terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A nave prefixo 2012

Prezados passageiros, a viagem está prestes a recomeçar. Não é preciso apertar os cintos ou reclinar os bancos - a menos que queiram, é óbvio. Também é dispensável gravar mentalmente as saídas de emergência, pois só existem em teoria.
O que seguem são apenas recomendações. Prá começo de conversa, mantenham-se acordados, pois o início do passeio costuma ser apoteótico! O espoucar dos fogos de artifício deixa o céu todo iluminado, coisa mais linda, podemos acompanhar a trajetória das rolhas de plástico das “champanhes” de sidra, abertas por grande parte de vocês para dar sorte em todo o tempo de trajeto.
Se possível, usem roupas brancas, símbolos da paz. Gastrônomos sugerem comer lentilhas. Umbandistas, pular sete ondas. Supersticiosos não ficam relaxados enquanto não assistir ao show do Roberto Carlos na Rede Globo de Televisão.
Pedimos desculpas antecipadas pelos possíveis – e derradeiros - solavancos do prefixo número 2011. Sabem como é, o espaço sideral já não é o mesmo desde que alguns deuses se transformaram em astronautas; a coisa ficou mais feia quando alguns astronautas viraram deuses e atulharam o espaço de quinquilharias cibernéticas, espalhadas pelo trajeto.
Sempre contamos a história da nave de prefixo 2004, para mostrar que nem tudo são flores ao longo do caminho: um dia depois do natal daquele mesmo ano, ela terminava sua viagem de forma rotineira, até que derrapou num satélite-espião, abandonado às pressas após o fim da guerra fria. A fumaça em excesso e os vapores estranhos emanados pela casa das máquinas atrapalharam a visão dos pilotos, e ficou impossível navegar por instrumentos. O sacolejo foi tão forte que chegou a deslocar algumas placas tectônicas.
Resultado: houve avarias num dos compartimentos, chamado Tailândia, que foi inundado por ondas gigantes, causando incontáveis baixas entre passageiros e tripulantes.
Mas fiquem tranquilos. Mais que isso: esperançosos. Esta companhia adotou um programa de gestão ambiental em seus procedimentos internos, procurando aumentar a segurança dos usuários com vistas a um futuro mais promissor. E, por via das dúvidas, espalhou galhinhos de arruda e fitinhas do Bonfim em todos os cantos do globo.
Há algumas décadas, mesmo sendo a única empresa do universo especializada em circunavegação ao redor do Sol, a “Planeta Terra Empreendimentos Espaciais” tem procurado fazer a sua lição de casa em relação à rotina interna - apesar dos ianques, que insistem em tomar conta do combustível; e dos chineses, que monopolizam o varejo na maioria dos compartimentos.
Mesmo assim, aguardamos com otimismo o dia em que receberemos a tão sonhada certificação ambiental ISO 14.000, acompanhada de uma graninha em dólar, paga pelo protocolo de Kyoto, proveniente da aprovação de projetos para reduzir as emissões de gás carbônico no ar.
Reconhecemos que temos problemas aparentemente insolúveis no interior da nave. Comida boa não é para todos, só para os que estão na primeira classe. Não há bancos reclináveis para a maioria. Muitos navegam sem cintos de segurança ou capacetes. Sofrem com epidemias variadas.
Em alguns lugares, mal chega o vento fresco, que dirá o ar condicionado. Tem sempre aquela “autoridade” que pega o trem andando e senta direto na janelinha. Sem falar dos que sonham implantar pedágios ao longo da “astrovia”, sob pretexto de que apenas a iniciativa privada sabe administrar bem o vácuo total.
Agora que entramos na reta final, que dá acesso aos boxes para novo abastecimento e troca de pneus, lembramos que, no ano que vem, acontecerá, para esta geração, a última sequência em que dias, meses e anos possuem o mesmo número, iniciada em 01/01/01. Vejam a coincidência: 12/12/12 cairá numa “quarta-feira”, palavra grafada com 12 caracteres, se contar o hífen (as aspas não, por favor!).
E mais: “dois mil e doze” tem doze letras, excluindo-se obviamente os espaços em branco (“dois mil e treze” tem treze letras, mas isso é outra história).
E sabem o que tudo isso significa? Hein? Rigorosamente...nada. Ou: todo o vácuo que nos separa do sol. “Planeta Terra” não acabará tão facilmente, pois é muito sólida no mercado. E, de mais a mais, a troca de prefixo é apenas uma convenção, uma demarcação necessária para tornar a vida mais organizada enquanto sociedade.
Conta muito o que aprendemos em geografia. A Terra gira em torno do sol numa velocidade estonteante, mas leva 365 dias e 6 horas para completar o percurso. Doze meses. Um ano. Às vezes bissexto, como em 2012. Trata-se de um verdadeiro carrossel ininterrupto, com a vantagem de também girar sobre o próprio eixo, para dar mais emoção (mas o ingresso é sempre cobrado, de alguma forma).
Só que esta mesma convenção, chamada de virada do ano novo, é a graça da vida. Um marco, um ponto de chegadas e partidas, uma data para fechar balanços e iniciar projetos. Programar-se para as quatro estações. Estabelecer resoluções. Portanto, sugerimos adotar as nossas recomendações, entrar no clima, encarar o futuro com muito otimismo e comemorar com o que puder – até com Sidra Cereser, com o perdão pela rima pobre. Enfim...
Feliz 2012 e boa translação para todos.
A nave vai zarpar...uhu!

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