fazer uma brincadeira com o piso dos professores (querem piso? Vá à
Tumelero. Lá tem piso bom). Pelo visto, não era apenas uma piada. Tratava-se de
projeto de governo. Aparentemente, ele não terá a menor possibilidade de se
eleger. Tudo indica que, em 2018, a tradição será mantida.
Só espero
que o Gringo, do PMDB, não desmanche também o Rio Grande do Sul, uma "saga"
iniciada por Antonio Britto, do mesmo partido, que privatizou serviços públicos
importantes. Na cartilha neoliberal do atual governador, constam privatizações,
aumento de taxas e impostos, elevação das tarifas de pedágio e até a cobrança de IPVA para
carros com mais de dez anos de uso.
Superdimensionar a crise econômica do Estado pode ser a estratégia para convencer a opinião pública sobre a necessidade de implantar um programa de desestatização que, antes de ser aplicada, deve ir a plebiscito, segundo lei estadual.
Superdimensionar a crise econômica do Estado pode ser a estratégia para convencer a opinião pública sobre a necessidade de implantar um programa de desestatização que, antes de ser aplicada, deve ir a plebiscito, segundo lei estadual.
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