segunda-feira, 14 de março de 2011

Triste coincidência

Quinta-feira, dia 10, por volta das 23 horas, comecei a assistir o mais recente filme de Clint Eastwood, Além da Vida. Não fui até o final. Fixei-me por mais tempo na sequência inicial, primorosa (e assombrosa) representação do tsunami que varreu o litoral da Tailândia e Indonésia, anos atrás, e chave para a história de uma jornalista que quase morre afogada e passa a encarar a vida de outra forma. Revi as cenas várias vezes.
Os efeitos especiais contribuiram para entender a agressividade daquele tsunami que vitimou mais de cem mil pessoas. No filme, há uma riqueza de detalhes: o mar que recua para formar a onda gigante, a invasão da areia pela água, a força do mar na destruição total do vilarejo...
Poucas horas depois, madrugada adentro, li na internet a notícia do terremoto no Japão e de sua principal consequência: um tsunami havia arrasado a costa japonesa. Desta vez, o fenômeno foi amplamente registrado por várias câmeras de TV. Sem efeitos especiais. Sem truques no estúdio.
No filme de Clint, numa tomada aérea, as pessoas parecem formigas, tragadas impiedosamente pelo mar. Nas imagens do Japão, casas, carros, conteineres, barcos e até uma usina atômica - produtos desenvolvidos pela genialidade humana e altamente valorizados como mercadorias - são arrastados ao gosto da maré extraordinária como se fossem brinquedos. Corpos não aparecem, mas a contagem dos mortos chega aos milhares.
Talvez não seja o momento para filosofar sobre a condição humana, sua eterna aspiração à imortalidade e o espírito capitalista presente na ocupação de todos os espaços que a terra oferece. Mas que, aos olhos da natureza, não passamos de formigas, disso precisamos nos convencer.

Cena de Além da Vida. Aos olhos da natureza, somos formigas...



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